quinta-feira, 24 de junho de 2010

Elias e a viúva de Sarepta

Elias e a viúva de Sarepta

No século IX a.C o profeta Elias surge como um anônimo, sem lastro familiar, social e político. Não há menção a seus ascendentes, o que não é comum em Israel. É um tisbita, natural de Tisbé, cidade inexpressiva e desconhecida atualmente localizada na região da Transjordânia, que pertencia à região de Gileade situada entre as tribos da Transjordânia – Rúbem, Manassés e Gade.
A nação de Israel – composta por dez tribos do Norte – atravessava um período de prosperidade e crescimento econômico. Onri (880-873 a.C), pai de Acabe, fundou Samaria como capital do reino do Norte. Livrou a nação da instabilidade política marcada por conspirações, chacinas e suicídio. Em menos de três anos houve dois reis (Elá e Zinri) e uma divisão interna em que parte de Israel era governado por Onri e outra parte por Tibni.
Há relevantes fontes extra-bíblicas que, além de corroborar a veracidade histórica do reinado de Onri, certificam que seu governo teve repercussões internacionais. Descobertas arqueológicas impingem que Onri foi um rei bem-sucedido, cuja fama reverberou na Mesopotâmia. Uma inscrição gravada na Pedra Moabita (c. 830 a.C) registra que “Onri era rei de Israel e oprimiu Moabe por muitos dias”. Mais tarde, inscrições assírias datadas de mais de cem anos após a morte de Onri mencionam-no. Por exemplo, quando Jeú pagou tributo ao rei Samaneser III (859-824 a.C), sendo tal fato gravado no Obelisco Negro, há o seguinte registro: “Jeú, filho de Onri”.
Por outro vértice, enquanto Onri era o ícone internacional de Israel, também não deixava de ser o novo ícone da idolatria, sobrepujando o precursor do culto idólatra, a saber, Jeroboão, que criou uma nova religião e construiu imagens e altares dedicados ao culto idólatra e sincretista (1Re 16.25; 12.26-33).
Assim sendo, não obstante a prosperidade econômica e política, Israel continuava atolada no lamaçal da idolatria, de forma que o estado espiritual da nação era miserável, abominável e deplorável. Os adoradores do Deus invisível e glorioso que não havia se revelado em figura ou forma alguma (Dt 4.15-20) tornaram-se resoluta e acintosamente adoradores de bezerros e imagens humanas esdrúxulas!
Acabe (873-853 a.C), o filho de Onri, sucedeu seu pai, e “fez muito mais para irritar ao Senhor Deus de Israel, de todos os reis de Israel que foram antes dele” (16.33). A começar por seu casamento, contraiu núpcias com uma mulher estrangeira e idólatra, a famigerada Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios, com vistas a estreitar os laços com os fenícios. Por conseguinte, Acabe tornou-se adorador devoto de Baal, o deus cananita.
Há uma imagem que retrata Baal com um machado e um raio na mão. Outra escultura mostra-o com uma espada e escudo. As imagens de Baal mostram-no como um homem guerreiro, controlador do tempo, contudo, tem uma feição medonha, asquerosa e macabra.
Baal, cujo significado é senhor, possuidor ou marido, é o grande deus dos cananeus relacionado à fertilidade e à chuva. Sua esposa era Astarote. Aserá era consorte de El, o deus-mor do panteão cananeu, sendo intitulada “a senhora que anda sobre o mar” e “usufrui o título de qaniyatu elima “progenitora (ou criadora) dos deuses. O seu filho mais famoso era Baal” .
Os cultos cananeus eram caracterizados pela ubiqüidade dos altos e promiscuidade. Os outeiros eram os locais apropriados para a adoração. Cada outeiro poderia se tornar num local de adoração a Baal. Nos cultos havia muita orgia. Era uma forma de representar o relacionamento sexual dos deuses, com o objetivo de alcançar a fertilidade da terra e das criações.
Nesse contexto tenebroso, miserável e abominável aos olhos do nosso Senhor, surge o profeta Elias, cuja primeira atividade profética consistira em predizer uma forte seca. Essa profecia já denotava que seu ministério consistiria em se opor à idolatria e ao baalismo, que era a religião oficial de Israel, e, como o próprio nome diz, cujo principal ídolo era Baal, tendo como devotos o rei Acabe e sua esposa Jezabel. Porquanto, a seca além de castigar o povo de Israel em conformidade com as maldições elencadas em Dt 28.23,24, visava atacar o próprio Baal, que era reputado como controlador do tempo e deus da fertilidade.
Assim sendo, o início do ministério de Elias revela seu precípuo mister consistente em desafiar e derrotar Baal e seus adoradores. Não era uma tarefa fácil, pelo contrário, sua vida corria perigo, seu cargo estava em extinção, pelo que Jezabel havia destruído os profetas do Senhor. Para manterem-se vivos, os profetas do Senhor tinham de esconderem-se. Por exemplo, Obadias, mordomo de Acabe, escondeu cem profetas do Senhor, sustentando-os com pão e água.
Com efeito, o zênite do ministério de Elias é a clássica luta contra os profetas de Baal (18.17-40). Para chegar lá Elias deveria ser preparado por Deus. Enfrentar a idolatria, o próprio rei Acabe e a sanguinária e adoradora de Baal Jezabel demandariam assaz preparo.
Após a intensificação da seca que culminou com o desaparecimento do ribeiro onde Elias era alimentado miraculosamente pelo Senhor, Deus manda novamente Elias ir a Sarepta, onde lhe seria proporcionado experiências significativas com o Senhor, que capacitá-lo-ia para o grande confronto.
Elias recebera duas ordens inexoráveis e desafiadoras (17.3,9) que manifestavam o controle absoluto e soberano do Senhor. Na primeira, Deus ordenou aos corvos que sustentassem-no. Na segunda, Deus ordenou uma viúva que sustentassem-no. Em ambas, Deus mandou Elias ir a lugares reservados: ribeiro junto ao Jordão e casa de uma viúva em uma cidade sem muita expressão.
Essas duas ordens conexas demandaram muita fé e confiança de Elias. À medida que Elias agisse segundo a palavra do Senhor, Deus cumpria sua promessa, sustentando-o .
O sustento de Elias pelos corvos já era uma demonstração clara e inequívoca de que o Senhor sustentaria Elias. A imunda Jezabel sustentava os profetas de Baal, sendo pior que os imundos corvos (Lv 11.15), pois estes, embora fossem imundos, eram mais nobres que aquela, pois sustentavam um profeta de Deus. É como se Deus dissesse-lhe: “Elias, seu ministério é árduo, sua função está em extinção, perante os homens você não conseguirá cumprir essa nobre missão. Todavia, eu, o Senhor seu Deus, perante cuja face você está, te sustento e te guardo. O teu sustento vem de mim e não de homens. Por isso, não temas, fala e não te cales!”
Ainda assim, Elias necessitava de mais experiências com o Senhor a fim de consolidar sua fé e prepará-lo para o grande desafio contra os profetas de Baal. De forma que estas serão gozadas em Sarepta.
Sarepta era uma cidade fenícia, que pertencia a Sidom, distando cerca de 13 km dessa famosa cidade, ficava numa região que era considerada localidade de Baal. A propósito, Jezabel era de Sidom.
A ida a Sarepta era uma prova de fé. Elias teria de caminhar cerca de 160 km. Outrossim, a fome assolava aquela região. A propósito, Flávio Josefo cita que a fome levou o rei de Tiro a estabelecer que se fizesse orações . Viúvas geralmente precisavam ser sustentadas (Dt 14.28,29; 24.19-22), de forma que dificilmente teriam condições de sustentar a si e seus órfãos, muito menos conseguiriam sustentar outros.
Mas Elias não hesitou. Confiou no Senhor. E Deus o sustentou miraculosamente naquele lugar. Em Israel, Jezabel sustentava seus profetas. Mas, próximo à cidade natal dela, o Rei de Israel, YHWH, sustentava seu profeta por meio de uma mulher, viúva, pobre, mas rica em fé.
Champlim assevera que “através da maneira incomum de nutrir fisicamente o profeta, Deus também estava nutrindo a fé de Elias, para feitos posteriores de força espiritual.”
A ida a Sarepta tinha propósitos específicos. Naquela época estava impregnada na mente do povo a crença de que a influência dos deuses limitava-se a circunscrições territoriais. Em virtude dessa heresia, Deus tencionou demonstrar que seu poder e soberania não estão adstritos exclusivamente a um determinado território. Pelo contrário, até em território “alheio pertencente a outro deus” ele tem poder e autoridade. Ah, se a nação de Israel reconhecesse isso! (Sl 81.13-16; Is 48.18-19). Em Sarepta, o Senhor preservou Elias dos riscos de perseguição e atentado perpetrados por Jezabel.
Além dessa edificante experiência, o Senhor ainda reservava para Elias mais uma singular e rara experiência, a saber, a de ressuscitar o filho daquela viúva. Até aquele dia não havia nenhum relato bíblico de que um morto tinha ressuscitado. A oração de Elias para que o filho da viúva ressuscitasse revelava que ele estava absorto pela fé em Deus; com efeito, estava na trilha de seu pai Abraão, o qual creu que Deus poderia ressuscitar seu filho Isaque.
Por conseguinte, em Sarepta, Elias teve mais duas experiências sobrenaturais que caracterizavam o cuidado do Senhor por Elias e o poder e a soberania de Deus. Elias orou pela ressurreição do menino, e Deus atendeu. Em Sarepta a fé de Elias foi fortalecida e consolidada. Agora sim, o profeta estava preparado para se apresentar a Acabe e Jezabel para aquele grande confronto. E Elias assim fez, foi a Acabe com destemor, ousadia, intrepidez, desafiando os ídolos de Acabe e Jezabel.
Em Sarepta Deus provou a fé de Elias e o fortaleceu. De sorte que não havia motivos para temer Jezabel e Acabe. Agora sim o profeta estava preparado para o grande desafio e confronto com os falsos profetas de Baal.
No entanto, alguns detalhes dessa narrativa publicam a vergonhosa decadência espiritual de Israel, e visam causar emulação em Israel.
Uma viúva pobre e estrangeira teve fé na palavra do profeta Elias, de modo que foi usada por Deus para sustentar o profeta. Nesse ínterim, em Israel, a rainha Jezabel sustentava os profetas de Baal (18.19). Aqueles a quem a palavra fora revelada, a quem pertenciam as promessas, as alianças e os oráculos, não sustentavam o profeta, pelo contrário, além de sustentar falsos profetas, perseguia os verdadeiros profetas.
Por outro vértice, uma viúva estrangeira reconhece a autoridade do profeta, bem como de sua palavra, sendo oriunda do próprio YHWH. Depreende-se inelutavelmente que a fé daquela viúva era incomparável em relação a Acabe e Jezabel.
Próximo da cidade natal de Jezabel, de onde se esperava mais uma adoradora de Baal, Elias se depara com uma estrangeira que era viúva e pobre; esta, a seu turno, o reconhece como profeta, crê na sua palavra, e, mesmo equivocadamente, reconhece que o profeta de Deus pode trazer juízo sobre todo pecado, fazendo-o vir à tona. Que exemplo! O que não havia no palácio da capital de Israel, surge na porta de uma cidadezinha desconhecida. O que não havia na classe nobre dos israelitas, surge na classe baixíssima dos sidônios: FÉ!
À medida que Elias e a viúva confiavam na palavra do Senhor, a fome era dava lugar para o mantimento, a morte cedia em favor da vida! Ah, se a nação de Israel reconhecesse isso! (Sl 81.13-16; Is 48.18-19).
Essa narrativa também teve o desiderato imediato e mediato de sustentar e nutrir as convicções javistas dos profetas perseguidos e em extinção de YHWH. Não obstante toda perseguição e hostilidade perpetrada pelo próprio rei de Israel e sua esposa, Deus, o Rei dos reis, é o provedor e mantenedor da escola de profetas, da qual Elias se destacava. A palavra de Deus na boca de Elias foi verdade, e na boca dos profetas do Senhor subseqüentes também serão verdade (18.24)!
Os profetas pós-exílicos também deveriam sempre confiar no Senhor e em Sua palavra, a qual não falha.
Enfim, essa narrativa tem aplicações práticas, servindo especificamente para combater o baalismo, e toda forma de idolatria subsequente, bem como para despertar a fé do povo de Deus em todas as eras.

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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Variante textual e interpretação

Comentário Bíblico NVI sobre Hb 6:

"É necessário destacar, no entanto, que essas expressões descrituvas são suscetiveis a mais do que uma intepretação, e, no seu sentido não tão "definitivo", podem bem ser aplicadas tanto a cristãos "professos" quanto a crentes "genuínos". "Iluminados" (v.4) é um termo aplicado por Justino Mártir (morreu c. 165 d.C; Apol 61.12,13) aos batizados - os que haviam dado consentimento à verdade do catecismo cristão por meio de sua seujeição ao batismo. É possível, então, que o autor de Hebreus tenha usado a palabra nesse sentido. Ao menos a Peshita (uma tradução siríaca do século IV( entende a palavra assim, substituindo "iluminados" por "que desceram ao batismo". [...] (grifei). CBNVI, p. 2107.



Outro exemplo a respeito de Hb 3.14 (hypostasis):



"Alguns manuscritos entenderam a palavra no mesmo sentido que Hb 1.3, e que o pensamento que queriam transmitir era apegar-se ao Ser essencial de Cristo". A frase, portanto, pode ser traduzida "a base, Sua substância". Certo manuscrito, talvez com alusão ao v. 6 e a 1Tm 5.12, substituiu hypostasis por pisteos ("fé"). O pensamento da passagem, no entanto, é o da confiança (cf. 1 supra; FF Bruce, op. cit. 67). DITNT, 876.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Entrevista Dr. Shedd

Vale a pena conferir:
http://www.vidanova.com.br/teologiadet.asp?codigo=167

Parabéns doutor, pastor-mestre e, sobretudo, serve fiel do Senhor!

Senhor, levante ceifeiros e pastores como esse para sua ceara!