terça-feira, 25 de agosto de 2009

PROFETA MALAQUIAS 4

5) Como entender e praticar Ml 3.7-18
Esse texto pode ser dividido em duas partes: 1ª) 3.7-12; 2ª) 3.13-18.
Na primeira parte do texto há um versículo muito conhecido da igreja, mormente neopentecostais. É o texto de Ml 3.10, gravado em quase todos os envelopes de dízimos e ofertas.
A grande questão é: esse texto é aplicável aos cristãos?

A) Deus repreende seu povo por causa da negligência e descaso para com a Casa do Senhor e por causa do desprezo e ignorância para com a ação de Deus.

i) entenda o contexto histórico do dízimo
O profeta Malaquias ordena o povo a trazer os dízimos, visto que a sonegação do dízimo implicava roubo a Deus (קבע ), ao passo que o pagamento do dízimo proveria mantimento para a Casa do Senhor.
O dízimo foi regulamentado pela Lei de Moisés (Dt 26.12; 12.6). A palavra hebraica traduzida por dízimo é מעשר e significa décima parte. O dízimo não era a única oferta que o povo deveria trazer ao Senhor. Havia outras ofertas e sacrifícios (Cf. Nm 29; Lv 12; Ex 23.14-19). Nas festas anuais a ordem era para que ninguém aparecesse de mãos vazias (Ex 23.15). Até no nascimento de uma criança havia necessidade de oferecer sacrifícios. Observe que Maria cumpriu esse mandamento.
O dízimo era destinado à manutenção dos levitas, órfãos e viúvas.
Não obstante a regulamentação do dízimo pela Lei de Moisés, a prática é muito antiga precedendo a Lei, de forma que desde o tempo dos patriarcas Abraão e Jacó o costume já existia (Gn 14.18-24; 28.22).
Assim sendo, depreende-se que o texto de Ml acerca do dízimo não visa regulamentar todo o sistema de ofertas do AT e tampouco apresentar uma promessa automática de bênçãos para aqueles que derem o dízimo.
O objetivo do profeta consiste em repreender a conduta negligente e o descaso do povo para com a Casa do Senhor. Com efeito, o pecado do povo não consistia apenas em sonegar o dízimo, mas em agir com total descaso para com a Casa do Senhor, conforme foi salientado no capítulo 1.
Tal conduta foi novamente ameaçada com a maldição do Senhor. Reitere-se que a maldição refere-se às maldições descritas em Dt 28 e que o povo conhecia muito bem por ocasião do cativeiro babilônico.
A propósito, o profeta Ageu já havia advertido o povo e proferido maldições contra a negligência do povo que estava mais preocupado com a própria casa em detrimento da Casa do Senhor, abandonando-a.
A fidelidade do povo nas contribuições, das quais o dízimo era uma, redundaria em copiosas e imensuráveis bênçãos.

ii) interprete o dízimo de acordo com o NT
Conforme já foi mencionado, a grande questão é: esse texto e sua respectiva promessa são aplicáveis à igreja do NT?
Convém reiterar que a interpretação, e, mormente a aplicação de certos textos do AT, devem se coadunar e passar pelo crivo do NT, sob pena de incorrer em equívocos.
Muitos, correndo grande perigo de se equivocarem, e sem qualquer análise prévia do texto e seu contexto, dão um grande salto interpretativo alcançando a igreja de hoje, de forma que a conclusão inexorável é que os dizimistas fiéis receberão grandes bênçãos. Mas esses saltitantes esquecem-se de explicar aos crentes se as nações chamarão a igreja de bem-aventurados, e ignoram totalmente as demais ofertas prescritas no AT.
Após a inauguração do período da graça com a descida do Espírito Santo em At 2, não há mais qualquer menção ao vocábulo dízimo. Isso não quer dizer que haja omissão no tocante a ofertas. Pelo contrário, vários textos do NT versam sobre ofertas: At 2.45; 4.32-37; 2Cor 8, 9; 1Cor 16.2; Gl 6.6; Fp 4.14, 15; 1Tm 5.17,18.
Os textos do NT atrelam as ofertas à manutenção dos obreiros e dos necessitados. Há forte ênfase na generosidade e voluntariedade, de modo que a doutrina do NT não precisou regulamentar especificamente a quantidade das ofertas como o AT fazia. Isso já não é necessário, porquanto a Lei do Amor de Cristo – amor sacrificial e incondicional – que agora rege a igreja prega a generosidade, a oferta da própria vida em favor do próximo. Desse modo, é anacronismo retomar o assunto sobre quantidade.
Portanto, creio que o texto de Ml pode ser aplicado não no sentido literal de que a igreja está obrigada tão-somente a dar o dízimo, recebendo, após a fidelidade, as bênçãos descritas em Ml. Até porque, além de haver outros tipos de ofertas, as promessas de Ml estão adstritas à nação de Israel, e se cumprirão cabalmente com a vinda do Senhor, quando o povo de Deus será bem-aventurado perante as nações.
O texto em apreço deve ser aplicado com vistas a repreender nossa atitude negligente para com a obra do Senhor no tocante às ofertas. De modo que, se dermos somente a décima parte de nossos rendimentos, podendo dar mais, mesmo assim estaremos em falta, visto que o NT nos ensina a darmos com ampla generosidade e voluntariedade, imbuídos de amor.

iii) entenda o desprezo e ignorância do povo.
Com efeito, a sonegação dos dízimos além de revelar a negligência do povo para com a Casa do Senhor, também denotava a ignorância do povo acerca da ação de Deus.

A dedicação do povo a Deus é representada pela fidelidade nas ofertas e pelo entendimento correto acerca da ação de Deus. De forma que, a sonegação das ofertas e ignorância acerca da ação de Deus representam desprezo e descaso do povo.
O povo achava que servir a Deus era inútil. A palavra hebraica traduzida por inútil é שוא e também significa vacuidade, nulidade, vazio. Ou seja, servir a Deus era um nada. De modo que não haveria diferença qualquer entre o ímpio e o justo, entre o fiel aos mandamentos e o desobediente.
Naturalmente, essa compreensão acerca de Deus refletia nos demais atos religiosos do povo. Como alguém se sentiria estimulado a dar o seu melhor sacrifício a Deus ou a ofertar com fidelidade se isso não trouxesse qualquer recompensa ou fizesse qualquer diferença?

iv) verifique e cumpra a mensagem desse trecho
À medida que ignorarmos ou desprezarmos o conhecimento verdadeiro da ação de Deus entre nós, e, consequentemente, não contribuirmos com a obra do Senhor, seremos repreendidos pelo Senhor, e, privados das bênçãos do Senhor, colhendo as maldições.

6) Como entender e praticar Ml 4.1-6
Introdução
Esse último trecho fecha o livro com uma mensagem acerca do juízo de Deus, e relaciona-se com o trecho anterior.
O livro do Profeta Malaquias é estruturado em forma de repetição de assuntos. O livro pode ser dividido em duas seções: repreensão e dia do Senhor. Na primeira seção (1.1-3.6), o livro começa com repreensão e termina com o dia do Senhor, repetindo a mesma ordem a partir de 3.7-4.6).
Assim sendo, concluindo a segunda seção, o profeta anuncia que o dia do Senhor virá trazendo castigo para os ímpios e cura para os tementes
No trecho anterior, o povo ofendeu a Deus ao dizer que não havia proveito algum em servir a Deus. A seu turno, a resposta de Deus é enfática e inequívoca: o dia do Senhor virá e trará a salvação para aqueles que temerem o Senhor e condenação aos ímpios.
Logo, o pensamento do povo não subsistirá ante o dia glorioso do Senhor.
Contudo, a vontade de Deus era que o povo se lembrasse de Sua Lei. Caso o povo não se arrependesse da postura negligente e apática diante do Senhor, a terra seria ferida com maldição. Com efeito, o povo entendia o significado e extensão da palavra traduzida por maldição, que é a última palavra do livro.
A palavra hebraica é חרם , transliterada por cherem , que significa coisa amaldiçoada e condenada. Essa palavra aparece em Js 6.17, de forma que Jericó é chamada de cherem. A imputação desse título a Jericó implicava que a cidade seria totalmente destruída, o que aconteceu, com exceção da casa de Raabe.
Portanto, o povo tinha pleno entendimento de que as consequencias seriam drásticas e terríveis, não muito diferentes do que ocorreu no exílio.

i) entenda o AT a partir do NT
Mais uma vez o entendimento preciso e correto de 4.5 só será possível se for cotejado com o NT. Porquanto Nosso Senhor Jesus afirma indubitavelmente que o Elias profetizado por Malaquias é João Batista (Mt 11.13,14; 17.10-13; Mc 9.11,13; Lc 1.17; 7.26-28).
Portanto, o livro de Malaquias é “o livro de João Batista”, porquanto em duas ocasiões o livro faz menção ao Profeta João Batista que anunciou a vinda do Senhor.
É interessante notar que nos dias de João Batista o contexto religioso dos líderes espirituais não diferiam muito do contexto de Malaquias. Pois os sacerdotes partidários dos saduceus estavam mais preocupados com questões políticas que religiosas. O partido fiel dos fariseus já havia se debandado para o legalismo e ritualismo desprovido de devoção genuína ao Deus de Israel.

verifique e cumpra a mensagem desse trecho
O profeta Elias já veio, o grande e terrível dia do Senhor se aproxima. Devemos estar preparados para esse dia, temendo o Senhor para que sejamos restaurados completamente e não condenados com os ímpios.

Conclusão
O livro do Profeta Malaquias é inspirado pelo Espírito Santo. Mas tal inspiração não retira do livro a característica de um livro que foi escrito originalmente em hebraico a aproximadamente 2.500 anos atrás, destinando a um povo que vivia num ambiente geográfico muito distinto do nosso.
Essa característica do livro impõe-nos várias barreiras lingüísticas, literárias, cronológicas, culturais e geográficas, que precisam ser superadas para uma correta compreensão da mensagem.
Para superar tais barreiras precisamos usar as regras hermenêuticas, pois via de regra o Espírito Santo não faz as vezes de um professor de português, hebraico, geografia, história, etc..
Ainda assim, por se tratar de uma literatura sui generis, especial, há necessidade premente do Espírito Santo abrir nossa mente e revelar-nos Sua palavra, pois senão seremos privados do correto entendimento das Sagradas Escrituras.
À vista disso, as regras hermenêuticas expostas no decorrer do livro podem ser sintetizadas assim:

1) Ore e busque o Senhor Deus por meio de Jesus Cristo, a fim de que envie o Espírito Santo para o iluminar
2) Estude nosso vernáculo, a língua portuguesa, a sintaxe e morfologia, e, se possível as línguas originais, tendo sempre em mãos outras traduções em português (NVI, ARA, ARC, ACF, BJ, etc.).
3) Não se esqueça de atentar para o contexto do texto, a idéia preponderante do trecho, o propósito, a mensagem.
4) Considere o tipo literário do livro (profético, histórico, sapiencial, doutrinário, epistolar, apocalíptico, poético).
5) Estude o contexto histórico, cronológico, cultural e geográfico, considerando os textos bíblicos paralelos relacionados e outras fontes de pesquisa extrabíblicas, como dicionários, comentários, etc..
6) Atente para a distinção que há entre o período do AT e do NT.
7) Extraia e apreenda a mensagem do livro.
8) Cumpra a mensagem pela graça do Senhor e auxílio do Espírito Santo.
9) Considere eventual problema de crítica textual.

PROFETA MALAQUIAS 3

3) Como entender e praticar Ml 2.1-16
Introdução
As advertências e repreensões continuam. Agora, a questão se volta contra outros pecados, como o dever de ensinar a lei do Senhor e se casar com esposas fiéis ao Senhor, mantendo a fidelidade conjugal.

A) Deus repreende os sacerdotes por causa da violação dos mandamentos da aliança: o dever do sacerdote de cumprir e ensinar a Lei do Senhor
i) entenda o contexto histórico do livro por meio de outros livros da Bíblia
O Livro de Malaquias exige que o leitor tenha um prévio conhecimento do ofício sacerdotal. Conforme já dito alhures, esse livro possui estreita conexão com os cinco primeiros livros da Bíblia, chamado de Torá que significa Lei, especialmente, Ex, Lv, Nm e Dt. Aliás, todos os livros do AT possui alguma correspondência com a Lei de Deus revelada nos cinco primeiros da Bíblia. Pois esta é como se fosse a Constituição Suprema de Israel, ao passo que os demais escritos um desenvolvimento e esclarecimento da Torá.

ii) origem e responsabilidade dos sacerdotes
Os versículos a seguir descrevem com detalhes a origem e a responsabilidade dos sacerdotes: Ex 28.1; 29.29, 44; 6.16-20; Nm 18.1,-7, 20-23; Dt 31.9. Verifica-se que o sacerdote deveria ser um intermediador entre o povo e Deus, de forma que os rituais e ofertas eram oficiados pelos sacerdotes. Assim sendo, ninguém poderia oficiar questões religiosas ligadas ao tabernáculo ou ao templo do Senhor, a não ser os sacerdotes. O ofício sacerdotal começou com Arão, irmão de Moisés, que era da Tribo de Levi. A sucessão sacerdotal era perpétua e restrita aos descendentes de Arão, e à tribo de Levi. Por isso, é comum também chamar os sacerdotes de levitas.
Os sacerdotes/levitas também tinham a incumbência de ensinar a Lei do Senhor, e julgar conflitos relacionados com a Lei do Senhor (Dt 17.8-13).
Atente para a singular responsabilidade dos sacerdotes, mormente numa época em que não havia um rei como Davi, Ezequias ou Josias. O povo não tinha plena autonomia política, de modo que competia aos sacerdotes tomar as rédeas espirituais da nação, e em alguns casos, civis e criminais.

iii) pecado dos sacerdotes
Todavia, de quem se esperava o exemplo, veio o escândalo. Os sacerdotes negligenciaram sua responsabilidade de ensinar o povo. Pelo contrário, além de não ensinarem a Lei do Senhor, ainda fizeram outros tropeçarem (v. 8).
O v. 9 afirma que os sacerdotes fizeram “acepção de pessoas”. Essa expressão encontra-se também em Dt 16.19, que estabelece os deveres dos juízes, dentro os quais, o de não favorecer alguém em detrimento de outrem, por exemplo, o rico em detrimento do pobre, mas que julgasse com justiça.
Possivelmente, essa repreensão esteja relacionada com o pecado condenado por Neemias, a saber, o de emprestar a juros aos irmãos. Esse pecado era proibido na Lei do Senhor (Ex 22.25), e já havia sido condenado por Ezequiel, algum tempo antes (Ez 18.8). Os sacerdotes foram omissos, não condenando o erro de todos, mas favorecendo os mais abastados, ou até cometendo esse pecado, de forma que Neemias exigiu que eles fizessem juramento para que obedecessem as palavras de Neemias (Ne 5.12).
Dessa forma, é bem provável que na época de Malaquias os sacerdotes reincidissem na cobrança de juros, uma prática que sempre se repetia no meio do povo. Interessante é que até hoje os judeus são bem conhecidos por essa prática.

B) Deus repreende o povo por causa da violação dos mandamentos da aliança: o dever do povo de não se casar com mulheres estrangeiras e de não se divorciar ou adulterar, mas ser fiel à esposa
Os sacerdotes se casaram com mulheres de outras religiões e que não pertenciam ao povo do Senhor, pois nos versículos seguintes o povo é condenado por esse erro (v. 11). Portanto, os sacerdotes fizeram o povo tropeçar dando um péssimo exemplo ao povo.
Já nos dias de Esdras, e, aproximadamente 25 anos depois, o povo e os sacerdotes estiveram envolvidos com esse pecado (Ed 10.2-14; 13.23-28).
A Lei do Senhor proibia expressamente qualquer união conjugal entre o povo do Senhor e os demais povos (Dt 7.1-4), com vistas a manter o povo puro e longe da idolatria.
Diante desses pecados, Deus amaldiçoaria os sacerdotes, caso não se arrependessem. Mais uma vez a palavra maldição é utilizada em 2.1 (וְאָרוֹתִי , qal, imperfeito, 1ª pessoa do singular do verbo rr'a ).
O povo de Israel certamente deveria ficar espantado ao ouvir esta palavra maldição. É a mesma palavra que aparece em Dt 28 dizendo que se o povo desobedecesse a Deus seriam malditos e sofreriam terríveis castigos. Há aproximadamente 150 anos atrás os israelitas experimentaram todas as maldições descritas em Dt 28.
Assim sendo, a palavra maldição deveria alertar o povo para que não desobedecessem a Deus novamente, pois caso contrário a maldição os alcançaria novamente.

verifique e cumpra a mensagem desse capítulo
Esse capítulo ensina que os líderes devem ser exemplos para o povo, ensinando a Lei do Senhor e guardando-a, e que o casamento possui prescrições que devem ser observadas, quais sejam, casamento com pessoas da mesma fé, e fidelidade conjugal.
A violação dessa mensagem acarretará sérias consequências, de forma que a mensagem não é opcional mas compulsória.
Assim sendo, podemos propor a seguinte mensagem prática:
Nossos líderes devem ensinar a Lei do Senhor e cumpri-las, dando o exemplo. Nossos casamentos devem ser realizados entre cristãos, marido e mulher com a mesma fé e devoção no Senhor; devemos primar pela fidelidade conjugal. Não ficaremos impunes se desobedecermos essa mensagem.

4) Como entender Ml 2.17-3.1-5
Introdução
Nesse capítulo uma observação é bem pertinente. Observe a proposta de estudo desse trecho. Em vez de começar com o capítulo três, iniciamos com o último versículo do capítulo 2, a saber, o v. 17, junto com o capítulo 3. Por quê? O contexto do texto indica que o versículo 17 inicia um novo bloco. Logo, essa divisão em capítulo e versículo não foi correta.
A título de curiosidade, a Bíblia Latina, conhecida como Vulgata, fez a divisão em capítulos. A divisão em capítulos e versículos tem sido atribuída a Lanfranc, arcebispo de Cantuária, Grã-Bretanha (falecido em 1089), ou a Estêvão Langton, arcebispo da Cantuária (falecido em 1228), ou ainda a Hugo de Sancto Caro, do século XIII. No entanto, a primeira vez que um texto do AT foi publicado com divisão em versículos e capítulos ocorreu em 1571. Esse trabalho foi realizado por Ário Montano. A publicação do NT grego com essa divisão coube a Roberto Estéfano em 1551. As divisões sofreram modificações até serem padronizadas[1].
Uma vez que a divisão dos textos bíblicos foi empreendida por homens, não sendo tarefa do Espírito Santo, o leitor deve tomar cuidado para não desconsiderar um versículo do seu contexto simplesmente porque não faz parte do mesmo capítulo.

A) Deus enviará seu mensageiro para trazer juízo e castigar os pecadores e purificar os sacerdotes.
Após a seção de repreensão descrita nos capítulos anteriores, o profeta Malaquias agora fala sobre o juízo condenatório e purificador de Deus. Isto é, o juízo do Senhor terá estas duas características: purificar seu povo e condenar os rebeldes (3.3 e 5).
Somente após a purificação do seu povo a oferta será agradável ao Senhor (3.4).
Enquanto não houver purificação as ofertas seriam inúteis e rejeitadas pelo Senhor. De sorte que a religião do povo seria vã, não menos reprovável que as demais.

B) Quem é o mensageiro do Senhor?
i) entenda o AT de acordo com o NT
O texto de Ml 3.1 remete-nos à crucial pergunta: quem é o mensageiro do Senhor? Ora, se Jesus não houvesse falado nada, poderíamos esperar esse mensageiro ou tentar identificá-lo com alguém.
Contudo, Jesus falou que esse mensageiro era João Batista (Mt 11.10 e Mc 1.2). A propósito, esse texto é o segundo versículo do evangelho de Marcos.
Portanto, o texto de Ml 3.1 deve ser entendido de acordo com o ensino do Novo Testamento. Semelhantemente, outras passagens do AT devem passar pelo crivo da interpretação do NT. De forma que o NT deve fornecer a base para nossa interpretação do AT. Por exemplo, hoje não praticamos mais a circuncisão e não guardamos mais datas comemorativas do AT e tampouco guardamos o sábado porque no NT, mais precisamente em Gl e Rm, está escrito que não há mais necessidade de guardar tais dias.
Dessa forma, muitas passagens do AT devem ser interpretadas de modo a se coadunar com o NT.
Voltando ao texto, João Batista foi o mensageiro profetizado por Malaquias. E ele preparou o caminho para o juízo de Deus. Esse juízo já se cumpriu parcialmente na medida em que os verdadeiros judeus e adoradores de Deus foram purificados de modo que agora fazem parte do novo Israel de Deus, ao passo que os falsos e pecadores judeus foram condenados, sendo cortados de Cristo (Rm 9).
No entanto, esse juízo será completo quando Jesus retornar e separar o joio do trigo.
No tocante ao uso do AT pelo NT, a questão é bem polêmica. Não há consenso entre os exegetas sobre isso. Alguns entendem que alguns textos do AT têm um duplo sentido, e que o NT captou o segundo sentido. Outros entendem que algumas passagens do AT apenas foram usadas de forma figurada, como exemplo, e não como citação literal pelo AT. Assim, não haveria duplo sentido, mas apenas uma citação exemplificativa, elucidativa e figurada.
O presente trabalho não permite uma análise acurada da questão, visto fugir do escopo proposto. Entretanto, a seguir apresento as sugestões de Zuck acerca do assunto, as quais entendo serem pertinentes:
Os objetivos das citações do AT consistem em: a) ressaltar o cumprimento ou a concretização de uma predição do AT; b) confirmar que um acontecimento do NT está de acordo com um princípio do NT; c) explicar uma proposição do AT; d) confirmar uma proposição do NT; e) ilustrar uma verdade do NT; f) aplicar o AT a um acontecimento ou a uma verdade do NT; g) sintetiza um conceito do AT; h) utilizar a terminologia do AT; i) traçar um paralelo com um acontecimento do AT; j) associar com Cristo uma situação do AT.

verifique e cumpra a mensagem desse capítulo
O juízo de Deus já veio parcialmente, mas devemos estar atentos para não sermos julgados pelo Senhor, sendo cortados de Cristo. Permaneçamos firmes no Senhor até o dia da sua vinda, pois os eleitos serão purificados e a adoração dos eleitos será agradável aos olhos de Deus.
[1] GEISLER, Norman (et al). Introdução Bíblica. 1ª ed., São Paulo: 1997, p. 133.
CAMFORT, Philip Wesley. A Origem da Bíblia. 6ª Ed., Rio de Janeiro: 2006, p. 343.

PROFETA MALAQUIAS 2

2) Como entender e praticar Ml 1.1-14
Introdução
O livro de Malaquias foi escrito em hebraico, de modo que temos apenas uma tradução do livro para o português. Sua mensagem foi dirigida a aproximadamente 2.500 anos atrás. Logo, a compreensão exata do livro depende de certas regras que serão analisadas no decorrer do estudo.

A) Deus ama o seu povo 1.2-5
i) entenda o contexto linguístico e literário
É importante frisar que uma correta interpretação exige no mínimo um bom conhecimento de português. É preciso atentar para o significado das palavras (análise morfológica) e as idéias contidas nas frases, orações, parágrafos, seções e do livro todo (análise sintática).
As palavras, frases e orações não podem ser isoladas do texto. Caso contrário, a interpretação errônea será inevitável. Por isso, o leitor deve tomar cuidado com as divisões dos textos em capítulos, versículos e títulos, visto que tais divisões não fazem parte dos originais e nem sempre estão corretas, visto serem produto humano sem inspiração divina.
Outra questão importante é atentar para o tipo de literatura. Isso auxilia a correta interpretação. Uma poesia tem características próprias que a distingue das narrativas.
O livro de Malaquias tem uma característica própria. Classifica-se como literatura profética. Como literatura profética tem suas peculiaridades. A grosso modo, toda literatura profética tem as seguintes características básicas: exortação contra o pecado do povo diante da santidade de Deus, um anúncio acerca do futuro, e promessas de restauração.
Caso o leitor não conheça as línguas originais, e não tenha condições de aprendê-las, deverá usar outras traduções da Bíblia para cotejar as diferentes traduções e verificar o sentido do texto. Porque a tradução é humana e pode conter equívocos. Assim, o uso de outras traduções ajuda a dirimir eventuais equívocos.
Voltando para o texto em comento, podemos verificar que o profeta inicia a mensagem de Deus relembrando o amor seletivo e gracioso de Deus em favor do povo.
Para compreender o texto é necessário recorrer ao contexto histórico. Tal contexto está no próprio livro de Gênesis, especialmente o capítulo 34.19-34. Este texto denota o amor que Deus teve por Jacó antes mesmo de nascer. Deus amou e escolheu Jacó, ao invés de seu irmão Esaú. Antes que ambos nascessem e tivessem feito algo para agradar a Deus.
Os livros bíblicos possuem uma certa interdependência, de modo que o entendimento de um texto bíblico às vezes pode exigir o conhecimento de outro texto bíblico. Por isso, algumas Bíblias fornecem uma concordância nas notas de rodapé, de forma que o leitor é remetido a outro texto paralelo para entender melhor o texto lido.
Mas cuidado com o que alguns chamam de paralelomania. Nem todos os textos têm uma relação direta com outro texto. Portanto, é possível fazer paralelos forçados e até exagerados, sem qualquer relação, incorrendo, assim, num erro.

B) Deus requer um sacrifício digno de sua honra e amor
i) entenda o contexto introdutório do livro, sua cronologia e história
Antes de analisar o texto propriamente dito, é pertinente e muito proveitoso ponderar o contexto introdutório do livro. Isso lança muita luz ao texto analisado, de forma que detalhes antes despercebidos saltam aos nossos olhos, em virtude da história subjacente do livro, ou seja, o pano de fundo do livro, os acontecimentos que estão por trás do texto.
Vejamos então:
É possível datar o livro do ano de 430 a.C. Antes dessa data, o povo de Deus, a nação de Israel, havia sido levado cativo para a Babilônia por causa dos pecados. Isso aconteceu em três etapas: 605, 597 e 586 a.C., quando Jerusalém e o templo de Salomão foram totalmente destruídos pela Babilônia, que era governada por Nabucodonosor.
No ano de 515 a.C o templo foi reconstruído sob a supervisão de Esdras, o sacerdote. Seguidamente, várias reformas de ordem religiosa, política, moral foram empreendidas por Neemias e Esdras, auxiliados pelos profetas Ageu e Zacarias.
Portanto, a mensagem de Malaquias está totalmente relacionada com os acontecimentos e exortações descritos nos livros de Esdras, Neemias, Ageu e Zacarias. De sorte que uma compreensão exata do livro de Malaquias requer uma leitura cuidadosa dos livros citados.
Uma lição interessante é comparar os problemas relacionados naqueles livros com o livro de Malaquias. Haverá correspondências. Uma delas é a indiferença religiosa do povo.

ii) entenda a repreensão de Deus
Após ressaltar o amor gracioso, seletivo e incondicional de Deus, o profeta repreende o povo em virtude dos sacrifícios oferecidos com defeito.
Esses sacrifícios de animais defeituosos não eram compatíveis com a honra devida ao Senhor Deus, que se compara com um pai e senhor. Uma pessoa importante, como um governador, aceitaria essa oferta defeituosa? E Deus deve receber essa oferta?
O raciocínio é lógico. Mas, para que ninguém alegasse uma ignorância ou outra escusa, no Livro de Levítico já havia uma orientação no sentido de proibir ofertas de animais defeituosos (Lv 22.19-22). Mais uma vez usamos um texto paralelo para elucidar o texto estudado.
O pior era que os sacerdotes, que estavam incumbidos de oferecer os sacrifícios, consentiam na oferenda daqueles animais impróprios com total resignação.

iii) atente para um detalhe linguístico
Deus decreta a maldição contra aquele que oferece animal defeituoso. O verbo hebraico traduzido por amaldiçoado é rr'a; . Essa mesma palavra aparecerá em outros capítulos.

iv) verifique a mensagem do capítulo
Após análise das palavras, frases, orações, parágrafos, contexto introdutório e histórico do livro, é oportuno constatar a mensagem do capítulo.
Eis a mensagem do capítulo:
O amor especial de Deus para com o povo de Israel não era compatível com a oferta de animais defeituosos dedicadas a Deus pelo povo, com o consentimento dos sacerdotes. A maldição era inevitável.

v) cumpra a mensagem do capítulo
Antes de tudo é pertinente fazer a distinção entre o período do AT, chamado de dispensação da lei, Antiga Aliança, época da lei, e o período em que vivemos, chamado de dispensação da graça, Nova Aliança, época da graça, inaugurada com a descida do Espírito Santo em At. 2. Essa distinção ajuda a afastar confusões e distorções acerca da aplicabilidade de certos textos, principalmente do AT, que não possuem correspondência com a época em que vivemos.
Então, como cumprir a mensagem desse capítulo? Não oferecemos mais sacrifícios no templo e tampouco na igreja, obviamente, porquanto Cristo Jesus já foi sacrificado por nós como o Cordeiro de Deus. Ou seja, nossa época é distinta da época do profeta, pois os sacrifícios de animais faziam parte dos rituais sagrados e eram realizados no templo até que Cristo foi sacrificado definitivamente por nós, tratando-se de uma prática exclusivamente do AT, estabelecida pelo próprio Deus.
Logo, nesse caso o cumprimento da mensagem não é literal, isto é, ninguém levará seu melhor boi na igreja e ofertá-lo. Deveremos extrair os princípios inerentes a essa mensagem.
Assim, podemos propor a seguinte mensagem prática para nós:
Nossa oferta a Deus deve ser compatível com Seu amor especial por nós, ou seja, Deus nos amou de tal maneira que enviou seu Filho para morrer por nós, e nós devemos honrar a Deus, dando o que temos de melhor de nossa vida, bens materiais e imateriais. Caso contrário a maldição será inevitável.

PROFETA MALAQUIAS 1

Como entender e praticar a mensagem do Profeta

Introdução
A Bíblia Sagrada não é um mero livro como outro qualquer. Trata-se da Palavra de Deus, escrita por homens que foram inspirados por Deus, e é totalmente apta para nos ensinar, corrigir e nos tornar perfeitos e perfeitamente habilitados para toda boa obra (2Pe 1.21; 2Tm 3.16).
Uma vez que a Bíblia Sagrada é o livro pelo qual Deus escolheu se revelar e se comunicar conosco, devemos envidar todo esforço no sentido de compreender sua mensagem e praticá-la.
Nessa preciosa empreitada de entender a mensagem para cumpri-la não podemos jamais menosprezar o sublime e imprescindível auxílio do Espírito Santo de Deus, o qual é o autor divino do livro, intérprete e aplicador da mensagem (Jo 14.26, 16.13).
No entanto, como a Bíblia é também um livro humano, ou seja, escrito por homens inspirados por Deus, a compreensão da mensagem não está desvinculada ou dissociada das regras universais de interpretação de texto. Por isso, precisamos atentar para as regras da hermenêutica. A tarefa da hermenêutica é estudar as regras de interpretação de um texto.
Esse trabalho hermenêutico se baseará no Livro do Profeta Malaquias. Como Malaquias não está mais entre nós, e não deixou nenhum porta-voz que pudesse nos explicar e esclarecer sua mensagem, resta-nos lançar mão das regras de hermenêutica para compreender sua mensagem. Alguém pode perguntar: “Mas o Espírito Santo não pode fazer isso diretamente?” Bem, Ele até pode fazer isso, mas não faz, pois preferiu atuar em outro âmbito, isto é, espiritual, e deixar os recursos humanos para que, utilizando-os, fizéssemos uma boa interpretação. Ou seja, o Espírito Santo não é o substituto do professor de português, hebraico e grego. Não sopra diretamente na mente das pessoas o significado do texto. Pelo contrário, Ele ilumina nossa compreensão, guiando-nos nesse processo de interpretação.
Portanto, nesse trabalho analisaremos os recursos espirituais e humanos necessários à boa interpretação e à prática integral da mensagem. Porque não podemos olvidar que temos de ser praticantes da palavra e não somente intérpretes, ou melhor, ouvintes (Tg 1.22).
Enfim, não adianta nada compreender perfeitamente a mensagem e não pô-la em prática. Por outro lado também, o integral cumprimento da palavra depende de uma interpretação escorreita.

1) A origem da palavra de Malaquias

Introdução
Como já foi mencionado, a Bíblia Sagrada é um livro sui generis, especial e diferente de todas os livros existentes. Para o correto entendimento de sua mensagem não basta utilizar cegamente os recursos humanos disponíveis para a interpretação de sua mensagem. Isto é, não basta analisar o contexto do livro de Malaquias para entender sua mensagem.


A) Deus enviou Sua palavra a Malaquias
A mensagem de Malaquias não vem dele. O texto expressa claramente que vem de Deus, pois a palavra é do Senhor, pertence a Ele. Por isso, não basta aplicar as regras básicas de interpretação sem atentar para a origem da mensagem.

A origem divina da mensagem nos ensina a:

i) Ouvir a voz do Espírito Santo
Antes de ouvirmos o que o profeta Malaquias tem a nos dizer, devemos ouvir o que o autor e o dono da palavra quer falar. Uma vez que a palavra é de Deus, a ele devemos ouvir.
Infelizmente, à medida que os ouvintes desprezam a voz do Espírito Santo, a tendência natural e inexorável é rejeitar a mensagem do profeta. Jesus usou inúmeras vezes a expressão “quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz” (Ap 2.7, 11; 17, 29; 3.6, 13, 22).

ii) orar
Como nossa audição espiritual tem a tendência de apresentar alguns distúrbios como zumbidos, perda auditiva, ou até surdez, a oração é uma forma eficaz de sanar tais problemas.
Nosso adversário trabalha para cegar o entendimento ou impedir que a palavra do Senhor dê frutos (2 Cor 4.4; Mc 4.1-20). Por isso precisamos orar e pedir ao Senhor que nos dê mais e mais entendimento de sua palavra. A propósito, o apóstolo Paulo orava para que Deus desse o Espírito Santo[1] de sabedoria e revelação aos cristãos de Éfeso (Ef 1.17).
Também precisamos orar para colocar a palavra em prática, pois lutamos contra o pecado que habita em nós e contra Satanás.

B) Deus usou Malaquias como um intermediador
A ACF traduz a expressão hebraica בְּיַד מַלְאָכִי como “por intermédio de Malaquias”. A NVI traduz “por meio de Malaquias”. A expressão hebraica literalmente quer dizer “pela mão” ou “com a mão de Malaquias”. Com efeito, o sentido não é que a mensagem passou pelas mãos físicas de Malaquias, como se Malaquias entregasse ao povo um CD gravado pelo Senhor, mas que Malaquias era o intermediador da mensagem, sendo o porta-voz.

C) Deus enviou sua palavra a um povo
Israel é o destinatário das palavras.
A existência de um mediador e um destinatário nos ensina a usar os recursos humanos disponíveis
A mensagem vem de Deus, mas Malaquias é Seu porta-voz. A mensagem vem de Deus, mas Israel é o destinatário. O profeta não usou uma linguagem celestial, porém falou em hebraico, que era a linguagem do povo. O profeta não falou especificamente para todas as eras, porém se dirigiu contra Israel. O profeta não veio do céu, porém se localizava na Palestina.
Todos esses fatores denotam que há uma barreira entre nós e a compreensão da mensagem, pois a mensagem tem várias peculiaridades linguísticas e literária, cronológicas, culturais e geográficas.
Malaquias não falava português, não era brasileiro, não era membro de Igreja Evangélica; se fosse casado, não era casado no cartório ou na igreja, não morava em São José dos Campos, etc..
Observe as inúmeras distinções entre nós e Malaquias. O que fazer agora? Buscar o Senhor e orar? Para superar essas barreiras o próprio Espírito Santo colocou à nossa disposição alguns recursos humanos e regras que nos auxiliam a compreender a mensagem sempre no intuito de pô-la em prática.
[1] Essa palavra pode se referir ao Espírito Santo, devendo ser traduzida por Espírito, como sugere a NVI.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Salmo 116.15

Salmo 116.15
Preciosa é aos olhos do Senhor
a morte dos seus santos.[?]
[1]

A morte dos santos é realmente preciosa aos olhos do Senhor?
Depende. Sim, depende da tradução que você escolher, e do que você quer dizer com preciosa. A pergunta torna-se muito intrigante na medida em que se consulta outras traduções como a NVI
[2] e NTLH[3]. Vejamos:

O SENHOR vê com pesar a morte de seus fiéis. (NVI)
O Senhor Deus sente pesar quando vê morrerem os que são fiéis a ele. (NTLH)

Já ouvi não poucos irmãos usarem esse texto no sentido de que a morte do fiel é agradável aos olhos do Senhor, pois estarão com o Senhor. A idéia não está totalmente equivocada. O equívoco reside no uso desse texto (Sl 116.15) para fundamentar a idéia. Outros textos poderiam ser utilizados para fundamentar essa idéia, mas não o texto em comento (e.g. Fp 1.21-23).
Salmo 116.15 não ensina que Deus se alegra com a morte do fiel, recebendo-o em Seus braços.
O texto hebraico pode ser traduzido assim: “A morte dos fiéis tem um valor muito elevado ou custa muito caro para Deus”. O vocábulo traduzido por “preciosa” ou “pesar” é יָקָר e transmite a idéia de algo cujo preço é elevado, tem um alto valor.
As traduções de Almeida (ARA
[4], ARC[5], ACF[6]) são mais literais, e podem deixar a interpretação dúbia, como tem acontecido. Ou seja, não poucos têm entendido que a palavra hebraica traduzida por “preciosa” tem a conotação de que Deus considera agradável a morte dos fiéis, pois recebê-los-ão a Si.
A seu turno, as traduções modernas (NVI e NTLH) são interpretativas, de modo que não restará dúvida acerca do texto, conquanto a NVI em sua nota de rodapé admita a possibilidade de se traduzir como a ARA. Assim, o leitor não entenderá o texto de outra maneira senão que Deus não se alegra com a morte dos fiéis.
Por isso, afirmei que a resposta dependerá do que se entende por “preciosa”, ou de qual tradução escolher.
Pelo texto hebraico do Salmo 116, analisado de forma isolada, até se poderia entender que a morte do fiel tem valor aos olhos de Deus, porquanto o Senhor recebê-lo-á na glória.
No entanto, analisado o versículo dentro do contexto do Salmo 116, do Livro dos Salmos e da teologia do AT, se depreenderá que a interpretação do texto dada pela NVI e NTLH é a mais consistente e plausível, sendo escorreita.
O próprio contexto do salmo denota que o salmista clamou a Deus, suplicando que o livrasse dos laços de morte. E Deus atendeu o pedido do salmista (116.1-3,8). Se o salmista quisesse expressar a idéia de que sua morte seria agradável a Deus, não clamaria daquela maneira.
Com efeito, o salmista quer expressar a idéia de que a morte dos fiéis tem um valor para Deus e custa caro, de modo que Deus prefere livrar seus fiéis a deixá-los morrer.
Essa idéia a respeito de Deus não entra em contradição com o ensino do NT. A perspectiva é distinta. Deus continua desejando que Seu povo viva muito tenha longevidade, de sorte que a morte prematura e fora dos planos do Senhor, qual seja, aquela decorrente de pecado ou falta de oração, continua não agradando a Deus, e sendo caro para o Senhor.
Ainda assim, após a morte e ressurreição de Cristo, temos a confiança de que a morte foi destruída, o véu rasgado, o acesso a Deus total e amplamente liberado, nosso coração selado com o Espírito Santo, de maneira que podemos ter a certeza de que se morrermos viveremos com Ele.
Assim sendo, o texto de Salmo 116.15 não é apropriado para um culto fúnebre.
[1] O ponto de interrogação não consta no original, mas foi acrescentado por mim para suscitar a questão.
[2] Nova Versão Internacional
[3] Nova Tradução na Linguagem de Hoje
[4] Almeida Revista e Atualizada
[5] Almeida Revista e Corrigida
[6] Almeida Corrigida Fiel