terça-feira, 25 de agosto de 2009

PROFETA MALAQUIAS 3

3) Como entender e praticar Ml 2.1-16
Introdução
As advertências e repreensões continuam. Agora, a questão se volta contra outros pecados, como o dever de ensinar a lei do Senhor e se casar com esposas fiéis ao Senhor, mantendo a fidelidade conjugal.

A) Deus repreende os sacerdotes por causa da violação dos mandamentos da aliança: o dever do sacerdote de cumprir e ensinar a Lei do Senhor
i) entenda o contexto histórico do livro por meio de outros livros da Bíblia
O Livro de Malaquias exige que o leitor tenha um prévio conhecimento do ofício sacerdotal. Conforme já dito alhures, esse livro possui estreita conexão com os cinco primeiros livros da Bíblia, chamado de Torá que significa Lei, especialmente, Ex, Lv, Nm e Dt. Aliás, todos os livros do AT possui alguma correspondência com a Lei de Deus revelada nos cinco primeiros da Bíblia. Pois esta é como se fosse a Constituição Suprema de Israel, ao passo que os demais escritos um desenvolvimento e esclarecimento da Torá.

ii) origem e responsabilidade dos sacerdotes
Os versículos a seguir descrevem com detalhes a origem e a responsabilidade dos sacerdotes: Ex 28.1; 29.29, 44; 6.16-20; Nm 18.1,-7, 20-23; Dt 31.9. Verifica-se que o sacerdote deveria ser um intermediador entre o povo e Deus, de forma que os rituais e ofertas eram oficiados pelos sacerdotes. Assim sendo, ninguém poderia oficiar questões religiosas ligadas ao tabernáculo ou ao templo do Senhor, a não ser os sacerdotes. O ofício sacerdotal começou com Arão, irmão de Moisés, que era da Tribo de Levi. A sucessão sacerdotal era perpétua e restrita aos descendentes de Arão, e à tribo de Levi. Por isso, é comum também chamar os sacerdotes de levitas.
Os sacerdotes/levitas também tinham a incumbência de ensinar a Lei do Senhor, e julgar conflitos relacionados com a Lei do Senhor (Dt 17.8-13).
Atente para a singular responsabilidade dos sacerdotes, mormente numa época em que não havia um rei como Davi, Ezequias ou Josias. O povo não tinha plena autonomia política, de modo que competia aos sacerdotes tomar as rédeas espirituais da nação, e em alguns casos, civis e criminais.

iii) pecado dos sacerdotes
Todavia, de quem se esperava o exemplo, veio o escândalo. Os sacerdotes negligenciaram sua responsabilidade de ensinar o povo. Pelo contrário, além de não ensinarem a Lei do Senhor, ainda fizeram outros tropeçarem (v. 8).
O v. 9 afirma que os sacerdotes fizeram “acepção de pessoas”. Essa expressão encontra-se também em Dt 16.19, que estabelece os deveres dos juízes, dentro os quais, o de não favorecer alguém em detrimento de outrem, por exemplo, o rico em detrimento do pobre, mas que julgasse com justiça.
Possivelmente, essa repreensão esteja relacionada com o pecado condenado por Neemias, a saber, o de emprestar a juros aos irmãos. Esse pecado era proibido na Lei do Senhor (Ex 22.25), e já havia sido condenado por Ezequiel, algum tempo antes (Ez 18.8). Os sacerdotes foram omissos, não condenando o erro de todos, mas favorecendo os mais abastados, ou até cometendo esse pecado, de forma que Neemias exigiu que eles fizessem juramento para que obedecessem as palavras de Neemias (Ne 5.12).
Dessa forma, é bem provável que na época de Malaquias os sacerdotes reincidissem na cobrança de juros, uma prática que sempre se repetia no meio do povo. Interessante é que até hoje os judeus são bem conhecidos por essa prática.

B) Deus repreende o povo por causa da violação dos mandamentos da aliança: o dever do povo de não se casar com mulheres estrangeiras e de não se divorciar ou adulterar, mas ser fiel à esposa
Os sacerdotes se casaram com mulheres de outras religiões e que não pertenciam ao povo do Senhor, pois nos versículos seguintes o povo é condenado por esse erro (v. 11). Portanto, os sacerdotes fizeram o povo tropeçar dando um péssimo exemplo ao povo.
Já nos dias de Esdras, e, aproximadamente 25 anos depois, o povo e os sacerdotes estiveram envolvidos com esse pecado (Ed 10.2-14; 13.23-28).
A Lei do Senhor proibia expressamente qualquer união conjugal entre o povo do Senhor e os demais povos (Dt 7.1-4), com vistas a manter o povo puro e longe da idolatria.
Diante desses pecados, Deus amaldiçoaria os sacerdotes, caso não se arrependessem. Mais uma vez a palavra maldição é utilizada em 2.1 (וְאָרוֹתִי , qal, imperfeito, 1ª pessoa do singular do verbo rr'a ).
O povo de Israel certamente deveria ficar espantado ao ouvir esta palavra maldição. É a mesma palavra que aparece em Dt 28 dizendo que se o povo desobedecesse a Deus seriam malditos e sofreriam terríveis castigos. Há aproximadamente 150 anos atrás os israelitas experimentaram todas as maldições descritas em Dt 28.
Assim sendo, a palavra maldição deveria alertar o povo para que não desobedecessem a Deus novamente, pois caso contrário a maldição os alcançaria novamente.

verifique e cumpra a mensagem desse capítulo
Esse capítulo ensina que os líderes devem ser exemplos para o povo, ensinando a Lei do Senhor e guardando-a, e que o casamento possui prescrições que devem ser observadas, quais sejam, casamento com pessoas da mesma fé, e fidelidade conjugal.
A violação dessa mensagem acarretará sérias consequências, de forma que a mensagem não é opcional mas compulsória.
Assim sendo, podemos propor a seguinte mensagem prática:
Nossos líderes devem ensinar a Lei do Senhor e cumpri-las, dando o exemplo. Nossos casamentos devem ser realizados entre cristãos, marido e mulher com a mesma fé e devoção no Senhor; devemos primar pela fidelidade conjugal. Não ficaremos impunes se desobedecermos essa mensagem.

4) Como entender Ml 2.17-3.1-5
Introdução
Nesse capítulo uma observação é bem pertinente. Observe a proposta de estudo desse trecho. Em vez de começar com o capítulo três, iniciamos com o último versículo do capítulo 2, a saber, o v. 17, junto com o capítulo 3. Por quê? O contexto do texto indica que o versículo 17 inicia um novo bloco. Logo, essa divisão em capítulo e versículo não foi correta.
A título de curiosidade, a Bíblia Latina, conhecida como Vulgata, fez a divisão em capítulos. A divisão em capítulos e versículos tem sido atribuída a Lanfranc, arcebispo de Cantuária, Grã-Bretanha (falecido em 1089), ou a Estêvão Langton, arcebispo da Cantuária (falecido em 1228), ou ainda a Hugo de Sancto Caro, do século XIII. No entanto, a primeira vez que um texto do AT foi publicado com divisão em versículos e capítulos ocorreu em 1571. Esse trabalho foi realizado por Ário Montano. A publicação do NT grego com essa divisão coube a Roberto Estéfano em 1551. As divisões sofreram modificações até serem padronizadas[1].
Uma vez que a divisão dos textos bíblicos foi empreendida por homens, não sendo tarefa do Espírito Santo, o leitor deve tomar cuidado para não desconsiderar um versículo do seu contexto simplesmente porque não faz parte do mesmo capítulo.

A) Deus enviará seu mensageiro para trazer juízo e castigar os pecadores e purificar os sacerdotes.
Após a seção de repreensão descrita nos capítulos anteriores, o profeta Malaquias agora fala sobre o juízo condenatório e purificador de Deus. Isto é, o juízo do Senhor terá estas duas características: purificar seu povo e condenar os rebeldes (3.3 e 5).
Somente após a purificação do seu povo a oferta será agradável ao Senhor (3.4).
Enquanto não houver purificação as ofertas seriam inúteis e rejeitadas pelo Senhor. De sorte que a religião do povo seria vã, não menos reprovável que as demais.

B) Quem é o mensageiro do Senhor?
i) entenda o AT de acordo com o NT
O texto de Ml 3.1 remete-nos à crucial pergunta: quem é o mensageiro do Senhor? Ora, se Jesus não houvesse falado nada, poderíamos esperar esse mensageiro ou tentar identificá-lo com alguém.
Contudo, Jesus falou que esse mensageiro era João Batista (Mt 11.10 e Mc 1.2). A propósito, esse texto é o segundo versículo do evangelho de Marcos.
Portanto, o texto de Ml 3.1 deve ser entendido de acordo com o ensino do Novo Testamento. Semelhantemente, outras passagens do AT devem passar pelo crivo da interpretação do NT. De forma que o NT deve fornecer a base para nossa interpretação do AT. Por exemplo, hoje não praticamos mais a circuncisão e não guardamos mais datas comemorativas do AT e tampouco guardamos o sábado porque no NT, mais precisamente em Gl e Rm, está escrito que não há mais necessidade de guardar tais dias.
Dessa forma, muitas passagens do AT devem ser interpretadas de modo a se coadunar com o NT.
Voltando ao texto, João Batista foi o mensageiro profetizado por Malaquias. E ele preparou o caminho para o juízo de Deus. Esse juízo já se cumpriu parcialmente na medida em que os verdadeiros judeus e adoradores de Deus foram purificados de modo que agora fazem parte do novo Israel de Deus, ao passo que os falsos e pecadores judeus foram condenados, sendo cortados de Cristo (Rm 9).
No entanto, esse juízo será completo quando Jesus retornar e separar o joio do trigo.
No tocante ao uso do AT pelo NT, a questão é bem polêmica. Não há consenso entre os exegetas sobre isso. Alguns entendem que alguns textos do AT têm um duplo sentido, e que o NT captou o segundo sentido. Outros entendem que algumas passagens do AT apenas foram usadas de forma figurada, como exemplo, e não como citação literal pelo AT. Assim, não haveria duplo sentido, mas apenas uma citação exemplificativa, elucidativa e figurada.
O presente trabalho não permite uma análise acurada da questão, visto fugir do escopo proposto. Entretanto, a seguir apresento as sugestões de Zuck acerca do assunto, as quais entendo serem pertinentes:
Os objetivos das citações do AT consistem em: a) ressaltar o cumprimento ou a concretização de uma predição do AT; b) confirmar que um acontecimento do NT está de acordo com um princípio do NT; c) explicar uma proposição do AT; d) confirmar uma proposição do NT; e) ilustrar uma verdade do NT; f) aplicar o AT a um acontecimento ou a uma verdade do NT; g) sintetiza um conceito do AT; h) utilizar a terminologia do AT; i) traçar um paralelo com um acontecimento do AT; j) associar com Cristo uma situação do AT.

verifique e cumpra a mensagem desse capítulo
O juízo de Deus já veio parcialmente, mas devemos estar atentos para não sermos julgados pelo Senhor, sendo cortados de Cristo. Permaneçamos firmes no Senhor até o dia da sua vinda, pois os eleitos serão purificados e a adoração dos eleitos será agradável aos olhos de Deus.
[1] GEISLER, Norman (et al). Introdução Bíblica. 1ª ed., São Paulo: 1997, p. 133.
CAMFORT, Philip Wesley. A Origem da Bíblia. 6ª Ed., Rio de Janeiro: 2006, p. 343.

Um comentário:

Unknown disse...

Oi Ta, tenho gostado muito de ler suas postagens.
Que Deus continue te abençoando nos estudos de Sua palavra e que possamos aprender também com seus estudos.
Um grande bjo