quarta-feira, 15 de julho de 2009

PROTO-EVANGELHO E PACTO DA GRAÇA

PROTO-EVANGELHO E PACTO DA GRAÇA

O proto-evangelho consiste numa mensagem de esperança dirigida à humanidade caída, ou seja, pecadora, mais especificamente a Adão e Eva. Esse termo não aparece nas Escrituras do AT, mas o conceito é inferido perfeitamente do texto. Antes de tecer alusões sobre o proto-evangelho deve-se ponderar sobre o estado da humanidade, Adão e Eva, os vice-gerentes de Deus.
O relato de Gn 3.1-7 – que é um relato teológico-histórico, tratado pelas Escrituras como fidedignos, e não mitológicos ou fictícios (Rm 5.14) – descreve a queda, isto é, a desobediência de Adão e Eva para com Deus, e, contrariu sensu, a obediência de Adão e Eva para com a mentira da serpente, identificada por Satanás (Ap 12, Jó 1).
O Senhor Deus já havia pronunciado e estabelecido as limitações do homem. Adão e Eva estavam cientes de suas limitações, das prescrições de Deus; por conseguinte, sabiam da maldição inerente à desobediência. Contudo, deram crédito à mentira de Satanás, e numa atitude arrogante e obstinada, desobedeceram a palavra do Senhor Deus.
Tal desobediência poderia ter dado causa à destruição total da humanidade e do cosmos. Pois o Senhor Deus já havia falado que a desobediência implicaria morte.
Então, pelas palavras registradas em Gn 3.8-23 o proto-evangelho é facilmente identificado. O Senhor Deus proferiu uma mensagem de esperança aos seus vice-gerentes, uma vez que a maldição dirigida a Adão e Eva foi mitigada. Adão e Eva não morreram imediatamente, embora isso fosse perfeitamente admissível e justo aos olhos de Deus. Pelo contrário, foram asseguradas aos vice-gerentes de Deus as bênçãos da procriação, do trabalho, embora de forma limitada e com sofrimento. Enfim, os mandatos cultural, social e espiritual estariam em vigor ainda, ainda que com, dor, sofrimentos, lutas e dificuldades, oriundos do mal moral. Na maldição proferida à Satanás (3.14,15), ficou mais evidente ainda que a semente da mulher haveria de triunfar sobre Satanás e sua “semente”. Chegaria o dia em que a semente da mulher esmagaria a cabeça de Satanás.
Isso denota indubitavelmente o proto-evangelho, que consiste numa mensagem de esperança, boa notícia, cuja consumação chegará, e chegou com a vinda de Cristo, restando apenas o cumprindo cabal dessa promessa. A propósito, a Igreja do Novo Testamento associou as boas novas do Senhor Jesus, o Messias, com o proto-evangelho registrado em Gn 3.14,15. Embora pareça ser um anacronismo a menção de um proto-evangelho, à medida que a revelação do Senhor Deus se cumpriu em Cristo Jesus, o qual anunciou o evangelho, as promessas descritas no AT e cumpridas em Cristo são prenúncios desse evangelho (cf. Gl 3.8).
Esse proto-evangelho, assim como o evangelho, está fundado no pacto da graça. Tal pacto implicitamente revelado em Gn 3.8-23 manifesta a graça e a misericórdia do Senhor Deus, visto que Ele não estava obrigado a consignar uma nova aliança com Adão e Eva, mas o fez por sua livre e espontânea deliberação graciosa e misericordiosa. Adão e Eva não mereciam uma mensagem de esperança. Eles mereciam tão-somente a condenação. Por isso esse pacto é chamado de Pacto da Graça, pois originou-se da misericórdia e graça do Senhor Deus.
A graça transmite a idéia de uma ajuda, auxílio em favor de alguém não merecedor. Essa palavra qualifica adequadamente o novo pacto. A propósito, o Novo Testamento está repleto de passagens que relacionam a salvação, redenção da humanidade com a graça de Deus, das quais o versículo clássico é Ef 2.8,9.
O fato do Senhor Deus, ao revelar o proto-evangelho, não ter exigido nenhuma obrigação de Adão e Eva também caracteriza o pacto da graça. O Senhor Deus simplesmente declarou, à guisa da incondicionalidade e irrevogabilidade, que a semente da mulher triunfaria completamente. Por conseguinte, o novo pacto é irrevogável e incondicional; esses predicados também fazem parte das características do pacto da graça. Foi declarado sem hesito ou controvérsia, de forma inequívoca: a semente da mulher triunfaria! Satanás seria esmagado! Tudo isso seria apenas uma questão de tempo.
O pacto da graça trouxe segurança e confiança para a humanidade caída. Nem tudo estava perdido. Havia uma luz; a esperança não sucumbiu. A dor do parto, o suor do rosto, os espinhos e abrolhos, não poderiam se comparar com o que haveria de vir (Rm 8.18)[1]. As maldições declaradas aos vice-gerentes de Deus seriam totalmente removidas. O mesmo Senhor Deus que revelou sua justiça em cumprir a maldição pronunciada a Adão, não deixaria de cumprir suas promessas mencionadas no proto-evangelho.
Agora, o proto-evangelho deveria ser amadurecido até a formação do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. O pacto da graça nutriria e sustentaria tal amadurecimento, até frutificar na mensagem salvífica de Nosso Senhor Jesus Cristo. De modo que a aliança com Noé, Abraão, e os patriarcas, a Lei, a aliança com Davi, são períodos do amadurecimento desse fruto, cuja raiz está no Pacto da Graça, até culminar no precioso suco da vide, a saber, o sangue da nova e eterna aliança: o sangue de Jesus Cristo.
[1] Estou persuadido ou sou propenso a conjecturar que o Apóstolo Paulo, quando escreveu a epístola aos Romanos, poderia não estar com o livro de Gn ao seu lado, mas estava-lho em sua mente.

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