quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Sabedoria de Pv 8 é messiânica

A sabedoria de Pv 8 e Cristo

Em uma aula virtual no curso de pós-graduação no Mackenzie sobre o a literatura sapiencial, mais especificamente, Pv 8, estava escrito: "Em vários contextos, a sabedoria é personificada; ela é nascida de Deus, ela se alegra no mundo criado, e é a fonte da vida."
Indo além do comentário, faço a seguinte proposição: A Sabedoria de Pv 8, com “S” maiúsculo, não é somente uma pessoa, mas tem matiz messiânica, de modo que fala de Cristo. Assim sendo, não somente foi personificada, mas messianizada.
A seguinte estória pode ilustrar o que proponho: Se eu estivesse numa viagem para Jerusalém lendo Pv 8, e, de repente, o apóstolo Paulo aparecesse ao meu lado perguntando: "Entendes tu o que lês?" Eu não hesitaria em dizer-lhe: "Como poderei entender, se alguém não me ensinar?".
Creio que Paulo me anunciaria Jesus a partir desse texto, dizendo: "Cristo é a sabedoria de Deus" (1Cor 1.24).
Fundamento minha proposição no seguinte raciocínio: A linguagem de Pv se assemelha muito com a linguagem de Jo 1 e Cl 1.
João afirma que Cristo estava no princípio com Deus. Duas vezes ele usa a palavra princípio. O mesmo ocorre em Pv 8. No evangelho de João o vocábulo grego é arché, ao passo que o em Pv 8 o hebraico é re’shiyth. A LXX usa a mesma palavra de João para traduzir o hebraico.
Assim sendo, Tanto Pv quanto João usam o mesmo termo. A palavra princípio transmite a idéia de princípio absoluto, i.e,” algo antes do tempo, não um começo dentro do tempo, mas um princípio absoluto, que se pode afirmar somente com respeito a Deus, de Quem não se pode predicar nenhuma categoria temporal” (Dicionário Internacional de Teologia do NT, p. 368).
Em Cl 1.15-20 que fala da preexistência e supremacia de Cristo, se refere a ele como “o princípio”. A palavra também pode denotar que Cristo é a “causa primordial da criação” (DITNT, p. 369), embora o sentido de Jo 1.1, a saber de “princípio absoluto” não esteja excluído.
Todos os textos em comento (Jo 1.1, Cl 1.15 e Pv 8) falam de um momento chamado princípio, e que nesse momento uma pessoa que se relacionava com Deus estava envolvida na obra da criação.
Portanto, são textos cujo paralelo extrapolam a mera correlação casual de textos, ou coincidência, de modo que a relação dos textos não é forçada pela paralelomania, mas há um contexto que une os textos em torno de um assunto comum: uma pessoa-princípio-criação-Deus.
Ante essa estreita relação, não hesito em afirmar que a sabedoria de Pv tem matiz messiânica. A propósito, outros textos considerados messiânicos (Sl 22, entre outros Salmos) são bem menos explícitos que Pv 8. Ora, se Paulo não hesitou em afirmar que a pedra que jorrava água para o povo no deserto era Cristo, com efeito, faria a mesma afirmação, Cristo é a Sabedoria de Pv 8, se houvesse oportunidade de se manifestar sobre o texto de Pv 8.
A propósito, em outros textos o apóstolo Paulo faz uma declaração implícita, como em 1Cor 1.24, e Cl 2.3. Ou seja, nesses textos, embora Paulo não fizesse alusão direta ao texto de Pv 8, é possível inferir que estivesse referindo-se implicitamente.
Com vistas a elucidar e corroborar minha assertiva, acrescento o seguinte comentário:

“É clara a influência destes VS. No prólogo do Evangelho de João.
A sabedoria se oferece como mediadora eficaz entre Deus e o homem. O NT apresentará mais tarde Cristo como a sabedoria de Deus (1Co 1.24,30; Cl 2.2-3) e como o único mediador eficaz entre Deus e o gênero humano (1Tm 2.5) (Bíblia de Estudo Almeida).

“Visto que os mandamentos e a sabedoria são ligados em Dt 4.6 e, especialmente, no pensamento judaico (por exemplo, Eclesiástico 24.23; Apocalipse de Baruque iii. 37 e segs.), não é surpreendente que o apóstolo Paulo tenha visto Jesus, a nova Torah, como a sabedoria de Deus. Que Paulo via em Cristo o cumprimento de Pv 8.22 e segs. Parece evidente por uma passagem como Cl 1.15 e segs., que reflete intensamente a descrição do Antigo Testamento sobre a sabedoria (Novo Dicionário da Bíblia, p. 1425).”

É verdade que outros comentaristas são mais comedidos e cautelosos na identificação da Sabedoria de Pv com Cristo. Ainda assim, admitem que o texto aponta para Cristo, ainda que de forma indireta.

“Em Provérbios, as referências a Cristo relacionam-se principalmente à caracterização da “sabedoria” no capítulo 8. Mas esse texto faz referência a Cristo apenas de modo indireto. [...] O Novo Testamento lembra-nos, porém, que Cristo é a “sabedoria de Deus” [...]. Muitas das caracterizações da sabedoria em Pv 8.22-31 têm extraordinárias semelhanças cristológicas. (Conheça Melhor o Antigo Testamento, p. 188)

“Por isso, esses versículos não devem ser interpretados como referência direta a Cristo. Não deixam, porém, de fornecer parte dos antecedentes históricos para o retrato que o NT pinta de Cristo como Palavra divina (Jo 1.1-3) e como sabedoria de Deus (1Co 1.24,30; Cl 2.3).” (Bíblia de Estudo NVI).

PROTO-EVANGELHO E PACTO DA GRAÇA

PROTO-EVANGELHO E PACTO DA GRAÇA

O proto-evangelho consiste numa mensagem de esperança dirigida à humanidade caída, ou seja, pecadora, mais especificamente a Adão e Eva. Esse termo não aparece nas Escrituras do AT, mas o conceito é inferido perfeitamente do texto. Antes de tecer alusões sobre o proto-evangelho deve-se ponderar sobre o estado da humanidade, Adão e Eva, os vice-gerentes de Deus.
O relato de Gn 3.1-7 – que é um relato teológico-histórico, tratado pelas Escrituras como fidedignos, e não mitológicos ou fictícios (Rm 5.14) – descreve a queda, isto é, a desobediência de Adão e Eva para com Deus, e, contrariu sensu, a obediência de Adão e Eva para com a mentira da serpente, identificada por Satanás (Ap 12, Jó 1).
O Senhor Deus já havia pronunciado e estabelecido as limitações do homem. Adão e Eva estavam cientes de suas limitações, das prescrições de Deus; por conseguinte, sabiam da maldição inerente à desobediência. Contudo, deram crédito à mentira de Satanás, e numa atitude arrogante e obstinada, desobedeceram a palavra do Senhor Deus.
Tal desobediência poderia ter dado causa à destruição total da humanidade e do cosmos. Pois o Senhor Deus já havia falado que a desobediência implicaria morte.
Então, pelas palavras registradas em Gn 3.8-23 o proto-evangelho é facilmente identificado. O Senhor Deus proferiu uma mensagem de esperança aos seus vice-gerentes, uma vez que a maldição dirigida a Adão e Eva foi mitigada. Adão e Eva não morreram imediatamente, embora isso fosse perfeitamente admissível e justo aos olhos de Deus. Pelo contrário, foram asseguradas aos vice-gerentes de Deus as bênçãos da procriação, do trabalho, embora de forma limitada e com sofrimento. Enfim, os mandatos cultural, social e espiritual estariam em vigor ainda, ainda que com, dor, sofrimentos, lutas e dificuldades, oriundos do mal moral. Na maldição proferida à Satanás (3.14,15), ficou mais evidente ainda que a semente da mulher haveria de triunfar sobre Satanás e sua “semente”. Chegaria o dia em que a semente da mulher esmagaria a cabeça de Satanás.
Isso denota indubitavelmente o proto-evangelho, que consiste numa mensagem de esperança, boa notícia, cuja consumação chegará, e chegou com a vinda de Cristo, restando apenas o cumprindo cabal dessa promessa. A propósito, a Igreja do Novo Testamento associou as boas novas do Senhor Jesus, o Messias, com o proto-evangelho registrado em Gn 3.14,15. Embora pareça ser um anacronismo a menção de um proto-evangelho, à medida que a revelação do Senhor Deus se cumpriu em Cristo Jesus, o qual anunciou o evangelho, as promessas descritas no AT e cumpridas em Cristo são prenúncios desse evangelho (cf. Gl 3.8).
Esse proto-evangelho, assim como o evangelho, está fundado no pacto da graça. Tal pacto implicitamente revelado em Gn 3.8-23 manifesta a graça e a misericórdia do Senhor Deus, visto que Ele não estava obrigado a consignar uma nova aliança com Adão e Eva, mas o fez por sua livre e espontânea deliberação graciosa e misericordiosa. Adão e Eva não mereciam uma mensagem de esperança. Eles mereciam tão-somente a condenação. Por isso esse pacto é chamado de Pacto da Graça, pois originou-se da misericórdia e graça do Senhor Deus.
A graça transmite a idéia de uma ajuda, auxílio em favor de alguém não merecedor. Essa palavra qualifica adequadamente o novo pacto. A propósito, o Novo Testamento está repleto de passagens que relacionam a salvação, redenção da humanidade com a graça de Deus, das quais o versículo clássico é Ef 2.8,9.
O fato do Senhor Deus, ao revelar o proto-evangelho, não ter exigido nenhuma obrigação de Adão e Eva também caracteriza o pacto da graça. O Senhor Deus simplesmente declarou, à guisa da incondicionalidade e irrevogabilidade, que a semente da mulher triunfaria completamente. Por conseguinte, o novo pacto é irrevogável e incondicional; esses predicados também fazem parte das características do pacto da graça. Foi declarado sem hesito ou controvérsia, de forma inequívoca: a semente da mulher triunfaria! Satanás seria esmagado! Tudo isso seria apenas uma questão de tempo.
O pacto da graça trouxe segurança e confiança para a humanidade caída. Nem tudo estava perdido. Havia uma luz; a esperança não sucumbiu. A dor do parto, o suor do rosto, os espinhos e abrolhos, não poderiam se comparar com o que haveria de vir (Rm 8.18)[1]. As maldições declaradas aos vice-gerentes de Deus seriam totalmente removidas. O mesmo Senhor Deus que revelou sua justiça em cumprir a maldição pronunciada a Adão, não deixaria de cumprir suas promessas mencionadas no proto-evangelho.
Agora, o proto-evangelho deveria ser amadurecido até a formação do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. O pacto da graça nutriria e sustentaria tal amadurecimento, até frutificar na mensagem salvífica de Nosso Senhor Jesus Cristo. De modo que a aliança com Noé, Abraão, e os patriarcas, a Lei, a aliança com Davi, são períodos do amadurecimento desse fruto, cuja raiz está no Pacto da Graça, até culminar no precioso suco da vide, a saber, o sangue da nova e eterna aliança: o sangue de Jesus Cristo.
[1] Estou persuadido ou sou propenso a conjecturar que o Apóstolo Paulo, quando escreveu a epístola aos Romanos, poderia não estar com o livro de Gn ao seu lado, mas estava-lho em sua mente.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

DE PASTOR PARA PASTOR

DE PASTOR PARA PASTOR

Antes de tudo, quero esclarecer que não fui ainda ordenado formalmente ao ministério pastoral, embora tenha exercido regularmente o ofício da pregação, discipulado, aconselhamento e evangelização.
Então, alguém já poderia perguntar: O que uma pessoa que não é pastor tem para dizer aos pastores? Não obstante a pertinência da pergunta, ressalto que a palavra não vem de mim ou minha experiência pastoral, mas de um Pastor com “p” maiúsculo, haja vista a forma peculiar de seu ministério, que prestou um imensurável serviço ao reino do Senhor e Sua Igreja: Paulo, chamado apóstolo, pela vontade do Senhor.
O conselho do Pastor Paulo aos pastores hodiernos é extraído de sua segunda carta aos coríntios.
Embora essa carta não seja endereçada a pastores, como suas cartas a Timóteo e Tito, podemos extrair vários conselhos aos pastores hodiernos.
Nessa carta podemos ter uma imagem da pessoa de Paulo, seus sentimentos, sofrimentos, trabalho e experiências. Essa carta tem uma ênfase mais pessoal. Este homem e servo do Senhor sofria, chorava, não era reconhecido por sua igreja, aconselhava com amor e firmeza, não era autoritário e dono da igreja, apresentava suas credenciais para corroborar seu ministério não usando a força, os meios judiciais, etc., embora relutasse em falar de si.
Oxalá os pastores brasileiros e de todo mundo atentassem para o modus vivendi do Pastor Paulo!
Confesso que fico fascinado com o estudo das Escrituras, e ao mesmo tempo triste com a prática pastoral de muitos. Mas tenho um consolo: o que tem acontecido em algumas igrejas nunca foi ensinado pela Palavra do Senhor, pelo contrário, é resultado do abandono das Sagradas Escrituras.
Gostaria de meditar em algumas questões acerca da pessoa do Pastor Paulo em 2 Cor, que, a propósito, traz bastante revelação sobre esse homem que muito contribuiu para a expansão e consolidação do cristianismo no ocidente e oriente.
Antes de adentrar na meditação, é pertinente relembrar sucintamente algumas questões subjacentes da carta.
A segunda carta de Paulo aos Coríntios foi escrita no final de 56 d.C, na região da Macedônia. A cidade de Corinto, localizada na atual Grécia, era uma cidade portuária e, por conseguinte, cosmopolita, de forma que tanto o conhecimento quanto a depravação encontravam solo fértil para proliferação.

1) O Pastor sofria muito (1.8
[1])
“Irmãos, não queremos que vocês desconheçam as tribulações que sofremos na província da Ásia, as quais foram muito além da nossa capacidade de suportar, ao ponto de perdermos a esperança da própria vida.”
O Pastor Paulo realmente sofreu muito. Enfrentou vários tipos de sofrimentos: prisões, muitos açoites, apedrejamento, três naufrágios, um dia no abismo, fome, sede, frio, nudez, além de perigos de morte, no rio, com salteadores, no deserto, com judeus, gentios, falsos irmãos (11.23-28; 6.4,5).
O Pastor ainda disse que o cuidado das igrejas o oprimia diariamente (11.28). A palavra grega
[2] traduzida por oprimir[3], peso[4], pressão interior[5], significa literalmente “reunião tumultuosa de multidão” ou sedição[6]. O sentido figurado denota um excessivo peso, uma grande preocupação. Imagine uma multidão pisoteando o Pastor, um levante contra ele? Tudo isso por causa da igreja, sem falar nos demais problemas.
Diante de tudo isso, depreende-se que o ministério não é um bom negócio à vista da renda. É um excelente ministério aos olhos de Deus e de Seu reino. Contudo, muitos sofrimentos poderão advir.
Com efeito, muitas vezes o gabinete pastoral de um ministro fiel não será um local tranquilo e sossegado. O púlpito causará desgastes e sofrimentos para o obreiro. Alguns obreiros mereceriam receber adicional de insalubridade, haja vista o excessivo e desgastante labor pastoral, que pode abalar a saúde física e mental do obreiro.
Assim sendo, o ministério pastoral reserva muito sofrimento, desgaste, tensão, ansiedade. Contudo, não perde sua excelência como excelente obra, porquanto, a consolação do Senhor é capaz de sustentar o obreiro (1.3,4), dando-lhe forças e ânimo para continuar.
Pois a leve e momentânea tribulação produz um peso eterno de glória mui excelente (4.17). A graça do Senhor basta, e o Seu poder se aperfeiçoa na fraqueza (12.9).
Enfim, todo esse sofrimento descrito pelo Pastor foi considerado como leve e momentâneo ao ser comparado com aquilo que está reservado para nós: a restauração completa de nosso corpo, pela ressurreição (4.14; 5.1-4).
Sim, a ressurreição do corpo animava o Pastor ante o sofrimento (5.6). A consolação do Pastor não vinha do seu holerite, de seu décimo terceiro, das férias anuais de trinta dias, e das gratificações salariais decorrentes do aumento dos dízimos, da participação nos lucros e resultados da igreja. Não! Sua consolação vinha do Pai das Consolações!
Pelo contrário, o Pastor poderia ter desistido da igreja de Corinto, pois não tinha qualquer vínculo de remuneração com ela. Mas fez tudo isso por amor a Cristo, ciente de que a igreja é de Deus (12.13-15).
Essa carta do Pastor deve ensinar-nos o seguinte:
O genuíno e autêntico ministério pastoral reserva sofrimentos. A igreja é de Deus. O trabalho pastoral deve ser realizado sem interesse financeiro, mas por amor e com a esperança de que um dia ressuscitaremos e estaremos com o Senhor, o verdadeiro dono da Igreja, Jesus Cristo, o qual tem o justo galardão para seu servo.
Que diferença para os nossos dias! Causa-me tristeza ao ver que muitos pastores não se entregam para o rebanho, não querem sofrer por causa da Igreja, ou ainda, apenas estão interessados na lã das ovelhas.
Que Deus nos livre dos pastores mercenários, falsos, e relaxados como foi o sacerdote Eli e seus filhos!

2) O Pastor foi caluniado ao ser chamado de instável e inconstante por ter mudado de planos (1.12-2.1)
O Pastor não teve sequer o direito de refazer seus planos. Ele prometeu que iria visitar a igreja de Corinto, mas teve de mudar de planos.
O que aconteceu? Foi acusado de ser instável, inconstante, volúvel, e de não ter palavras (1.15-17).
Como não bastasse as tribulações externas, ainda era caluniado. Que situação lastimável! O Pastor ainda teve paciência de explicar e tentar persuadir os cristãos.
Que paciência! Quantos não desistiriam e abandonariam esse povo? Ou quantos ainda não apelariam para a violência ou para a justiça?
O Pastor não tratou a igreja como um grupo de empregados, subalternos, servos, sócios, acionistas. Não disse: está demitido, excomungado, excluído, expulso, etc.. Pelo contrário, o Pastor tratou o povo como filhos amados (6.13; 12.14). E um filho mesmo rebelde deve ouvir uma repreensão amorosa, ser persuadido do seu erro, ouvir explicações, mesmo não merecendo.
Muitas vezes, além dos vários sofrimentos, o pastor poderá ser caluniado pelo próprio rebanho. Ainda assim, o pastor deve tratá-lo como filhos amados, e deve envidar todo esforço para persuadi-lo.

3) O pastor demonstrou sua autoridade com palavras e obras em amor com vistas a lidar com a oposição
Como lidar com a oposição? Há várias formas de obliterar a oposição: pela força violenta, ação judicial, agressão física ou verbal, manipulação de facções, exclusão dos dissidentes. Parece absurdo e inacreditável, mas há pastores que usam algumas dessas formas com vistas a fulminar a oposição. Em minha cidade houve disputa judicial entre duas igrejas renomadas.
Mas o Pastor usa outra estratégia não muito em voga hoje.
Primeiro ele fala de seu trabalho e sofrimento em prol do evangelho (11.21-31). Observe que ele reluta em falar sobre si mesmo. Mas não restava outra opção (11.17). O Pastor tinha de vindicar sua autoridade de alguma forma, que estava sendo questionada pelos falsos apóstolos, e estes estavam incitando a igreja contra o Pastor, de modo que não restou outra opção senão falar de si mesmo.
O Pastor envidou todo esforço para defender com amor, lágrimas e tristeza sua autoridade apostólica questionada por outros (2.4). Não fez isso com ódio, rancor e mágoa. Pelo contrário, sempre estava pronto para perdoar seus ofensores, de forma que entendia que a falta de perdão era uma estratégia de Satanás para destruí-lo (2.4-11).
Em 2.5-11 Paulo afirma que o irmão que lhe ofendeu deveria ser perdoado pela igreja, visto que a repreensão já tinha sido suficiente.
Será que os pastores hodiernos estão dispostos a seguir a mesma prática do Pastor Paulo?
Somente após discorrer sobre seu muito trabalho e muito sofrimento que o Pastor fala sobre suas experiências espirituais inefáveis (12.1-10). Nós só sabemos dessas experiências por causa da forte oposição que recebeu e por que foi constrangido a falar si. Caso contrário, jamais o Pastor falaria de si. Pelo contrário, ele amava sim falar de Cristo Jesus, a palavra da cruz (1Cor 2.2).
Observe que o Pastor fala de si de forma indireta (12.2), relutando muito. Mas a situação da igreja exigia isso. O Pastor fala que a igreja o constrangeu a falar de si para o bem dela mesma.
Hoje, porém, é muito diferente, os apóstolos brasileiros não sofrem mais como o Pastor, não choram pelo rebanho, não o amam sem intere$$e, não demonstram a autoridade com obras de amor. Contudo ainda vivem se gabando de suas “experiências carismáticas e espirituais” desnecessariamente, de forma que falam mais de si mesmos que do Nosso Senhor Jesus Cristo, falam mais da denominação que do dono da Igreja, Jesus Cristo.

4) O Pastor chora por aqueles que não se arrependeram (12.21)
“Receio que, indo outra vez, o meu Deus me humilhe no meio de vós, e eu venha a chorar por muitos que, outrora, pecaram e não se arrependeram da impureza prostituição e lascívia que cometeram.”
[7]
Depois de tentar de todas as maneiras corrigir e persuadir os desobedientes, resta a lamentação e o choro, e não a vibração ou o desdém.
O coração do Pastor se entristecerá pelos perdidos e por aqueles que não se arrependerem.
É verdade que o Pastor sabia pregar de forma singular, das suas mãos saíam virtude para operar sinais e maravilhas, mas, também, ele sabia chorar de forma profunda, e dos seus olhos não poucas lágrimas escorriam (2.4). A propósito ele disse que servia ao Senhor “com toda a humildade, e com muitas lágrimas e tentações” (At 20.19).
Os pastores precisam aprender a pregar com Paulo, podem esperar fazer alguns sinais semelhantes ao de Paulo, mas devem aprender também a chorar como esse homem chorava. Sim, chorar pelo rebanho do Senhor, chorar pelos rebeldes.
Enfim, o coração do Pastor reflete o coração do Supremo Pastor que também chorou por aqueles que desprezaram seu cuidado pastoral (Lc 19.41).
[1] Todas as referências sem indicação referem-se a 2Cor.
[2] Epistasis é palavra grega. Há uma variante textual usada pelo Majoritário que é episustasis, cujo significado é o mesmo. Adoto o Texto Crítico pois as evidências são mais consistentes, haja vista que a qualidade dos maiúsculos e antiguidade do papiro favorece o Texto Crítico.
[3] Almeida Corrigida Fiel
[4] Almeida Revista e Atualiazada
[5] Nova Versão Internacional
[6] RUSCONI, Carlos. Dicionário de Grego, Paulus
[7]Sociedade Bíblica do Brasil: Almeida Revista E Atualizada - Com Números De Strong. Sociedade Bíblica do Brasil, 2003; 2005, S. 2Co 12:21