sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Nome do Senhor (YHWH)

CARTA SOBRE O TETRAGRAMA A UMA TESTEMUNHA DE JEOVÁ


São José dos Campos, 1 de abril de 2011.


Dulce, Paz e saúde!


Eu li aquela revista Sentinela que versa sobre o nome de Deus. Gostaria de tecer breves ponderações acerca daquela matéria. Concordo que Deus tem um nome específico e mui sagrado pelo qual se revelou ao povo de Israel. A propósito, o terceiro mandamento dos dez mandamentos era: “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão porque o Senhor Deus não terá por inocente quem tomar o seu nome em vão” (Ex 20.7).

O nome sagrado de Deus no AT era יהוה , cuja transliteração é YHWH, conhecido como o tetragrama. Deus revelou esse nome a Moisés naquele episódio da sarça ardente, conquanto esse nome já tivesse sido utilizado em passagens anteriores (Gn 12.8 e 15.2), mas somente mais tarde o sentido desse nome foi revelado (Ex 6.3).

Observe que o nome já era conhecido, todavia, o sentido do nome ainda não tinha sido revelado. Em Ex 3, o anjo do Senhor apareceu a Moisés em uma chama de fogo do meio duma sarça ardente. Havia fogo na sarça, contudo a sarça não se queimava. Tal visão miraculosa chamou a atenção de Moisés, principalmente pelo fato de que o fogo não consumia a sarça. Inicialmente Deus se revela a Moisés como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, ascendentes de Moisés, chamados de patriarcas. O Senhor afirmou que a promessa feita aos ascendentes de Moisés se cumpriria.

Essa promessa consistia em dar uma terra boa que mana leite e mel aos descendentes dos patriarcas. E Moisés recebeu a incumbência de dar cabo a essa missão, de sorte que deveria ir até Faraó e tirar o povo do Egito. Então, Moisés faz a primeira pergunta a Deus: “quem sou eu para ir a Faraó e tirar os filhos de Israel do Egito?” Essa primeira pergunta de Moisés denota sua preocupação com Faraó e o Egito. Quem seria ele para enfrentar o poderoso Faraó e libertar o povo de Israel daquela poderosa nação, a maior potência do mundo, sendo talvez igualada apenas pelos hititas. Deus simplesmente responde que Ele irá com Moisés. A presença de Deus é o suficiente para eliminar qualquer sentimento de impotência ou inaptidão. A presença de Deus basta e deve por fim a qualquer dúvida de Moisés. A segunda pergunta de Moisés a Deus é: “Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: qual é o seu nome? Que lhes direi?”

A primeira pergunta referia-se ao próprio Moisés. Que era Moisés, e sua preocupação era com Faraó e o Egito. Agora sua pergunta é direcionada ao próprio Deus. Qual é o nome desse Deus? E a preocupação de Moisés é com os filhos de Israel. Moisés estava com receio de que o povo colocasse em xeque aquela incumbência recebida de Deus. Quem era esse Deus que comissionou a Moisés? Qual era o seu nome? Moisés queria uma mensagem nova, uma revelação maior, mais esclarecimentos, mais conhecimento acerca do Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Aos patriarcas, o próprio Deus havia falado que era o Deus deles e feito promessas por meio de aliança. A Moisés, contudo, não havia ainda nenhuma revelação, de modo que ele era apenas o beneficiário das promessas, ou seja, não era parte de uma aliança ou nova promessa. Assim sendo, o diálogo revela que Moisés queria saber muito mais que o mero e literal nome do Senhor. Moisés queria uma revelação especial e exclusiva que os patriarcas não tiveram, de modo que essa revelação o autorizaria e dar-lhe-ia autoridade para falar em nome desse Deus. Porque mais de 400 anos já se passaram sem que nenhuma outra pessoa avocasse alguma revelação semelhante à dos patriarcas. A pergunta de Moisés pelo nome de Deus mostra que ele queria ter mais intimidade com o Senhor, e que essa intimidade autenticaria sua mensagem.

E realmente conhecer o nome de Deus daria a Moisés um conhecimento novo e singular do Senhor, que ninguém anteriormente tinha, de modo que esse conhecimento novo habilitaria Moisés a agir e falar em nome do Senhor. Jacó já havia perguntado ao anjo do Senhor ou ao próprio Deus o nome dele no vau de Jaboque. Mas recebeu a bênção e não a resposta. A resposta de Deus a Moisés concederia um privilégio que Jacó não teve. E Deus concede a Moisés um pouco mais de revelação acerca de sua pessoa. A resposta de Deus não é: “o meu nome é...”. Porquanto Moisés não queria saber o nome literal de Deus. Temos de ler essa passagem tendo em mente e atentando para o significado desse diálogo para aquela época. A pergunta “qual é o seu nome” feita no século XV a.C não é a mesma do século XX d.C.

Naquela época conhecer o nome de alguém não consistia saber apenas a alcunha, cognome ou patronímico pelo qual alguém é chamado e conhecido perante a sociedade. Significava conhecer o caráter, o mister, o contexto familiar, social ou religioso de alguém. Ou seja, o nome revelava algo sobre a pessoa, e não era usado apenas para se referir a alguém. Prova disso era que frequentemente alguém mudava de nome em função da mudança de alguma situação relevante. Poderia citar inúmeros exemplos agora para serem posteriormente analisados: Abrão e Abraão, Jacó e Israel, Moisés, Gideão e Jerubaal, Jesus Cristo e Emanuel, etc.

Dessa forma, a resposta de Deus é: “Eu sou o que sou”. E Depois acrescenta: “Assim dirás aos filhos de Israel: Eu sou me enviou a vós”. A primeira parte da resposta de Deus em hebraico é אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה , cuja transliteração é ‘eheye asher ‘eheye. Essa assertiva pode ser traduzida assim: Eu sou o que sou; Eu serei o que serei; Eu estou presente é o que eu sou. O hebraico é semelhante ao inglês em que a expressão I am tanto pode ser traduzida como Eu sou ou Eu estou. Nessa primeira parte Deus mostra sua auto-suficiência, independência plena, auto-existência, com também revela sua presença n meio de seu povo. Uma resposta conclusiva acerca da eternidade, divindade, e imutabilidade de Deus, bem como de sua imanência e envolvimento com seu povo. Antes dele ser adorado por alguém ou associado a alguém, ele declara sua existência independente de qualquer pessoa. Ele declara sua origem eterna. Ele não é de ninguém, como os deuses egípcios e pagãos eram possuídos. Ele não nasceu de ninguém, como os deuses pagãos nasciam. Ele não está ausente ou distante do povo. Ele não abandonou o povo. Enfim, Ele É o que É, ou Ele é e está! A segunda parte da resposta de Deus a Moisés afirma que esse Deus, revelado de forma original e exclusiva a Moisés, o Eu Sou, enviou a Moisés, e que ele deveria dizer somente isto: O Eu Sou me enviou a vós. Era o suficiente, e bastava. Essa nova revelação acerca de Deus realmente qualificou Moisés para transmitir um conhecimento maior acerca do caráter desse Deus. Moisés recebeu a Lei do Senhor, que mostrava toda santidade, pureza, justiça, e retidão desse Deus.

Com vistas a relembrar todo esse peso revelacional, esse conhecimento novo e glorioso acerca do Senhor, Deus inclui uma nova forma de se referir a Ele. Surge então a expressão: אֶהְיֶה , que é traduzido por Eu sou. Observe que essa expressão ainda está associada com os patriarcas. De modo que YHWH era o mesmo Deus dos pais de Moisés, Abraão, Isaque e Jacó. De modo que, mesmo não havendo conhecimento do conteúdo revelacional inerente a esse nome, já havia menção desse nome na era patriarcal. Portanto, constatamos que esse nome do Senhor tem um vínculo estreito com as alianças estabelecidas com os patriarcas e com Moisés. No tocante à pronúncia desse novo nome, não é possível determinar com precisão qual é. É consabido que o hebraico possuía somente consoantes, e que a vocalização fazia parte da tradição. O povo de Israel perdeu a pronúncia correta, por excessivo temor de pronunciar o sagrado nome do Senhor em vão. No entanto, os judeus sempre primaram pela leitura pública e em voz alta das Escrituras. E agora, como ler e pronunciar o nome do Senhor? À medida que a pronúncia se perdia, o nome do Senhor era substituído pelo hebraico Adonai, que significa Senhor. Por sua vez, os massoretas, um grupo de escribas judeus, objetivando preservar a leitura da Bíblia Hebraica, resolveram criar vogais em forma de pontinhos e tracinhos sobrescritos e subscritos entre as consoantes a fim de que a leitura não fosse afetada, porquanto havia o risco de se esquecer a maneira de pronunciar as palavras hebraicas, o que obliteraria a leitura pública e em voz alta do texto hebraico. Ao lerem o nome de Deus, os judeus falavam em voz alta a palavra Adonai. Assim, os massoretas incluíram as vogais da palavra hebraica Adonai no nome de Deus, de modo que o leitor lembrasse que deveria pronunciar Adonai. Os tradutores das Escrituras Sagradas Hebraicas seguiram essa tradição, de sorte que traduziam o tetragrama por Senhor (e.g. LXX usou Kyrious, e a Vulgata Dominus). Entretanto, tradutores desavisados não seguiram as regras dos massoretas e leram as vogais junto com as consoantes do nome do Senhor, o que culminou na pronúncia equivocada do YHWH como Jeová.

Essa pronúncia, por conseguinte, decorreu de um equívoco de tradução. Aparece pela primeira vez em 1901 na ASV (american standar version). Antes disso não havia essa pronúncia equivocada. Jerônimo, o tradutor da Vulgata, não inclui a transliteração do nome em sua tradução, mas menciona-o em um de seus escritos, sem, contudo, a vocalização do nome. Apenas menciona que o nome do Senhor é Jah, e o tetragrama é JHVH.

Outro fator que corrobora isso é a inexistência absoluta da palavra Jeová no NT. A propósito, o NT não menciona uma única vez o nome de Deus. Não é crível, plausível e admissível que tenha havido corrupção nos manuscritos, uma vez que são mais de 5000! E nenhunzinho traz a expressão, quer transliterada, quer vocalizada! Pelo contrário, o texto grego substituiu o nome hebraico de Deus pela expressão grega Senhor equivalente ao Adonai em hebraico. A tese de que houve corrupção nos manuscritos gregos é infundada, pueril, e ainda abre um perigosíssimo precedente, qual seja, se houve corrupção nesse item, quem garantirá que não houve em outro? Se abrir a porteira, a boiada passará...

Por que Deus permitiu isso?

O Senhor Deus de Abraão, Isaque e Jacó, agora se revelou de uma maneira especialíssima, inigualável, singular: Pai, o Pai de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. O Senhor Jesus Cristo ensinou-nos a chamar a Deus de Pai e não de YHWH. As cartas apostólicas, principalmente as introduções paulinas, introduzem essa nova revelação de Deus como Pai. Portanto, agora chamamos a Deus de Pai. Como infantes que não sabem o nome completo de seu pai, mas sabem clamar papai, nós clamamos Aba Pai. O Espírito Santo que habita em nós ensina-nos a chamá-lo Aba Pai. Na nova aliança há uma maneira mais íntima e próxima de se referir a Deus. Quando Jesus Cristo voltar saberemos como era pronunciado esse nome, e Ap 3.12 e 19.12 podem aludir a isso. Como Deus ocultou a arca da Aliança para trazê-la novamente, o nome de Deus será redescoberto na próxima vinda de Cristo. Hoje basta-nos chamar-lhe de Pai nosso que está nos céus...


Saudações.


Tales Alves Paranahiba

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Teologia Bíblica de Isaías

Síntese do capítulo escrito por Paul House
A posição do livro segundo a Bíblia Hebraica tem relevância teológica. Sendo o primeiro dos profetas anteriores, Isaías analisa a dádiva e a quebra da aliança, refletindo os conceitos esposados na Lei e nos profetas anteriores, de modo que os profetas anteriores preparam o palco para os posteriores.
O livro de Isaías destaca os seguintes assuntos: a santidade de Deus e o futuro Salvador davídico. A propósito, esse capítulo é intitulado de “O Deus Salvador”, visto que a “a salvação seja o derradeiro objetivo de Deus em Isaías” (p. 350).
A teologia de Isaías segue esta estrutura:

1) O Deus que condena e chama (Is 1-12)
O juízo de Deus é proclamado com toda veemência, ao passo que a salvação do Senhor não é menos enfatizada. Isaías transita entre o juízo e salvação, a desolação e a esperança, o reinado ímpio e incrédulo do rei e seus súditos e o reinado justo e fiel do novo rei davídico e seu remanescente.
O remanescente contrapõe-se ao Israel rebelde. Aliás, esse remanescente abrangerá outras nações.
Isaías vaticina acerca de um futuro muito distante, jamais enfatizado outrora. E combina as esperanças futuras com o presente caótico, conclamando o povo ao arrependimento, a fim de que, baseado nas promessas passadas, haja um futuro próximo melhor.

2) O Deus que elimina nações orgulhosas (Is 13-27)
Haja vista a arrogância das nações, entre as quais destacam-se dois impérios mundialmente conhecidos, Assíria e Babilônia, o Senhor julgará as nações, de modo que purificará a terra, a fim de que remanescentes dessas nações façam parte da nova criação de Deus.
O castigo das nações aponta para o juízo final descritos em Is 24-27.

3) O Deus que firma o remanescente (Is 28-39)O rei Acaz não creu na mensagem de Isaías; um rei anônimo creu na ajuda egípcia; no entanto Ezequias creu no poder do Senhor, e recebeu grande livramento da poderosa Assíria.
O remanescente será preservado, de modo que o novo Rei proporcionará uma futura libertação. O livramento concedido a Ezequias tipifica o glorioso livramento final. Novamente Isaías transita entre o presente e o futuro.

4) O Deus que salva por meio de um servo sofredor (Is 40-55)
Essa seção é o zênite da teologia de Isaías, pelo que ressalta a fé monoteísta e apresenta um servo iluminado e santo com características messiânicas, ou seja, o próprio Jesus Cristo, que redimirá outro servo, qual seja, a nação de Israel, cega e pecadora. Portanto, “não é necessário ler Isaías 40-55 apenas como uma obra exílica ou como uma profecia totalmente preditiva” (p. 363).
A salvação decorre inteiramente da soberania de Deus e do ministério do servo. De modo que, as alianças com Abraão, Moisés e Davi são concretizadas plenamente: Israel tornar-se-á uma bênção para todas as nações, gentios farão parte do povo eleito do Senhor, o remanescente obedecerá fielmente o Senhor e habitará na terra prometida, e um novo Rei perfeito e justo governará o povo de Deus eternamente.
Uma vez que Deus revela que Ciro será usado para beneficiar Israel, Ele é o Senhor da história, dirigindo-a em prol de seu povo. A nação de Israel, por sua vez, é impelida a crer somente em Deus e não virar-se para qualquer ídolo, cujo poder é inócuo e conhecimento é nulo.

5) O Deus que cria novos céus e nova terra (Is 56-66)
Na seção anterior (40-55), Deus é apresentado como criador, ao passo que nessa seção o Criador é autor da nova criação. Um novo Éden será inaugurado: livre de pranto, pecado e morte. Entretanto, os ímpios e seus pecados serão julgados e banidos para sempre da nova criação, ao passo que o remanescente de Israel e dos gentios habitarão eternamente junto com o grande Rei.
O servo-messias, identificado no NT como o Senhor Jesus Cristo, terá participação ativa nessa nova criação.

6) Isaías e o cânon
A presença de Isaías no cânon – sendo o primeiro profeta posterior – tem relevância teológica, de modo que 2Re 18-20 serve como introdução do livro de Isaías, e este livro introduz os demais profetas. “Muitos dos profetas ou refletem acerca da obra de Isaías ou possuem um ponto de vista parecido sobre que assuntos a profecia deve incluir” (p. 379).
Todas as alianças são mencionas. E quando a aliança davídica se cumprir, as demais se concretizarão.
"O Éden será restaurado, nações serão abençoadas, pecados serão perdoados, a lei será cumprida, e Davi terá um trono eterno quando o Rei, servo e operador de cura ungido (61.1-3) ministrar ao remanescente, que habitará os novos e a nova terra." (p. 378)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Tragédia no Rio de Janeiro

Alguns vídeos

http://www.youtube.com/watch?v=0lfbGLA26l0&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=Ken6vuutqkg&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=itvuqmQ379A&feature=related
Comentarei oportunamente.

BATALHA ESPIRITUAL

"O que você precisa saber sobre batalha espiritual" foi escrito pelo Dr. Augustus Nicodemus, cuja resenha segue abaixo:
Como o próprio título sugere, o livro versa sobre a batalha espiritual. No entanto, o escopo do livro vai além do propósito de proporcionar um entendimento bíblico acerca do tema. Pelo contrário, a origem do livro está atrelada ao famigerado movimento herético de batalha espiritual, cujos advogados mais conhecidos aqui no Brasil dessa moderna onda de batalha espiritual são C. Peter Wagner e Neuza Itioka. Entretanto, os conceitos e práticas estão espalhados em todos segmentos evangélicos, se arraigando com mais receptividade no movimento neopentecostal e pentecostal, também há adeptos no Catolicismo Romano, por meio da Renovação Católica Carismática.
Diante dessa notável influência do movimento da moderna batalha espiritual, o livro propôs-se a abordar a prática bíblica da batalha espiritual, e confrontar com as Escrituras Sagradas a moderna batalha espiritual.
O primeiro capítulo do livro abordou a realidade da batalha espiritual. A partir daí, se inicia a análise do hodierno movimento. As raízes históricas e supostas bases bíblicas são analisadas e refutadas com base numa exegese sólida e escorreita dos textos bíblicos. Também houve comparações com alguns períodos de avivamento na história da igreja, cujo bom êxito não foi precedido pela aplicação de qualquer princípio sugerido pelo movimento da batalha espiritual, que o autor faz questão de colocá-la entre aspas, com vistas a distinguir da batalha espiritual bíblica.
Nos últimos capítulos, o autor fez uma exegese abrangente e consistente de textos bíblicos pertinentes como o 2Cor 12 e 1Cor 8-10, que tratam do espinho na carne de Paulo e da carne sacrificada a ídolos, respectivamente.
Com efeito, o autor perfilha a linha reformada-presbiteriana, possui um apreço e respeito peculiar para com o texto bíblico, de modo que o tem como única regra de fé e prática, visto que sempre procura chancela bíblica para a batalha espiritual. Isso pode ser facilmente constatado pelas citações e exegeses dos textos bíblicos.
A própria formação acadêmica do autor denota que autor se esmera pela exegese consistente, fundada na hermenêutica histórico-gramatical, primando pelo sentido único baseado na intenção autoral, pois que é mestre e doutor em interpretação bíblica.
Uma vez que o autor é reformado e presbiteriano, talvez a única questão controvertida no livro seja sua posição amilenista. Visto que relaciona o amilenismo com a batalha espiritual, de maneira que trata o diabo como um ser acorrentado, o que causa um pouco de estranheza, como se os premilenistas não tivessem ou pudessem proporcionar uma abordagem bíblica do assunto.
Não obstante a posição escatológica do autor, o livro oferece um bom e sólido embasamento bíblico para a batalha espiritual à luz da Bíblia.
Por certo, o autor é conservador, pautando-se pela corrente ortodoxa, de modo que rechaça as teologias oriundas e inerentes ao movimento neopentecostal, bem como pentecostal. Isto é, o autor subscreve o modelo de fé reformada.
Creio que o autor em alguns pontos se portou de maneira exageradamente cético. Por exemplo, no tocante às coisas amaldiçoadas, o autor alegou que isso não tem a capacidade de per si atrair maldições e ataques demoníacos na vida do cristão. No entanto, o próprio texto bíblico condena o uso e depósitos de objetos pagãos e idólatras (Dt 7.25). Naturalmente, o uso e depósito de tais objetos como adereços ou enfeites, ou até indumentários trará problemas de ordem espiritual, pois isso não deixa de ser pecado como qualquer outro, tratando-se de uma idolatria, sendo obra da carne.
Afora essa questão, é muito salutar a preocupação do autor no sentido de buscar fundamentação bíblica para a batalha espiritual, rechaçando experiências despidas de amparo escriturístico.

DECEPCIONADOS COM A GRAÇA

RESENHA DO LIVRO ESCRITO POR PAULO ROMEIRO

O livro segue a mesma linha dos outros livros[1], SuperCrentes e Evangélicos em Crise: proporciona um panorama geral do movimento neopentecostal e suas doutrinas, e, após, refuta as doutrinas com base em citações bíblicas esparsas, via de regra sem uma exposição exegética e mais profunda dos textos bíblicos. Isso não quer dizer que estejam mal aplicadas, apenas que o significado poderia ser mais explorado e aprofundado. Caso contrário, parece um disputa de textos bíblicos, do tipo “quem tem mais versículos”.
Pela leitura dos livros do Paulo Romeiro infere-se que ele perfilha a teologia pentecostal, conquanto nesse livro ele aponte críticas ao próprio pentecostalismo. No entanto, ainda fica subentendido a relação amistosa e vivencial com o pentecostalismo, visto que as críticas ao movimento ainda são brandas, quase inócuas.
Aliás, o livro até fala do movimento pentecostal como avivamento, o que não há como concordar, visto que os avivamentos bíblicos e históricos foram totalmente distintos e opostos do que aconteceu em Los Angeles no ano de 1906. Outrossim, o livro ainda trata as seitas neopentecostais e algumas pentecostais como evangélicas, o que é inadmissível, haja vista a distância abissal desses movimentos em relação às Igrejas fundadas nas Escrituras Sagradas. Não se tratam de pontos heréticos de somenos importância, pelo contrário, as doutrina fundamentais do cristianismo consubstanciada nos cinco solas é totalmente substituída pela salvação pelas obras e ausência de ênfase e pregação acerca do novo nascimento pela fé em Jesus Cristo, sem falar no exacerbado arminianismo dominante nessas igrejas.
Repisando, todos os livros do autor têm algo em comum: não são muito exegéticos e teológicos, no sentido de tecer uma pesquisa mais acurada, ampla e profunda dos textos bíblicos. As citações bíblicas são aleatórias, não havendo uma exposição do texto consoante a interpretação histórico-gramatical. A análise dos versículos bíblicos é muito superficial.
Assim sendo, os livros do autor carecem de uma exegese sólida e consistente das Escrituras Sagradas.
Talvez isso seja herança do próprio movimento do qual ele se origina. Analisando com mais detalhes a biografia do autor, fica mais fácil compreender a característica hermenêutica do autor.
O autor converteu-se ao evangelho por meio do movimento pentecostal, tornando-se membro e líder da Assembléia de Deus. Sua formação acadêmica inicial não foi teológica, mas secular. Após, se especializou nos estudos teológicos[2].
Dessa forma, o estilo do autor reflete sua formação e origem. Pela leitura dos livros, nota-se uma total ausência de citação de renomados teólogos ou reformados, e dos grandes nomes da história do cristianismo, da completa falta de afinidade com as doutrinas da graça de Deus – a despeito das muitas citações que não tirou a impressão de trabalho acadêmico, de conclusão de curso.
A propósito da graça de Deus, o livro propiciou uma abordagem assaz superficial, quase imperceptível. Se o próprio título do livro fala sobre a decepção com a graça, era de esperar uma exposição mais exegética e enfática da maravilhosa e soberana graça de Deus.
Isso não quer dizer que os livros perderam sua utilidade. Pelo contrário, mesmo com tais limitações, o livro ainda possui muito valor, sendo de proveitosa serventia, mormente aos afiliados ao movimento pentecostal[3] e neopentecostal.
O linguajar simples e objetivo do autor pode auxiliar muitas pessoas a se afastarem dos perigos neopentecostais, bem como refletir sobre a ótica pastoral, com vistas à restauração e cuidado das pessoas decepcionadas com a falsa graça, vendida no mercado gospel.
O autor poderia substituir o título – uma sugestão: a miséria da teologia da prosperidade – ou ao menos justificá-lo, colocando, por exemplo a palavra graça entre aspas. Porquanto ninguém se decepciona com a genuína graça de Deus. Pelo contrário, a graça nos basta! Assim, o autor poderia ser mais enfático e taxativo classificando como falsa graça, uma graça barata, o que querem vender como graça.
A abordagem pastoral do autor poderia ser mais aprofundada, utilizando-se de livros clássicos como Pastor Aprovado de Richard Baxter, entre outros autores puritanos. Creio que o trabalho poderia ser muito enriquecido com uma sucinta explanação da história da Igreja, e do trabalho pastoral nesses períodos, ou seja, qual era o modus vivendi da igreja nos principais períodos históricos. Uma vez que o próprio livro analisa a história e prática do movimento pentecostal, a história e prática da igreja seria muito pertinente. Sobretudo, a análise da igreja primitiva poderia ser mais confrontada com a praxe pastoral hodierna.
No tocante aos trabalhos de teológicos de outros autores, alguns títulos de John Piper seriam pertinentes ao livro, como O Sorriso Escondido de Deus, de forma a propiciar outras formas salutares de abordagem do sofrimento e dos males causados pelo movimento neopentecostal.
Em vez disso, o autor destacou basicamente dois teólogos – para mim, desconhecidos, um pelo menos é liberal, e sem uma influência mais pujante, de pequeno calibre, se comparado aos renomados teólogos do cristianismo, não obstante os títulos obtidos; nada contra esses dois teólogos, mas como disse, o trabalho poderia ser enriquecido um pouco mais – de forma que não fundamentou muito suas explanações nas Escrituras, mas tão-somente limitou-se a citar a exposição deles.
Na página 192, se declara que a oração de Jesus não foi atendida, mas creio que isso não se harmoniza com o contexto, pelo que o próprio Jesus retificou imediatamente sua petição, rogando que se fizesse a vontade do Pai.
Não obstante a característica menos exegética e expositiva do livro, porém mais narrativa, fazendo uso de citações bíblicas esparsas, bem como a falta de interação com teólogos clássicos e renomados, o livro cumpriu seu mister: alertar sobre os perigos do neopentecostalismo, e refletir sobre propostas pastorais para acolher as pessoas decepcionadas com esse movimento.
Com efeito, não há propostas prontas, imediatas e simples. A questão exige uma reflexão maior, e pormenorizada, que extrapolaria o escopo do livro.
Certamente, pela graça de Deus, esse livro será útil e valioso como foram os outros dois títulos do autor.
[1] Já li os outros dois livros do Paulo Romeiro: SuperCrentes e Evangélicos em Crise
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Paulo_Romeiro
[3] Converti-me numa igreja pentecostal, Assembléia de Deus, e, por causa de um presbítero dessa igreja, aderi por um tempo à teologia de Keneth Hagin e demais advogados da teologia da prosperidade. Graças a Deus, o livro do Paulo Romeiro, Evangélicos em Crise, veio num momento muito oportuno para mim, pelo que pude abrir os olhos para as heresias ensinadas e praticadas na Igreja da qual era membro.

sábado, 8 de janeiro de 2011

O preço (J.C. Ryle)

Textos selecionados do capítulo "O Preço" escrito por J.C. Ryle, publicado pela editora Fiel
1) O custo de ser um cristão verdadeiro
Admito prontamente que custa pouco alguém manter a aparência de um cristão. Uma pessoa que apenas frequente algum lugar de adoração duas vezes a cada domingo e possua uma moralidade razoável durante os dias da semana, já terá feito o que milhares de outras pessoas ao seu redor fazem com o cristianismo. Tudo isso é trabalho fácil e barato; não requer qualquer autonegação ou autossacrifício. Se isso é o cristianismo que salva e que nos conduzirá ao céu quando morrermos , então convém que se altere a descrição sobre o caminho da vida e se escreva: “Larga é a porta e espaçoso é o caminho que conduz ao céu! (Ryle, Santidade, p. 107, 108)
Não obstante, custa bastante ser um crente verdadeiro se os padrões da Bíblia tiverem de ser seguidos. Há inimigos que terão de ser vencidos, batalhas que terão de ser travadas, sacrifícios que terão de ser feitos, um Egito que precisará ser esquecido, um deserto que precisará ser atravessados, uma cruz que deverá ser carregada, uma carreira que terá de ser corrida. A conversão não se assemelha a colocar um homem em uma poltrona, levando-o assim, em conforto, para o céu. Quando alguém se torna crente, dá início a um imenso conflito no qual custa muito obter a vitória. Daí origina-se a indizível importância de “calcular o preço”. (p. 108)
[...] Antes de tudo, isso lhe custará a sua justiça própria . Ele terá de desfazer-se de todo o orgulho, de todos os pensamentos altivos e de toda a presunção acerca de sua própria bondade. Terá de contentar-se em ir para o céu como um pobre pecador salvo exclusivamente pela graça gratuita, devendo tudo aos méritos e à retidão de Outrem. (p. 108)
Em segundo lugar, um homem terá de desistir dos seus pecados. Ele deverá estar disposto a abandonar cada hábito e prática errados aos olhos de Deus. Terá de voltar o rosto contra tais práticas, lutando contra elas, rompendo com elas, crucificando-se para elas e esforçando-se por mantê-las sob seu controle, sem importar com o que o mundo ao seu redor possa pensar ou dizer. Ele terá de fazer isso de maneira honesta e justa. Não poderá dar tréguas a nenhum pecado especial que ele ame. Ele terá de considerar todos os pecados como inimigos mortais, odiando cada caminho de iniquidade; sem importar se são pequenos ou grandes, públicos ou secretos; ele terá de renunciar terminantemente a todos os seus pecados. Talvez esses pecados lutem diariamente contra ele e, às vezes, quase haverão de derrotá-lo. Porém, ele nunca poderá ceder diante deles. Cumpre-lhe manter uma guerra perpétua contra os seus pecados.
Isso também parece difícil e não me admiro. Geralmente os nossos pecados são tão queridos por nós como se fossem nossos filhos: nós o amamos, abraçamos, apegamo-nos a eles, deleitamo-nos neles. Romper com eles é algo tão difícil quanto decepar a mão direita ou arrancar o olho direito da órbita. Mas isso tem de ser feito. (p. 109)
Terá de tomar cuidado com seu tempo, sua língua, seu temperamento, seus pensamentos, sua imaginação, seus motivos e sua conduta em cada relação da vida. (p. 110)
...Em último lugar, ser crente custará a um homem a aprovação do mundo.
Esse é o cálculo do que custa a alguém ser um crente verdadeiro. ...
... Reconheço que custa muito ser um verdadeiro crente... Uma religião que nada custa, nada vale! Um cristianismo barato, destituído de cruz, mostrará ser um cristianismo inútil, que não pode obter a coroa. (p. 111)

2. A importância de calcular o preço
... nenhum dever determinado por Cristo pode ser negligenciado sem provocar dano. (p. 111)
Por não calcular o preço, não poucos abandonaram a Cristo.
Tenhamos vergonha de usar os vulgares artifícios de um sargento recrutador. Não falemos apenas sobre o uniforme, o soldo e a glória; falemos também sobre os inimigos, as batalhas, a armadura, a vigilância, as marchas e o treinamento árduo. (p. 117)

3. Algumas sugestões
Se você é um crente santo e dotado de coração sincero, calcule e compare:
a vantagem e a perda
o louvor e a desaprovação
os amigos e inimigos
a vida presente e a vida futura
os prazeres do pecado e a felicidade do serviço prestado a Deus
as tribulações sofridas pelo verdadeiro crente e as tribulações reservadas para o ímpio, após a morte.
Um único dia no inferno será pior do que uma vida inteira a carregar a cruz de Cristo.

Em conclusão, que cada leitor pense com seriedade, se a sua religião custa-lhe alguma coisa no presente. Mui provavelmente, nada lhe custa. Provavelmente, não lhe custa tribulação, nem tempo, nem preocupação, nem cuidados, nem dores, nem leituras, nem orações, nem autonegação, nem conflitos, nem trabalho e nem labor de qualquer espécie. Portanto, assinale o que estou lhe dizendo. Uma religião assim jamais salvará sua alma. Nunca lhe poderá conferir qualquer paz enquanto você viver, nem esperança quando morrer. Ela não conseguirá sustentá-lo no dia da aflição e nem poderá confortá-lo na hora da morte. Uma religião que nada custa também nada vale. Desperte e converta-se. Desperte e confie. Desperte e ore. Não descanse enquanto você não puder dar uma resposta satisfatória à minha pergunta: “Quanto lhe custa a sua religão?” (p. 121)
Talvez custe muito ser um crente verdadeiro, um crente coerente. Mas, vale a pena.