quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Crítica Textual

Análise Crítica Textual dos primeiros capítulos de Juízes

Consideração sobre a LXX
A LXX tende a discordar mais do TM que outras versões. Antes de descartar incontinenti a fidedignidade da LXX em relação ao TM, creio que é possível que a LXX tenha se baseado num texto cuja tradição não foi preservada pelo TM, mas que poderia fazer parte do original.
Infelizmente, à míngua de outros testemunhos, e para não basear o trabalho crítico em meras inferências, trabalharei com o princípio in dubio pro TM. Porquanto será mais objetivo, salvo raríssimas exceções devidamente fundamentadas.
Assim sendo, à medida que o testemunho da LXX for isolado, preponderará o TM.

Jz. 1.1a
O editor da BHS aponta a existência de um problema crítico no tocante ao nome do falecido. O TM afirma que o falecido é Josué, ao passo que a nota de rodapé da BHS sugere que seja Moisés, visto que em 2.6 Josué ainda estava vivo. Logo, depreende-se, então que Josué não tinha morrido, mas outra pessoa, e esta deve ser Moisés.
No entanto, tal inferência não tem qualquer apoio crítico, visto que nenhum manuscrito ou versão do texto hebraico traz o nome de Moisés como a pessoa falecida.
Destarte, o “problema crítico” não passa de mera inferência do editor, pelo que não há qualquer evidência objetiva em sentido contrário.
O editor evocou um aparente problema interno. À míngua de qualquer prova em contrário, é pertinente harmonizar o texto. E isso pode ser feito inelutavelmente. Basta admitir que não há uma sequência cronológica no capítulo um e dois, mas apenas um propósito, a saber, de demonstrar que as conquistas, mesmo na época de Josué, não foram efetivadas consoante a ordem do Senhor, qual seja, de exterminar todos os habitantes de Canaã, sem fazer qualquer aliança com eles.

Jz 1.10a
Mais uma vez o problema decorre não dos testemunhos externos, mas do testemunho interno, sendo evocado pela BHS somente, haja vista a menção em Js 15.13 de que Calebe expulsou os três filhos de Anaque, Sesai, Aimã e Talmai, ao passo que em Jz 1.10 refere-se a Judá.
Mais uma vez, a harmonização do texto é pertinente, em detrimento da evocação da contradição entre os textos.
Basta admitir inelutavelmente que Calebe recebeu o apoio da tribo de Judá, de forma que está correto mencionar tanto um como outro. A propósito, em Jz 1.20 está escrito que Calebe expulsou os três filhos de Anaque.

Jz 1.10b
Somente a LXX traz um acréscimo após a palavra Hebron: καὶ ἐξη̂λθεν (aor, ativo, inf.) Χεβρων ἐξ ἐναντίας
Essa versão afirma: “e vinha Hebron do lado oposto”, cujo sentido transmite a idéia de que Hebron ofereceu alguma resistência à tribo de Judá.
No entanto, o acréscimo da LXX não deve preponderar sobre o TM, visto que é um testemunho isolado sem um único apoio.
Ademais, um dos cânones clássicos da crítica textual afirma ser preferível o texto mais curto em vez do mais longo, visto que, via de regra, o copista tem a tendência de fazer acréscimos. Esse cânone deve ser aplicado ao caso vertente.
Porventura o tradutor quis florear o texto ou elucidá-lo, acrescentando que houve alguma resistência por parte dos habitantes de Hebron.

Jz 1.10c
A LXX altera o nome anterior de Hebron, que era Quiriate-Arba (קִרְיַת אַרְבַּע ), para Kariatharboksefer (Καριαθαρβοξεφερ ), pelo que transliterou de forma unificada as palavras Quiriate e Arba acrescentando a palavra Sefer.
Sobre a unificação das palavras para formar um único nome, a Vulgata também traduz assim. Todavia, o acréscimo da LXX pôde ter decorrido de uma confusão com o outro nome de Debir, que é Quiriate-Sefer (קִרְיַת־סֵפֶר ).
Destarte, o copista poderia ter visualizado a palavra Quiria-Arba e também Quiriate-Sefer, e cometido uma confusão entre ambas, o que resultou em Quiriate-Arba-Sefer.

Jz 1.10d
Por fim, o editor da BHS sugere que o verbo ferir (נכה ) está no singular em vez do plural, de modo a concordar com o verbo partir que está no singular. Não obstante o aparente erro de concordância, não há qualquer evidência textual que apóie a sugestão do editor. Esse equívoco não passa de um mero erro acidental.

Jz 1.11a
A leitura original da LXX e sem revisão acrescenta o verbo subir logo após o verbo partir. O acréscimo pode ser explicado com base no texto paralelo de Js 15.15 que menciona tal acréscimo.
No entanto, trata-se de uma evidência isolada sem apoio nas próprias revisões da LXX. Talvez o tradutor fizesse o acréscimo com base em Js 15.15, aproveitando a tradução do mesmo texto.
Jz 1.11b
A LXX traduz o nome Quiriate-Sefer por “Cidade dos Livros” (Πόλις γραμμάτων ). A Vulgata translitera e em seguida traduz o nome da cidade.
A seu turno, o códice vaticano minúsculo da LXX segue a Vulgata, transliterando o nome da cidade e em seguida traduzindo.
Nesses casos trata-se de uma opção do tradutor no sentido de elucidar o texto original, representado aqui pelo TM.
A versão árabe troca o substantivo pelo particípio, seguindo o texto paralelo de Js 15.15. Talvez, o tradutor tivesse substituído o vocábulo com base em Js 15.15, aproveitando a tradução do mesmo texto.


Jz 1.12a
Após o nome da famigerada cidade Quiriate-Sefer, a LXX traduz o nome da cidade. A Vulgata evita essa redundância.
Em ambos os casos trata-se de uma opção do tradutor no sentido de elucidar o texto original, representado aqui pelo TM.

Jz 1.13a
A expressão “mais novo que ele” não aparece no texto paralelo de Js 15.17. Entretanto, isso não afeta a veracidade do texto de Jz 1.13.

Jz 1.14a
A LXX afirma que ele insistiu com ela, ao invés de ela insistiu com ele. De modo que a mudança está apenas no prefixo i em vez do que consta no TM (h ) e, consequentemente, alteração no sufixo feminino em vez de masculino.
Em Js 15.18 há semelhante problema crítico.
A divergência pôde ter originado numa cópia danificada usada pelo tradutor da LXX, de modo que resultou nesse equívoco. Nem todas versões da Vulgata seguem a LXX.
Uma vez que não há consenso na Vulgata, e nenhuma outra evidência é plausível optar pelo TM. Ademais, o verbo anterior “vir” é um infinitivo feminino, de sorte que transmite a idéia de que ela foi até ele e perguntou a ele.

Jz 1.14b
Conforme o TM, a palavra campo é precedida de artigo definido. No entanto, a leitura original da LXX e sem revisão omite o artigo, possivelmente com base no texto de Js 15.18. Talvez o tradutor omitiu com base no texto paralelo, aproveitando a tradução do mesmo.

Jz 1.14c
Por derradeiro, após o verbo descer, a LXX acrescenta a seguinte expressão: “e murmurava e gritava”, cujo sentido denota que a esposa de Otniel desceu do jumento fazendo um escândalo perante o pai a fim de impressioná-lo. Com efeito, o acréscimo faz sentido, porque logo após descer do jumento, Calebe pergunta-lhe o que deseja. A pergunta per se não faria sentido a menos que Calebe ouvisse alguma reclamação de sua filha.
No entanto, o acréscimo da LXX não deve preponderar sobre o TM, visto que é um testemunho isolado sem um único apoio.
Ademais, um dos cânones clássicos da crítica textual afirma ser preferível o texto mais curto em vez do texto mais longo, visto que, via de regra, o copista tem a tendência de fazer acréscimos. Esse cânone deve ser aplicado ao caso vertente.
Porventura o tradutor quis florear o texto ou elucidá-lo, de modo que o acréscimo apenas auxiliou a compreensão da pergunta de Calebe a sua filha.

Jz 1.15a
A versão grega de Áquila traduz a palavra fontes no singular. Em Js 15.19 há um problema crítico, pelo que a LXX, a Peshita e fragmentos de códices hebraicos da Guenizá também usam o singular.
Não obstante a plausível evidência crítica contra o TM em Js 15.19, em Jz 1.15, a versão grega de Áquila é um testemunho isolado, de sorte não deve prevalecer sobre os demais. Talvez o tradutor traduzisse no singular com base no texto paralelo, aproveitando a tradução do mesmo., ou então cometesse um equívoco na leitura do texto original.
A LXX fez uma confusão, pelo que substituiu a palavra fontes por preço ou resgate. Tal substituição deriva de um equívoco na visualização da palavra ou de cópia deteriorada, visto que a palavra preço é semelhante ao estado construto feminino da palavra fonte ou região.

Jz 1.15b
A LXX acrescenta após o nome próprio Calebe, a expressão “conforme o coração dela”. O próprio editor da BHS sugere que se trata possivelmente de uma inserção, sendo o caso de uma haplografia, que significa erro de cópia que é resultado de uma omissão acidental de letras ou de palavras.
A palavra Calebe é bem próxima da expressão, basta acrescentar o sufixo feminino e alterar ligeiramente as vogais que se obtém o acréscimo da LXX.
Dessa forma, a haplografia poderia estar no TM. Convém remeter às considerações iniciais acerca da LXX, cuja conclusão é in dubio pro TM.

Jz 1.15c
Por fim o editor remete o trecho “fontes superiores e fontes de inferiores” ao problema crítico que há no texto paralelo Js 15.19.
Todavia, no texto em comento não há o aludido problema.

Jz 1.16a
O editor sugere que a palavra queneus deve ser lida como em 4.11. É verdade que a falta do artigo poderia implicar indefinição do substantivo. Com efeito, deve ser lida dessa maneira, embora não se possa considerar uma falha grosseira no texto original, mas um mero erro acidental.

Jz 1.16b
A leitura original da LXX e sem revisão subtrai a expressão “Judá” que qualifica a palavra “deserto”, talvez porque estivesse apagada da cópia do texto hebraico. Ou ainda porque o tradutor entendeu que era uma redundância. Entretanto, revisões posteriores sanaram essa omissão.

Jz 1.16c
Segundo o editor, a expressão “que está ao sul de Arade”, a qual explica a localização do deserto de Judá, é uma glossa ou nota explicativa. E estava apagada do texto original.
Não há apoio crítico à sugestão do editor.

Jz 1.16d
Antes da palavra Arade a leitura original da LXX e sem revisão acrescenta a expressão ἐπὶ καταβάσεως que significa “em direção à descida de Arade”. As demais revisões da LXX corrigiram o acréscimo que teve origem provavelmente pela confusão com a expressão “em o deserto” cuja grafia hebraica é semelhante ao acréscimo.

Jz 1.16e
A leitura do final desse versículo é truncada, porquanto não é identificado o povo que habitou junto com os filhos de Judá e os filhos do queneu naquela região, de forma que o editor sugere que o texto está corrompido. Assim sugere a seguinte leitura: “Os amalequitas foram e habitaram com o povo.
O texto grego original da LXX substitui os verbos “foi” e “habitou” pelo verbo “habitou”. Talvez o tradutor entendesse que o verbo ir era uma redundância. A vulgata também evita esse hebraísmo “ir e habitar”, traduzindo somente a palavra habitar.
Todavia, o TM deve prevalecer.
Por fim, antes dos verbos citados o texto grego da LXX da tradição das Catenae junto com a Vetus Latina adicionam a palavra Amaleque, denotando que Amaleque habitou naquela região.
Uma vez que outras traduções, inclusive dentro da própria LXX, não trazem esse acréscimo, é mister ficar com o TM.
Esse acréscimo pode ser uma explicação do tradutor, uma vez que havia amalequitas naquela região e provavelmente eles também habitaram com os filhos de Judá e os filhos do queneu.

Jz 1.17a
O texto grego da LXX da tradição das Catenae e o texto grego do Códice Vaticano juntamente com o 2 manuscritos hebraicos medievais redigiram o verbo “feriram” no singular. Não obstante o erro de concordância, poderia ser que essa tradição estivesse em consonância com o original, até porque o TM comete esse equívoco. Ou então poderia dizer que o TM estaria errado, conforme sugeriu o editor em Jz 1.10.
Seja o que for, perfilho o TM, uma vez que dentro da própria LXX há divergência.
Mais um problema de concordância surge no verbo “chamou”, porquanto pelo contexto a idéia é que Judá e Simeão nomearam o local, no entanto, o verbo encontra-se no singular no TM, ao passo que no texto original da LXX está no plural.
Ainda assim, a despeito do erro, faço a opção pelo TM.

Jz 1.18a
A LXX afirma que Judá não herdou Gaza, Asquelon e Ecron e seus respectivos territórios. No entanto, o versículo seguinte ressalva que a expulsão não foi total.
A Vulgata segue o TM. Logo, o TM deve prevalecer.
Talvez o tradutor da LXX quisesse elucidar que Judá não herdou definitiva e completamente aqueles territórios embora tivesse tomado aquelas cidades.
Mesmo o TM deixa implícito que a ocupação não foi completa.

Jz 1.18b
Fragmentos de códices hebraicos da Guenizá não incluem a conjunção “e” na partícula acusativa que acompanha a palavra Asquelon. Isso pode ter ocorrido por um erro acidental do copista ou problema no próprio manuscrito.

Jz 1.19a
Alguns relevantes testemunhos acrescentam o verbo hL¥K¡I (qal, 3cp) antes do verbo לְהוֹרִישׁ (infinitivo do hifil) , de forma que a tradução seria “não conseguiram desapossar” em vez de simplesmente não expulsou.
Eis os testemunhos: manuscrito hebraico medieval, leitura marginal de manuscrito hebraico original, LXX, Vulgata e Targum.
Perfilho o acréscimo em detrimento do TM, visto que o texto paralelo de Js 15.63 contém a inserção. E, por certo, a inserção faz sentido, visto que o infinitivo carece do verbo acrescentado por questão de sintática e para elucidar a leitura tornando-a escorreita.
Assim sendo, a tradição do TM perpetuou uma omissão acidental cometida pelo copista.
À medida que a LXX, Vulgata e outros testemunhos hebraicos divergirem do TM, o caso deve ser ponderado com mais cuidado, de modo que o TM poderá não prevalecer, com ocorreu no caso vertente.

Jz 1.20a
O editor da BHS entende que várias palavras foram excluídas desse versículo, haja vista a inserção de outras palavras pela LXX e outras versões e o texto de Js 11.21 que afirma que Josué havia destruído totalmente os enaquins.
Não há nenhum problema em harmonizar o texto de forma que a destruição dos enaquins perpetrada por Josué tenha ocorrido com o auxílio de Calebe, ou houvesse a sobrevivência inexpressiva e oculta dos três filhos de Enaque, exterminados, posteriormente, por Calebe.
A Vulgata concorda totalmente com o TM e a LXX parcialmente, de forma que o TM deve prevalecer.

Jz 1.20b, c
A LXX adiciona antes da expressão “filhos de Enaque” a palavra “cidades”, de forma a culminar na expressão “três cidades dos filhos de Enaque”.
No entanto, tal acréscimo é isolado, e foi inserido pelo tradutor com vistas a florear o texto ou até mesmo decorreu de um equívoco visual, pelo que o tradutor visualizou a palavra “cidades” em outros versículos da mesma página e inseriu-o.
Além desse acréscimo, o códice alexandrino da LXX e o texto grego segundo a recensão de Orígenes bem como a Vetus Latina acrescentam antes da palavra “cidades” a expressão καὶ ἐξη̂ρεν ἐκει̂θεν τὰς τρει̂ς que pode ser traduzida assim “e tomou dali as três cidades”.
A Códice Veronense e o texto grego da LXX segundo a recensão de Luciano, a versão Saídica, a versão Síria e a versão árabe acrescentam após a palavra Enaque, a expressão “e tomou dali os três filhos de Enaque”.
Visto que a Vetus Latina é geralmente dependente da LXX, seu valor crítico dever ser ponderado com cautela.
Não obstante o testemunho de outras versões, perfilho o TM porquanto até entre a LXX há divergências, ao passo que a Vulgata segue o TM.
Talvez os tradutores tivessem cometido equívocos visuais.

Jz 1.21a
Segundo os massoretas orientais o particípio ativo do verbo habitar deve ser lido no plural em vez do singular, de forma que seria traduzido assim: os jebuseus que habitam em Jerusalém, em vez de “os jubuseus que habita em Jerusalém.
Com o Qerê oriental concordam vários manuscritos hebraicos. O texto paralelo de Js 15.63 também corrobora o qerê oriental.
A Vulgata e a LXX corroboram o TM.
Se se entender que houve um erro gramatical do copista, o qerê oriental deve preponderar. Se se entender que o autor inspirado deixou acidentalmente a marca de sua natureza humana e falha sem que tal erro maculasse a inspiração e inerrância da Palavra, visto que a inerrância não implica gramática escorreita, como também matemática, astronomia, ciência, mas que os autores não estiveram livres dos conceitos e equívocos acidentais e toleráveis no seu tempo, o TM há de prevalecer.
Não tenho dificuldade de aceitar um texto inspirado e inerrante que contenha eventualmente equívocos gramaticais e dados e registros sem precisão cronológica, científica, astronômica.
Assim sendo, perfilho o TM.

Jz 1.21b
Em vez dos filhos de Benjamim, o editor sugere os filhos de Judá, a fim de harmonizar o texto com Js 15.63.
À míngua de qualquer evidência textual, prefiro harmonizar o texto de outra maneira, a saber, admitindo que Judá também participou daquela empreitada, de forma que a menção a um quanto ao outro é correta.

Jz 1.22a
Vários manuscritos hebraicos bem como a LXX alteram a expressão casa de José por filhos de José.
Não obstante a possibilidade, haja vista que os versículos anteriores registram a expressão “filhos”, o TM deve prevalecer, visto que o testemunho em sentido contrário não tão expressivo. De forma que a LXX e os manuscritos hebraicos cometeram equívoco visual ou mental, até porque a grafia das palavras são semelhantes e em versículos anteriores a expressão que aparece é filhos.

Jz 1.26a
Poucos manuscritos hebraicos medievais incluem antes da palavra terra a preposição L£@, seguida do maquef, outros manuscritos a preposição ¥L .
A despeito da ausência da preposição no TM, a leitura está subentendida no próprio texto.
Destarte, os testemunhos contrários ao TM são insuficientes para serem verídicos, conquanto a LXX e a Vulgata coloquem uma preposição.
É possível que o copista dos manuscritos divergentes tenham uma mente mais helenizada, tendo a necessidade de escrever a preposição.

Jz 1.26b
A LXX acrescenta após o verbo edificou o advérbio ali. Trata-se de uma adição isolada e sem apoio de outros testemunhos, de forma que não deve preponderar sobre o TM.
Talvez, algum manuscrito hebraico tivesse acrescido o advérbio correspondente.

Jz 1.26c
Poucos manuscritos hebraicos medievais e fragmentos de códices hebraicos da Guenizá acrescentam a partícula acusativa ,
Faço remissão ao comentário de Jz 1.26a.

Jz 1.26d
A LXX altera o nome da cidade Luz para Louza. A Vulgata traduz para Luzam.
Conquanto a transliteração não se coadune com o texto hebraico, não há razões para se crer que o TM esteja errado. Porventura naquele tempo a transliteração do nome daquela cidade seguia aquela forma.

Jz 1.27a
Muitos manuscritos hebraicos medievais e quase todas as versões acompanham o querê, ou seja, o particípio ativo do verbo habitar deve ser lido no plural em vez do singular.
Não obstante o comentário retro de Jz 1.21a, creio que a variante deve ser preferida em relação ao TM. Porque nesse caso, as evidências textuais pendem para a variante, uma vez que há relevantes versões e muitos manuscritos hebraicos que corroboram a variante.
Assim sendo, nesse texto o erro visual é dos copistas do TM. Não é possível que o autor sagrado tenha cometido o mesmo erro duas vezes. Aí é demais...

Livro de Reis

Livro de Reis

Introdução
Os livros dos Reis formavam um só livro no Antigo Testamento Hebraico, ao passo que a LXX dividiu-os em dois volumes. Somente a partir de 1448 a Bíblia Hebraica começou a dividir ambos os livros.

Autor
Segundo a tradição judaica, Jeremias escreveu os livros de Reis. Todavia, o próprio título dos livros tão-somente traz a inscrição “Reis”, não sendo mencionado ainda que indiretamente o nome do autor, de modo que a autoria permanece anônima.
A autoria de Jeremias não é ilógica, visto que há muitas referências a profetas e profecias cumpridas. Os capítulos finais de Reis são semelhantes ao capítulo 52 de Jeremias. Isso pode tanto indicar uma mesma autoria, ou no mínimo o uso de fontes semelhantes. A propósito, não obstante a característica narrativa do livro, a Bíblia Hebraica incluiu-o na seção dos livros proféticos.

Data dos livros
A ala mais conservadora e menos recente defende que o livro foi escrito ou concluído não muito tempo depois da libertação de Jeoaquim o qual estava preso na Babilônia. Assim, Jeoaquim foi liberto no ano de 562 a.C, ao passo que a conclusão do livro sucedeu no ano de 550 a.C.
Contudo, uma ala crítica defende que houve duas composições distintas. Uma na época do livro de Deuteronômio, ou seja, nos dias da reforma de Josias, e outra posteriormente.
Outra ala moderada acredita que o livro foi escrito durante o exílio. Nesse período o povo teria mais condições de refletir sobre as causas que culminaram no cativeiro.
Não há motivos para não se crer que o livro de Reis fora escrito à medida que os eventos sucedessem. Até porque havia intensa atividade literária profética naqueles períodos, mormente na época dos profetas escritores.
Aliás, os livros usam várias fontes, o que atesta que havia registros ou crônicas dos acontecimentos.

Características e temas
O autor desses livros utilizou outras fontes históricas (11.41; 14.19.29).
O livro expressa as idéias e ensinos registrados no livro de Deuteronômio. Nesse livro observa-se o efeito prático da lei de Moisés na vida do povo. As palavras de Moisés insertas no livro de Deuteronômio, sobretudo no capítulo 28, se cumprem cabalmente: as bênçãos atingem a plenitude no reinado de Salomão, ao passo que as maldições nos cativeiros assírico e babilônico. O livro foi intitulado de “História Deuternomista”, uma vez que esse livro, junto com os livros de Josué e Samuel, desenvolve a teologia de Deuteronômio no que diz respeito às bênçãos e maldições inerentes à prática da Lei.
Esses livros cobrem um período de 410 anos, de forma que inicia com os últimos dias de Davi (971 a.C.) e termina com a restauração de Joaquim (561 a.C.).
O livro de Reis pode ser dividido em três partes:

PARTE 1
A MONARQUIA UNIDA (1Rs 1-11)
O reinado de Salomão abriu caminho para a convulsão nacional à medida que ele passou gradualmente da sabedoria e lealdade à aliança para a insensatez e a apostasia
PARTE 2
A MONARQUIA DIVIDIDA
A história da teocracia dividida realça o poder destrutivo da apostasia em Israel e a intervenção misericordiosa de Yahaweh em favor de Judá, por amor a Davi (1Rs 12-2Rs 17)
PARTE 3
O REINO ÚNICO DE JUDÁ
A história da monarquia independente de Judá retrata um declínio espiritual constante, interrompido por dois reavivamentos que conseguem apenas retardar a avalanche de disciplina pactual contra a nação (18.1-25.26)

A narrativa do livro aborda basicamente:

1- O apogeu da nação judaica
Após a morte de Davi, seu filho assume o trono, e torna-se o rei mais poderoso daquela região. Nessa época as fronteiras de Israel alargaram-se sobremaneira, de modo que cumpriu-se cabalmente a promessa de Deus realizada a Abraão. Essa época é considerada como a Idade de Ouro da história dos judeus. Os outros impérios daquela época estavam fracos.
Salomão escolheu a sabedoria. Por conseguinte, adquiriu poder, riqueza e honra. Salomão edificou o Templo, considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo. No entanto, ele envolveu-se com várias mulheres, por conta de motivos políticos.

2- O reino dividido (930 a.C)
O reino unido durou 120 anos: Saul, 40 anos; Davi 40 anos; Salomão, 40 anos. As dez tribos formaram o reino do Norte, ao passo que Judá e Benjamim o reino do Sul.

3- O reino do norte entregando-se à idolatria

4- O reino do Sul resistindo à idolatria por mais tempo

5- O ministério dos profetas
Elias combateu fortemente o culto a Baal. Tal deus pertencia ao povo cananeu, o qual acreditava que exercia influência sobre a agricultura, chuva e fertilidade. Os adoradores de Baal sacrificavam os infantes. Seguidamente, Eliseu, como discípulo de Elias, deu seqüência ao seu ministério.

6- O cativeiro de Israel pela Assíria (722 a.C), cuja capital era Nínive
Os profetas dessa época foram: Oséias, Isaías e Miquéias e Amós.
A Assíria utilizava a deportação como método de conquista dos outros povos, isso desintegrava a nação conquistada, de modo que enfraquecia-se, dificultando as rebeliões. A Assíria era uma nação cruel, pelo que esfolavam vivos seus prisioneiros, ou cortavam-lhes as mãos, os pés, o nariz, as orelhas, ou lhes vazavam os olhos, ou lhes arrancavam a língua, faziam montes de caveiras humanas, com vista à intimidação, e inspiração do terror.

7- O cativeiro de Judá pela Babilônia em três ocasiões
Profetizaram nesse período os profetas: Jeremias, Ezequiel, Daniel, Naum, Sofonias.
*605 a.C: Nabucodonosor subjugou Jeoaquim, levou os tesouros do templo, a descendência real, inclusive Daniel, para a Babilônia.
*597 a.C: Nabucodonosor voltou e levou o restante dos tesouros e o rei Jeoaquim, e 10.000 dos príncipes, oficiais e homens principais, todos cativos à Babilônia.
*587 a.C: Novamente os babilônios retornaram e incendiaram Jerusalém, quebraram seus muros, vazaram os olhos do rei Zedequias e levaram-no algemado para Babilônia.
Assim terminou o reino terrestre de Davi. Entretanto, há uma nota de esperança no último capítulo do livro, ao relatar a preservação e libertação do descendente real de Davi, o rei Jeoaquim.
Infere-se um conteúdo messiânico no livro, visto que a monarquia e o estado independe de Israel chegou ao fim, restando somente a restauração do reino davídico e da independência da nação pelo Messias.
Com efeito, o propósito do autor é teológico, não obstante os relatos sejam históricos e fidedignos. Por exemplo, do ponto de vista do historiador secular, Onri foi o rei do norte mais importante, entretanto o autor dedica pouca atenção à sua época, ao passo que períodos muito menores receberam maior ênfase, como o ministério do profeta Elias e Eliseu.
A Aliança de Deus, cujo mediador foi Moisés, encaixa-se bem como tema central. A teoria da Lei de Moisés pôde ser vista na prática. Há um constante contraste entre o reino fiel a Deus e o reino idólatra, com as respectivas bênçãos e maldições.
O livro também explica às gerações sobrevivente ao exílio e às vindouras a causa do exílio. Em suma, todas as desgraças advieram da desobediência do povo que não observou fielmente a Lei de Deus dada a Moisés, e registrada no Pentateuco, sobretudo nos dez mandamentos e no capítulo 28 de Deuteronômio.

CRONOLOGIA DOS REIS DE ISRAEL E JUDÁ


REIS DE ISRAEL E DE JUDÁ
(ATÉ A QUEDA DE SAMARIA)
Judá Data Israel
A Casa de Davi 931 A Casa de Jeroboão
Roboão 931-913: Filho de Salomão. No início de seu reinado as tribos do Norte se separaram das do Sul para formar um reino independente Divisão do reino de Salomão
Sisaque ataca a Palestina Jeroboão I 931-910: Primeiro rei das tribos do Norte depois da divisão do reino de Salomão
920
910 Nadabe 910-909
Abias 913-911 900 A Casa de Baasa
Asa 911-870 890 Baasa 909-886: Assasinou a Nadabe e usurpou o trono
Elá 886-885
Zinri 885
880 A Casa de Omri
Onri 885-874: Foi um dos reis mais importantes de Israel. Fortaleceu o reino através de alianças e conquistas e fez de Samaria a capital de Israel
Josafá 870-848: Judá voltou a ser próspera durante seu reinado, e houve paz entre Israel e Judá 870
[Elias]
860 Acabe 874-853: Tentou unificar os elementos israelitas e os cananeus pondo em perigo o concerto com Deus
Jeorão 848-841 [Eliseu] Acazias 853-852
850 Jorão 852-841
Acazias 841: Foi assassinado por Jeú, de Israel 840 A Casa de Jeú
Atalia 841-835: Usurpou o poder quando seu filho Acazias foi assassinado Jeú 841-814: Foi originalmente um oficial do exército; assassinou Jorão e erradicou o culto a Baal em Israel
Joás 835-796: Filho de Atalia. Subiu ao poder quando Atalia foi deposta por um complô palaciano 830
820
810 Jeoacaz 814-798
Jeoás 798-783
Amazias 796-781 800
790
Uzias ou Azarias 781-740: Reinou durante um tempo de paz com Israel. Fortaleceu e extendeu seu reino 780
770 Jeroboão II 783-743: Em seu governo Israel gozou de prosperidade
Jotão 740-736 [Amós] Zacarias 743: Reinou por 6 meses
760
750 Salum 743: Reinou por 1 mês
[Oséias] A Casa de Menaém
740 Menaém 743-738
Acaz 736-717: Pediu ajuda aos assírios para fazer frente à Síria e Israel. Este movimento fez Judá ser dependente da Assíria [Isaías]
[Queda de Damasco, 732]
730
720
[Queda de Samaria, 721] Pecaías 738-737
Peca 737-732

Oséias 732-724: Último rei de Israel. Em 721 Samaria caiu diante da Assíria e houve uma deportação em massa
Sociedade Bíblica do Brasil. 2002; 2005. Bíblia de Estudo Almeida - Revista e Corrigida . Sociedade Bíblica do Brasil

A cronologia apresentada pelo livro possui a priori algumas aparentes discrepâncias, que, após uma ponderação acurada, é totalmente dirimida. Considerando que o autor do livro dos reis computa um ano incompleto como completo, que o período de um reino é arredondado, e que há casos de co-regências (2Re 15.5), as aparentes discrepâncias são facilmente harmonizadas.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Bodas de Caná

Perguntas:
1) Esse milagre foi realmente o primeiro?
2) Qual é o significado do v. 4?
3) Os discípulos realmente creram em Jesus como o Cristo naquele momento?
4) Esse milagre tem algum significado espiritual?

Contexto:
O texto analisado vem após o contato de Jesus com seus primeiros discípulos. Jesus já havia afirmado nesse diálogo com Natanael que Coisas maiores seriam observadas e que daquele momento em diante o céu estaria aberto e os anjos de Deus subiriam e desceriam sobre o filho do homem (1.50-51).
Em seguida, o evangelista fala sobre a expulsão dos mercadores do templo de Jerusalém, e que após a realização de outros milagres ali, muitos que viram creram.

Exposição
O milagre da transformação da água em vinho dá início às coisas maiores preditas por Jesus. Conquanto esse milagre esteja ausente dos demais evangelhos, não há razões para duvidar de sua autenticidade, até porque os evangelhos não objetivam ser historicamente precisos e cronológicos, antes porém, visam transmitir a mensagem de que Jesus é o Cristo segundo o escopo peculiar de cada evangelista e tendo em vista o destinatário da mensagem.
O versículo 11 pode transmitir a idéia de que ali em Caná Jesus fez o principal milagre. Até porque a palavra grega traduzida por primeiro ou início é ἀρχὴν , e pode ser traduzida por principal. Uma variante textual, cujo principal testemunho é o P66 em sua leitura original e P75, utiliza a palavra grega proto que significa primeiro. Diante dessa variante bem antiga e da possibilidade de se traduzir a palavra arche como primeiro, é coerente entender a explicação do evangelista como o primeiro milagre realizado por Jesus.
Diante da falta de vinho, Maria interpela Jesus. É possível que Maria estivesse servindo às pessoas e, notando a falta de vinho, comunicasse a Jesus, haja vista que nessas festas somente os homens participavam da formalidade cerimonial. Por que Maria foi falar com Jesus? Se o texto realmente denota que esse milagre foi o primeiro – e é isso que o texto indica - então Maria dirigiu-se até Jesus crendo que Ele poderia fazer algo, em função de sua experiência com o nascimento miraculoso de Jesus. Ou seja, a fé de Maria em Jesus baseava-se no milagre do seu nascimento, ocorrido há 30 anos atrás!
A resposta de Jesus é intrigante. O que Jesus quis dizer com: “Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada minha hora.”
A primeira frase é um hebraísmo, ou seja, uma expressão hebraica que remonta os tempos de Davi. Em 2Sm 16.10 e 19.22. Nessas duas passagens Davi usa essa expressão para discordar de Abisai, filho de Zeruia. E denota que quem fala tem absoluta independência daquele para quem é dito, de forma que não há relação obrigação ou subordinação. Davi não estava obrigado a seguir os conselhos de Abisai, porquanto não era subordinado a este.
Da mesma forma, o texto denota que Jesus não tinha essa relação de subordinação para com sua mãe. O fato de Ele chamar sua mãe de mulher, denota a absoluta independência de Jesus em relação ao pedido de Maria.
Portanto, Jesus não estava obrigado a resolver aquele problema da falta de vinho, que certamente envergonharia o noivo e sua família, visto que as festas de casamento duravam dias, até uma semana, e não era bom que faltasse bebida aos convidados. O que Jesus estaria por fazer era resultado de sua livre e soberana graça.
A segunda expressão fala da hora de sua glorificação, a saber, sua morte e ressurreição. Isso é indicado por trechos paralelos no próprio evangelho (7.6, 30; 8.20; 12.23; 13.1). No entanto, há intérpretes que defendem que esse trecho fala do momento de sua revelação messiânica.
Com efeito, Jesus quis fazer alusão a sua missão precípua: morrer na cruz. Visto ser esse evento o principal e imprescindível para redimir a humanidade. Mas por que Jesus teria suscitado essa questão? Não estaria fora de contexto? Não. Os discípulos do Senhor não poderiam “esperar de Cristo somente nessa vida”, não deveriam esperar que Jesus realizasse milagres e prodígios até os 120 anos. A missão de Cristo era dar sua vida em favor dos Seus. E Jesus quis ressaltar isso. Mesmo falando constantemente que ele haveria de padecer, os discípulos não entendiam, pelo contrário, Pedro até tentou dissuadir Jesus a abandonar essa missão.
Após a resposta, Maria fala para os serventes obedecerem Jesus. Não obstante a negação de Jesus, ela ainda confiava que Jesus atenderia seu pedido, não porque fosse obrigado a fazê-lo, mas por amor e graça.
Os serventes obedecem ao Senhor. Enchem os vasos de água e ainda levam ao encarregado da festa. Era um ato de não pouca fé: levar água para o encarregado experimentar. Mas a surpresa foi a reação do encarregado: provou o melhor vinho! Em seguida repreendeu o esposo por ter guardado o melhor vinho, pois era costume servir o melhor e depois o pior. Mas o esposo fez diferente. Ele não, Jesus fez a diferença.
Esse milagre serviu para manifestar a glória do Senhor. A palavra glória doxa traduz o hebraico kabod que significa honra, majestade, importância. E realmente esse milagre manifestou a grandeza e majestade de Jesus. Os profetas incluíram o vinho como símbolo das bênçãos que o Senhor traria no grande dia messiânico, de julgamento e restauração. Esse milagre serve é um sinal de que a era messiânica está raiando; um antegozo das bênçãos futuras, do banquete que será preparado por Jesus. Os convidados experimentaram o melhor vinho feito por Jesus. Mas algo muito melhor está sendo preparado pelo esposo aos seus convidados, a saber, Jesus à Igreja.
Consequentemente, os discípulos creram em Jesus. Nós sabemos que essa fé não era a fé salvífica e plena. Pois tal fé só foi exercida após a ressurreição do Senhor e aparição aos discípulos. Isso se coaduna com a explicação de João quando afirma que muitos creram em Jesus mas Jesus não confiava neles (1.23-24) e quando muitos discípulos abandonaram Jesus (6.66). Essa fé ainda era incipiente e estava em formação, sendo aperfeiçoada mais tarde.
Mas esse belíssimo sinal serviu apenas para manifestar a glória de Jesus? O evangelista não teceu maiores digressões acerca desse sinal, com fez com os demais. Talvez Jesus não tenha falado nada mesmo. Todavia, todos que leem esse trecho não hesitarão em dizer que esse sinal ensina a transformação que Jesus faz em nossas vidas.
E por certo, esse sinal também demonstra isto: que Jesus tem o poder de transformar algo em outra coisa que segundo as leis da química tem uma fórmula totalmente distinta e salutar.
O texto seguinte relata que Jesus expulsou os mercadores do templo e disse que derrubaria aquele templo e em três dias o reergueria. Isso era uma alusão ao seu corpo. Sua morte colocaria fim ao sistema religioso da aliança feita no Sinai por intermédio de Moisés onde houve o derramamento de sangue de um animal e inauguraria a nova aliança consumada no Calvário, por meio de Jesus e por seu sangue.
Isso pode ser um indicativo de que João quisesse depreender desse sinal a transformação que Jesus faria em relação ao sistema religioso até então vigente. Tal interpretação se coaduna com a declaração de Jesus nos sinópticos sobre o vinho novo referindo-se à nova aliança e, também, sobre o recipiente em que o vinho estava: vasos usados para purificação dos judeus.
A marca distintiva dessa nova aliança é a regeneração, a transformação que o Espírito Santo faz na pessoa (Ez 36.25-27; Jr 31.31-33), que se manifestada pelo novo nascimento. Assim sendo, uma pessoa que nasce de novo na verdade é uma pessoa que sofreu uma transformação semelhante à da água para o vinho.
Aqueles recipientes usados para purificação estavam ali para proporcionar purificação aos judeus, que eram considerados impuros pelo simples fato de tocarem pessoas impuras (cf. o livro de Levítico). Mas, pelo poder de Cristo, uma pessoa é totalmente transformada sem qualquer necessidade de rituais externos, que apenas simbolizavam a completa purificação realizada por Cristo, não havendo mais necessidade de tais rituais.
Não poucos católicos usam esse texto para justificar a intercessão de Maria, dizendo que se pedir para a Mãe o Filho atenderá. No entanto, o texto não fala em hipótese alguma sobre a intercessão de Maria em favor de alguém. Primeiro porque Maria estava viva ainda, e segundo porque o próprio Jesus demonstra em sua declaração a ausência de subordinação em relação a Maria. Jesus está subordinado ao Pai, e só devemos pedir ao Filho para que o Pai atenda-nos (14.13,14; 16.23,24).

Cristologia: Jesus é o Cristo. O milagre manifesta a majestade de Jesus, seu poder e soberania sobre as leis da natureza.
Soteriologia: Os sinais serviram para estimular a fé dos discípulos. Mas hoje, devemos crer sem ver; embora às vezes Deus possa usar sinais para trazer pessoas a Cristo. Outrossim, esse milagre descreve a transformação que Jesus pode fazer no coração de uma pessoa.
Escatologia: Esse sinal indica a alteração que estaria por vir ao sistema religioso judaico. Algo totalmente novo surgiria.
Mariologia: O texto não pode jamais ser usado como prova de que Maria intercede, uma vez que não há qualquer indicação de que ela possa fazer isso após sua morte, e tampouco o texto quer ensinar sobre a intercessão de santos ou da própria Maria.

Esboço:
1) Jesus transformou a água em vinho

2) Jesus transformou a religião de Deus em outra totalmente nova

3) Jesus transformou a vida de pessoas em novas criaturas

Jesus transforma a vida de quem crer