segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A VIDA DO OBREIRO: exegese de 1Tm 4.12

A VIDA DO OBREIRO:
exegese de 1Tm 4.12

TEXTO BÁSICO:

mas sê um exemplo para os fiéis na palavra, no procedimento, no amor, [no espírito] na fé, na pureza. (1Tm 4.12)

Exegese do texto:


A) Análise do substantivo exemplo ou padrão
A palavra τυπος no original grego significa modelo, tipo, padrão, protótipo, isto é, há um molde ou uma forma que é passível de ser copiada. Um modelo a ser copiado ou imitado.
A tradução grega do AT hebraico utiliza esse vocábulo grego no texto de Ex 25.40: “Atenta, pois, que os faças conforme o seu modelo, que te foi mostrado no monte”. Esse texto deixa bem claro que havia um modelo do tabernáculo que deveria ser copiado por Moisés.

O apóstolo aplica essa expressão a Timóteo, de modo que ele deve ser um modelo a ser copiado, um exemplo a ser seguido.
Segundo o apóstolo Paulo, não basta que o obreiro tenha uma boa eloqüência, seja usado nos dons do Espírito, ele precisa ter uma vida que inspire o rebanho do Senhor Jesus.

B) Análise do verbo tornar
O apóstolo Paulo expõe uma ordem a seu filho na fé, Timóteo. O verbo “ser” ou tornar” está no modo imperativo médio ou passivo, e refere-se a uma ordem, a qual deve ser realizada no seu interesse próprio.

1) Uma ordem que deve ser realizada constantemente por Timóteo em seu próprio benefício.
Seja para si, torna-te, torne para si.
a) uma ordem
O conhecido jovem Pastor recebeu uma ordem. Não se trata de uma opção para Timóteo, de forma que não teria nenhuma escolha senão acatá-la!

b) realizada em seu próprio benefício
E tal ação deveria ser realizada pelo próprio Timóteo em seu próprio benefício. Uma ação voltada para si, sua vida, seu próprio coração. Timóteo deveria agir voltado para si. Ele deveria se tornar, ou ser. A ordem foi direcionada a ele, de forma que caberia a ele agir visando a si próprio. Assim a ordem não era para outra pessoa, e o alvo da ação era o próprio Timóteo.

c) constantemente
Uma vez que o verbo está no imperativo e no tempo presente, Timóteo recebe uma ordem que deve ser constantemente cumprida, ou seja, não ser refere a um único ato isolado. Pelo contrário, caberia a Timóteo ser constantemente, em todo seu ministério, durante toda sua vida. Não poderia esquecer dessa palavra.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Como agir diante dos irmãos (1Ts 5.14)

Como agir diante dos irmãos “Exortamos vocês, irmãos, a que advirtam os ociosos, confortem os desanimados, auxiliem os fracos, sejam pacientes para com todos.” 1 Ts 5.14 *advirtam os ociosos >> νουθετεῖτε τοὺς ἀτάκτους O verbo grego νουθετεῖτε traduzido por advertir ou admoestar tem o sentido literal de colocar na mente, ou seja, descreve a influência exercida sobre a mente . E tem a conotação de aconselhamento espiritual. De acordo com a palavra seguinte, o verbo significa conselho e advertência dirigida aos desordeiros. O significado da palavra grega ἀτάκτους é: que se desvia das ordens ou das regras, desordenado, insubmisso (ARA). Era um termo usado para soldados que não estavam alinhados nas marchas, ou para um exército fora de rumo, desordenado. A NVI interpreta a palavra ao traduzir por ocioso, uma vez que entende que os desordeiros (ARC) na verdade eram aqueles que não queriam trabalhar pois achavam que o trabalho era inútil diante da iminente volta do Senhor. *confortem os desanimados >> παραμυθεῖσθε τοὺς ὀλιγοψύχους O verbo παραμυθεῖσθε traduzido por confortar ou consolar expressa a idéia de proferir palavras para alguém de modo positivo e benevolente, como um pai ou uma mãe que anima carinhosamente seu amado filho . A propósito, com essa consolação Paulo encorajava a igreja de Tessalônica (1 Tess 2.11). E é dessa forma que Paulo exorta os crentes a fazerem com os irmãos desanimados (ὀλιγοψύχους), de pouco ânimo, abatidos. “O encorajamento é uma expressão de amor” , e que deve ser feito não somente pelo pastor da igreja mas por todos irmãos, sendo responsabilidade de toda igreja. Assim sendo, se alguém se furtar a encorajar estará desobedecendo ao Senhor, e será cobrado por isso. *auxiliem os fracos >> ἀντέχεσθε τῶν ἀσθενῶν O verbo ἀντέχεσθε traduzido por amparar ou auxiliar tem vários significados, a saber, apegar-se ou estar ligado a alguém . Com a palavra seguinte, ἀσθενῶν, que significa sem forças, doente, moral ou espiritual, o verbo descreve a união de alguém a outrem com vistas a prestar cuidadosa atenção . *sejam pacientes para com todos >> μακροθυμεῖτε πρὸς πάντας Literalmente a palavra significa “ânimo longo” ou longanimidade. E também é traduzida por paciência. Paulo falou que “o amor é paciente” (1Cor 13.4). Crisóstomo definiu a palavra paciência “como o espírito que poderia se vingar, se assim quisesse, mas que se recusa a agir totalmente dessa forma. Lightfoot a explicou como o espírito que nunca pagará com a mesma moeda” . A paciência tem esta característica: não se ira como os ímpios que se irritam facilmente e fazem loucuras (Pv 14.17; Ec 7.9; 11.10), pelo contrário, a irritação do paciente não o faz pecar (Ef 4.26), pois entrega tudo a Deus (Sl 55.22). A propósito do Salmo 55, o contexto denota que o salmista clamava a Deus para que o livrasse dos seus adversários. Nisto consiste a ira do cristão, ele roga a Deus que o livre de seus inimigos.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Seu filho vai à escola? Não temas!

As aulas começarão, e muitos pais ao levarem seus filhos à escola, ficarão preocupados com o ambiente escolar, o receio de que seus filhos estejam em contato com alunos mal comportados, influenciando-os negativamente. Eu tenho dois filhos que estudam numa escola de confissão religiosa e não deixo de observar a conduta deles. Mesmo assim, tenho de corrigi-los acerca de alguns comportamentos impertinentes aprendidos com coleguinhas. Seja qual escola seu filho estudar, ele enfrentará dificuldades com exemplos negativos de colegas. A Bíblia fala no livro de 1 Samuel que o menino Samuel, quando criança, foi entregue aos cidados de um sacerdote de Deus. Esse sacerdote não era um excelente educador, pai e religioso. Seus filhos não se comportavam bem.  Mas há um detalhe interessante: Ana entregou seu filho ao Senhor e não ao homem. E o Senhor Deus cuidou de seu filho, que veio a tornar-se num grande homem de Deus. Não tenha medo do ambiente escolar. Entregue seu filho ao Senhor, porque maior é aquele que está em seu filho do que o que está na escola. Seu filho será do Senhor! Uma boa educação é pertinente, mas ser eleito em Cristo Jesus é determinante.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Últimas palavras inspiradas antes da morte

“Quanto a mim , estou sendo já oferecido por libação , e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate , completei a carreira , guardei a fé . Já agora a coroa da justiça me está guardada , a qual o Senhor , reto juiz , me dará naquele Dia; e não somente a mim , mas também a todos quantos amam a sua vinda.” (2Tm 4.2-8)


As palavras acima são de despedida; registrada pelo apóstolo Paulo em sua última carta bíblica. Aliás, algumas bíblias trazem o seguinte titulo: “O apóstolo prevê o seu martírio”.

Paulo tinha convicção de que chegava sua hora: a morte; não somente a hora da morte, mas, principalmente, a hora da recompensa. Sua convicção baseava se em sua fé genuína, sua vida cristã, sua perseverança.

Paulo combateu o bom combate, completou a carreira e guardou a fé.

Os verbos usados pelo Apóstolo expressam uma ação contínua no passado com efeitos no presente. Esse tempo verbal no grego chama-se perfeito e não há um correspondente direto na língua portuguesa, de modo que o tradutor deve em alguns casos lançar mão de tempos compostos, com o uso do verbo ter mais o particípio (tenho combatido, tenho completado, tenho guardado).

Esses verbos usados por Paulo não indicam uma ação isolada, ou de ultima hora, como se no finalzinho de sua vida ele tivesse combatido o bom combate, completado a carreira e guardado a fé. Pelo contrário, revelam que ele tinha e estava mantendo essa conduta no decorrer de sua vida cristã, durante sua caminhada com Cristo Jesus.

Conforme mencionado, os verbos gregos foram conjugados por Paulo no tempo perfeito, que traz este sentido: ação no passado com efeitos no presente. O uso desse tempo foi proposital, justamente para expressar sua conduta desde a conversão de Paulo no caminho de Damasco até os últimos dias de sua vida.

Seu combate não foi único, mas envolveu uma série de lutas. Nessas lutas, ele não agredia, mas fugia dos inimigos, escondido num cesto, suportava as dores físicas decorrentes de apedrejamentos, açoites, prisões. Não bastasse esses combates físicos, ele ainda era afligido pelo próprio Satanás. Ainda assim, combatia em oração.

Sua corrida não consistiu numa única caminhada ou maratona, mas numa longa jornada pelo mundo afora, pregando o evangelho do Senhor Jesus Cristo. Como outros personagens bíblicos do Antigo Testamento, tais como Enoque, Noé, Abraão, Davi, Elias, o Apóstolo Paulo andou continuamente com Deus, sem desviar para a direita, nem para a esquerda, mas seguindo para o alvo: Jesus Cristo.

Seu cuidado com a fé não foi circunstancial ou ocasional, adstrito aos momentos de tribulação, doença, tristeza. Pelo contrário, o Apóstolo mantinha sua fé no Senhor Jesus Cristo tanto nos momentos de fartura como nos de escassez, tanto na alegria, como nas angústias. Enfim, tinha fé incondicional no Senhor.

Esse constante combate, essa perseverante caminhada, e essa contínua fé, renderam a Paulo a convicção e certeza de que a morte não teria poder algum sobre sua vida, de modo que ele tinha plena certeza de que habitaria com o Senhor. E mais, o próprio Senhor estava mostrando a Paulo que sua partida estava próxima, e que havia para ele uma grande recompensa.

Você gostaria de ter esta mesma certeza e convicção: quando morrer estará com o Senhor, será recompensado?

Siga o exemplo de Paulo. Essa promessa não é privilégio do Apóstolo. Ele mesmo declarou que aqueles que amam a vinda do Senhor também receberão a mesma recompensa.

Não adianta ter combatido alguns bons combates no passado e agora não ter forças para lutar; a caminhada com Cristo deve ser completada, não basta ter percorrido longas jornadas, e agora estar inerte; não basta ter crido por alguns momentos, e agora não ter mais fé no Senhor e em sua Palavra, a fé deve ser bem guardada como fiel depositário.

A atitude de Paulo trouxe-lhe plena convicção de que estaria com o Senhor. Todo aquele que também anseia pela vinda do Senhor e tem essa vida cristã perseverante e fiel poderá desfrutar dessa segurança. Nos últimos dias de vida que antecederem a morte, poderemos ter a certeza de que viveremos eternamente com Cristo.

Portanto o combate iniciado quando da conversão deve ser mantido. A caminhada no Espírito Santo deve ser completada, e fé em cristo deve ser guardada, durante toda a vida, para que jamais percamos essa preciosa convicção.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

O livre-arbítrio não existe

"O livre-arbítrio não existe. O papel que o cérebro desempenha em nossas escolhas e ações é diferente do que acreditávamos. E, ao contrário do que imaginamos, não estamos no comando. Isso é o que dizem neurocientistas como Michael Gazzaniga, autor do livro Who's in Charge - Free Will and the Science of the Brain (ainda em edição no Brasil). Reportagem no site de VEJA mostra como as novas ferramentas de exploração do cérebro modificam o debate sobre o livre-arbítrio, de antigas raízes na filosofia e na teologia." (Revista Veja, edição 2258, ano 45, nº 9 de 29-02-2012).

Até a ciência está reconhecendo o que as Escrituras ensinam: somos servos, ou de Deus, ou do pecado (Rm 6.16).

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Nome do Senhor (YHWH)

CARTA SOBRE O TETRAGRAMA A UMA TESTEMUNHA DE JEOVÁ


São José dos Campos, 1 de abril de 2011.


Dulce, Paz e saúde!


Eu li aquela revista Sentinela que versa sobre o nome de Deus. Gostaria de tecer breves ponderações acerca daquela matéria. Concordo que Deus tem um nome específico e mui sagrado pelo qual se revelou ao povo de Israel. A propósito, o terceiro mandamento dos dez mandamentos era: “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão porque o Senhor Deus não terá por inocente quem tomar o seu nome em vão” (Ex 20.7).

O nome sagrado de Deus no AT era יהוה , cuja transliteração é YHWH, conhecido como o tetragrama. Deus revelou esse nome a Moisés naquele episódio da sarça ardente, conquanto esse nome já tivesse sido utilizado em passagens anteriores (Gn 12.8 e 15.2), mas somente mais tarde o sentido desse nome foi revelado (Ex 6.3).

Observe que o nome já era conhecido, todavia, o sentido do nome ainda não tinha sido revelado. Em Ex 3, o anjo do Senhor apareceu a Moisés em uma chama de fogo do meio duma sarça ardente. Havia fogo na sarça, contudo a sarça não se queimava. Tal visão miraculosa chamou a atenção de Moisés, principalmente pelo fato de que o fogo não consumia a sarça. Inicialmente Deus se revela a Moisés como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, ascendentes de Moisés, chamados de patriarcas. O Senhor afirmou que a promessa feita aos ascendentes de Moisés se cumpriria.

Essa promessa consistia em dar uma terra boa que mana leite e mel aos descendentes dos patriarcas. E Moisés recebeu a incumbência de dar cabo a essa missão, de sorte que deveria ir até Faraó e tirar o povo do Egito. Então, Moisés faz a primeira pergunta a Deus: “quem sou eu para ir a Faraó e tirar os filhos de Israel do Egito?” Essa primeira pergunta de Moisés denota sua preocupação com Faraó e o Egito. Quem seria ele para enfrentar o poderoso Faraó e libertar o povo de Israel daquela poderosa nação, a maior potência do mundo, sendo talvez igualada apenas pelos hititas. Deus simplesmente responde que Ele irá com Moisés. A presença de Deus é o suficiente para eliminar qualquer sentimento de impotência ou inaptidão. A presença de Deus basta e deve por fim a qualquer dúvida de Moisés. A segunda pergunta de Moisés a Deus é: “Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: qual é o seu nome? Que lhes direi?”

A primeira pergunta referia-se ao próprio Moisés. Que era Moisés, e sua preocupação era com Faraó e o Egito. Agora sua pergunta é direcionada ao próprio Deus. Qual é o nome desse Deus? E a preocupação de Moisés é com os filhos de Israel. Moisés estava com receio de que o povo colocasse em xeque aquela incumbência recebida de Deus. Quem era esse Deus que comissionou a Moisés? Qual era o seu nome? Moisés queria uma mensagem nova, uma revelação maior, mais esclarecimentos, mais conhecimento acerca do Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Aos patriarcas, o próprio Deus havia falado que era o Deus deles e feito promessas por meio de aliança. A Moisés, contudo, não havia ainda nenhuma revelação, de modo que ele era apenas o beneficiário das promessas, ou seja, não era parte de uma aliança ou nova promessa. Assim sendo, o diálogo revela que Moisés queria saber muito mais que o mero e literal nome do Senhor. Moisés queria uma revelação especial e exclusiva que os patriarcas não tiveram, de modo que essa revelação o autorizaria e dar-lhe-ia autoridade para falar em nome desse Deus. Porque mais de 400 anos já se passaram sem que nenhuma outra pessoa avocasse alguma revelação semelhante à dos patriarcas. A pergunta de Moisés pelo nome de Deus mostra que ele queria ter mais intimidade com o Senhor, e que essa intimidade autenticaria sua mensagem.

E realmente conhecer o nome de Deus daria a Moisés um conhecimento novo e singular do Senhor, que ninguém anteriormente tinha, de modo que esse conhecimento novo habilitaria Moisés a agir e falar em nome do Senhor. Jacó já havia perguntado ao anjo do Senhor ou ao próprio Deus o nome dele no vau de Jaboque. Mas recebeu a bênção e não a resposta. A resposta de Deus a Moisés concederia um privilégio que Jacó não teve. E Deus concede a Moisés um pouco mais de revelação acerca de sua pessoa. A resposta de Deus não é: “o meu nome é...”. Porquanto Moisés não queria saber o nome literal de Deus. Temos de ler essa passagem tendo em mente e atentando para o significado desse diálogo para aquela época. A pergunta “qual é o seu nome” feita no século XV a.C não é a mesma do século XX d.C.

Naquela época conhecer o nome de alguém não consistia saber apenas a alcunha, cognome ou patronímico pelo qual alguém é chamado e conhecido perante a sociedade. Significava conhecer o caráter, o mister, o contexto familiar, social ou religioso de alguém. Ou seja, o nome revelava algo sobre a pessoa, e não era usado apenas para se referir a alguém. Prova disso era que frequentemente alguém mudava de nome em função da mudança de alguma situação relevante. Poderia citar inúmeros exemplos agora para serem posteriormente analisados: Abrão e Abraão, Jacó e Israel, Moisés, Gideão e Jerubaal, Jesus Cristo e Emanuel, etc.

Dessa forma, a resposta de Deus é: “Eu sou o que sou”. E Depois acrescenta: “Assim dirás aos filhos de Israel: Eu sou me enviou a vós”. A primeira parte da resposta de Deus em hebraico é אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה , cuja transliteração é ‘eheye asher ‘eheye. Essa assertiva pode ser traduzida assim: Eu sou o que sou; Eu serei o que serei; Eu estou presente é o que eu sou. O hebraico é semelhante ao inglês em que a expressão I am tanto pode ser traduzida como Eu sou ou Eu estou. Nessa primeira parte Deus mostra sua auto-suficiência, independência plena, auto-existência, com também revela sua presença n meio de seu povo. Uma resposta conclusiva acerca da eternidade, divindade, e imutabilidade de Deus, bem como de sua imanência e envolvimento com seu povo. Antes dele ser adorado por alguém ou associado a alguém, ele declara sua existência independente de qualquer pessoa. Ele declara sua origem eterna. Ele não é de ninguém, como os deuses egípcios e pagãos eram possuídos. Ele não nasceu de ninguém, como os deuses pagãos nasciam. Ele não está ausente ou distante do povo. Ele não abandonou o povo. Enfim, Ele É o que É, ou Ele é e está! A segunda parte da resposta de Deus a Moisés afirma que esse Deus, revelado de forma original e exclusiva a Moisés, o Eu Sou, enviou a Moisés, e que ele deveria dizer somente isto: O Eu Sou me enviou a vós. Era o suficiente, e bastava. Essa nova revelação acerca de Deus realmente qualificou Moisés para transmitir um conhecimento maior acerca do caráter desse Deus. Moisés recebeu a Lei do Senhor, que mostrava toda santidade, pureza, justiça, e retidão desse Deus.

Com vistas a relembrar todo esse peso revelacional, esse conhecimento novo e glorioso acerca do Senhor, Deus inclui uma nova forma de se referir a Ele. Surge então a expressão: אֶהְיֶה , que é traduzido por Eu sou. Observe que essa expressão ainda está associada com os patriarcas. De modo que YHWH era o mesmo Deus dos pais de Moisés, Abraão, Isaque e Jacó. De modo que, mesmo não havendo conhecimento do conteúdo revelacional inerente a esse nome, já havia menção desse nome na era patriarcal. Portanto, constatamos que esse nome do Senhor tem um vínculo estreito com as alianças estabelecidas com os patriarcas e com Moisés. No tocante à pronúncia desse novo nome, não é possível determinar com precisão qual é. É consabido que o hebraico possuía somente consoantes, e que a vocalização fazia parte da tradição. O povo de Israel perdeu a pronúncia correta, por excessivo temor de pronunciar o sagrado nome do Senhor em vão. No entanto, os judeus sempre primaram pela leitura pública e em voz alta das Escrituras. E agora, como ler e pronunciar o nome do Senhor? À medida que a pronúncia se perdia, o nome do Senhor era substituído pelo hebraico Adonai, que significa Senhor. Por sua vez, os massoretas, um grupo de escribas judeus, objetivando preservar a leitura da Bíblia Hebraica, resolveram criar vogais em forma de pontinhos e tracinhos sobrescritos e subscritos entre as consoantes a fim de que a leitura não fosse afetada, porquanto havia o risco de se esquecer a maneira de pronunciar as palavras hebraicas, o que obliteraria a leitura pública e em voz alta do texto hebraico. Ao lerem o nome de Deus, os judeus falavam em voz alta a palavra Adonai. Assim, os massoretas incluíram as vogais da palavra hebraica Adonai no nome de Deus, de modo que o leitor lembrasse que deveria pronunciar Adonai. Os tradutores das Escrituras Sagradas Hebraicas seguiram essa tradição, de sorte que traduziam o tetragrama por Senhor (e.g. LXX usou Kyrious, e a Vulgata Dominus). Entretanto, tradutores desavisados não seguiram as regras dos massoretas e leram as vogais junto com as consoantes do nome do Senhor, o que culminou na pronúncia equivocada do YHWH como Jeová.

Essa pronúncia, por conseguinte, decorreu de um equívoco de tradução. Aparece pela primeira vez em 1901 na ASV (american standar version). Antes disso não havia essa pronúncia equivocada. Jerônimo, o tradutor da Vulgata, não inclui a transliteração do nome em sua tradução, mas menciona-o em um de seus escritos, sem, contudo, a vocalização do nome. Apenas menciona que o nome do Senhor é Jah, e o tetragrama é JHVH.

Outro fator que corrobora isso é a inexistência absoluta da palavra Jeová no NT. A propósito, o NT não menciona uma única vez o nome de Deus. Não é crível, plausível e admissível que tenha havido corrupção nos manuscritos, uma vez que são mais de 5000! E nenhunzinho traz a expressão, quer transliterada, quer vocalizada! Pelo contrário, o texto grego substituiu o nome hebraico de Deus pela expressão grega Senhor equivalente ao Adonai em hebraico. A tese de que houve corrupção nos manuscritos gregos é infundada, pueril, e ainda abre um perigosíssimo precedente, qual seja, se houve corrupção nesse item, quem garantirá que não houve em outro? Se abrir a porteira, a boiada passará...

Por que Deus permitiu isso?

O Senhor Deus de Abraão, Isaque e Jacó, agora se revelou de uma maneira especialíssima, inigualável, singular: Pai, o Pai de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. O Senhor Jesus Cristo ensinou-nos a chamar a Deus de Pai e não de YHWH. As cartas apostólicas, principalmente as introduções paulinas, introduzem essa nova revelação de Deus como Pai. Portanto, agora chamamos a Deus de Pai. Como infantes que não sabem o nome completo de seu pai, mas sabem clamar papai, nós clamamos Aba Pai. O Espírito Santo que habita em nós ensina-nos a chamá-lo Aba Pai. Na nova aliança há uma maneira mais íntima e próxima de se referir a Deus. Quando Jesus Cristo voltar saberemos como era pronunciado esse nome, e Ap 3.12 e 19.12 podem aludir a isso. Como Deus ocultou a arca da Aliança para trazê-la novamente, o nome de Deus será redescoberto na próxima vinda de Cristo. Hoje basta-nos chamar-lhe de Pai nosso que está nos céus...


Saudações.


Tales Alves Paranahiba

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Teologia Bíblica de Isaías

Síntese do capítulo escrito por Paul House
A posição do livro segundo a Bíblia Hebraica tem relevância teológica. Sendo o primeiro dos profetas anteriores, Isaías analisa a dádiva e a quebra da aliança, refletindo os conceitos esposados na Lei e nos profetas anteriores, de modo que os profetas anteriores preparam o palco para os posteriores.
O livro de Isaías destaca os seguintes assuntos: a santidade de Deus e o futuro Salvador davídico. A propósito, esse capítulo é intitulado de “O Deus Salvador”, visto que a “a salvação seja o derradeiro objetivo de Deus em Isaías” (p. 350).
A teologia de Isaías segue esta estrutura:

1) O Deus que condena e chama (Is 1-12)
O juízo de Deus é proclamado com toda veemência, ao passo que a salvação do Senhor não é menos enfatizada. Isaías transita entre o juízo e salvação, a desolação e a esperança, o reinado ímpio e incrédulo do rei e seus súditos e o reinado justo e fiel do novo rei davídico e seu remanescente.
O remanescente contrapõe-se ao Israel rebelde. Aliás, esse remanescente abrangerá outras nações.
Isaías vaticina acerca de um futuro muito distante, jamais enfatizado outrora. E combina as esperanças futuras com o presente caótico, conclamando o povo ao arrependimento, a fim de que, baseado nas promessas passadas, haja um futuro próximo melhor.

2) O Deus que elimina nações orgulhosas (Is 13-27)
Haja vista a arrogância das nações, entre as quais destacam-se dois impérios mundialmente conhecidos, Assíria e Babilônia, o Senhor julgará as nações, de modo que purificará a terra, a fim de que remanescentes dessas nações façam parte da nova criação de Deus.
O castigo das nações aponta para o juízo final descritos em Is 24-27.

3) O Deus que firma o remanescente (Is 28-39)O rei Acaz não creu na mensagem de Isaías; um rei anônimo creu na ajuda egípcia; no entanto Ezequias creu no poder do Senhor, e recebeu grande livramento da poderosa Assíria.
O remanescente será preservado, de modo que o novo Rei proporcionará uma futura libertação. O livramento concedido a Ezequias tipifica o glorioso livramento final. Novamente Isaías transita entre o presente e o futuro.

4) O Deus que salva por meio de um servo sofredor (Is 40-55)
Essa seção é o zênite da teologia de Isaías, pelo que ressalta a fé monoteísta e apresenta um servo iluminado e santo com características messiânicas, ou seja, o próprio Jesus Cristo, que redimirá outro servo, qual seja, a nação de Israel, cega e pecadora. Portanto, “não é necessário ler Isaías 40-55 apenas como uma obra exílica ou como uma profecia totalmente preditiva” (p. 363).
A salvação decorre inteiramente da soberania de Deus e do ministério do servo. De modo que, as alianças com Abraão, Moisés e Davi são concretizadas plenamente: Israel tornar-se-á uma bênção para todas as nações, gentios farão parte do povo eleito do Senhor, o remanescente obedecerá fielmente o Senhor e habitará na terra prometida, e um novo Rei perfeito e justo governará o povo de Deus eternamente.
Uma vez que Deus revela que Ciro será usado para beneficiar Israel, Ele é o Senhor da história, dirigindo-a em prol de seu povo. A nação de Israel, por sua vez, é impelida a crer somente em Deus e não virar-se para qualquer ídolo, cujo poder é inócuo e conhecimento é nulo.

5) O Deus que cria novos céus e nova terra (Is 56-66)
Na seção anterior (40-55), Deus é apresentado como criador, ao passo que nessa seção o Criador é autor da nova criação. Um novo Éden será inaugurado: livre de pranto, pecado e morte. Entretanto, os ímpios e seus pecados serão julgados e banidos para sempre da nova criação, ao passo que o remanescente de Israel e dos gentios habitarão eternamente junto com o grande Rei.
O servo-messias, identificado no NT como o Senhor Jesus Cristo, terá participação ativa nessa nova criação.

6) Isaías e o cânon
A presença de Isaías no cânon – sendo o primeiro profeta posterior – tem relevância teológica, de modo que 2Re 18-20 serve como introdução do livro de Isaías, e este livro introduz os demais profetas. “Muitos dos profetas ou refletem acerca da obra de Isaías ou possuem um ponto de vista parecido sobre que assuntos a profecia deve incluir” (p. 379).
Todas as alianças são mencionas. E quando a aliança davídica se cumprir, as demais se concretizarão.
"O Éden será restaurado, nações serão abençoadas, pecados serão perdoados, a lei será cumprida, e Davi terá um trono eterno quando o Rei, servo e operador de cura ungido (61.1-3) ministrar ao remanescente, que habitará os novos e a nova terra." (p. 378)