sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Nome do Senhor (YHWH)

CARTA SOBRE O TETRAGRAMA A UMA TESTEMUNHA DE JEOVÁ


São José dos Campos, 1 de abril de 2011.


Dulce, Paz e saúde!


Eu li aquela revista Sentinela que versa sobre o nome de Deus. Gostaria de tecer breves ponderações acerca daquela matéria. Concordo que Deus tem um nome específico e mui sagrado pelo qual se revelou ao povo de Israel. A propósito, o terceiro mandamento dos dez mandamentos era: “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão porque o Senhor Deus não terá por inocente quem tomar o seu nome em vão” (Ex 20.7).

O nome sagrado de Deus no AT era יהוה , cuja transliteração é YHWH, conhecido como o tetragrama. Deus revelou esse nome a Moisés naquele episódio da sarça ardente, conquanto esse nome já tivesse sido utilizado em passagens anteriores (Gn 12.8 e 15.2), mas somente mais tarde o sentido desse nome foi revelado (Ex 6.3).

Observe que o nome já era conhecido, todavia, o sentido do nome ainda não tinha sido revelado. Em Ex 3, o anjo do Senhor apareceu a Moisés em uma chama de fogo do meio duma sarça ardente. Havia fogo na sarça, contudo a sarça não se queimava. Tal visão miraculosa chamou a atenção de Moisés, principalmente pelo fato de que o fogo não consumia a sarça. Inicialmente Deus se revela a Moisés como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, ascendentes de Moisés, chamados de patriarcas. O Senhor afirmou que a promessa feita aos ascendentes de Moisés se cumpriria.

Essa promessa consistia em dar uma terra boa que mana leite e mel aos descendentes dos patriarcas. E Moisés recebeu a incumbência de dar cabo a essa missão, de sorte que deveria ir até Faraó e tirar o povo do Egito. Então, Moisés faz a primeira pergunta a Deus: “quem sou eu para ir a Faraó e tirar os filhos de Israel do Egito?” Essa primeira pergunta de Moisés denota sua preocupação com Faraó e o Egito. Quem seria ele para enfrentar o poderoso Faraó e libertar o povo de Israel daquela poderosa nação, a maior potência do mundo, sendo talvez igualada apenas pelos hititas. Deus simplesmente responde que Ele irá com Moisés. A presença de Deus é o suficiente para eliminar qualquer sentimento de impotência ou inaptidão. A presença de Deus basta e deve por fim a qualquer dúvida de Moisés. A segunda pergunta de Moisés a Deus é: “Eis que quando eu for aos filhos de Israel, e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: qual é o seu nome? Que lhes direi?”

A primeira pergunta referia-se ao próprio Moisés. Que era Moisés, e sua preocupação era com Faraó e o Egito. Agora sua pergunta é direcionada ao próprio Deus. Qual é o nome desse Deus? E a preocupação de Moisés é com os filhos de Israel. Moisés estava com receio de que o povo colocasse em xeque aquela incumbência recebida de Deus. Quem era esse Deus que comissionou a Moisés? Qual era o seu nome? Moisés queria uma mensagem nova, uma revelação maior, mais esclarecimentos, mais conhecimento acerca do Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Aos patriarcas, o próprio Deus havia falado que era o Deus deles e feito promessas por meio de aliança. A Moisés, contudo, não havia ainda nenhuma revelação, de modo que ele era apenas o beneficiário das promessas, ou seja, não era parte de uma aliança ou nova promessa. Assim sendo, o diálogo revela que Moisés queria saber muito mais que o mero e literal nome do Senhor. Moisés queria uma revelação especial e exclusiva que os patriarcas não tiveram, de modo que essa revelação o autorizaria e dar-lhe-ia autoridade para falar em nome desse Deus. Porque mais de 400 anos já se passaram sem que nenhuma outra pessoa avocasse alguma revelação semelhante à dos patriarcas. A pergunta de Moisés pelo nome de Deus mostra que ele queria ter mais intimidade com o Senhor, e que essa intimidade autenticaria sua mensagem.

E realmente conhecer o nome de Deus daria a Moisés um conhecimento novo e singular do Senhor, que ninguém anteriormente tinha, de modo que esse conhecimento novo habilitaria Moisés a agir e falar em nome do Senhor. Jacó já havia perguntado ao anjo do Senhor ou ao próprio Deus o nome dele no vau de Jaboque. Mas recebeu a bênção e não a resposta. A resposta de Deus a Moisés concederia um privilégio que Jacó não teve. E Deus concede a Moisés um pouco mais de revelação acerca de sua pessoa. A resposta de Deus não é: “o meu nome é...”. Porquanto Moisés não queria saber o nome literal de Deus. Temos de ler essa passagem tendo em mente e atentando para o significado desse diálogo para aquela época. A pergunta “qual é o seu nome” feita no século XV a.C não é a mesma do século XX d.C.

Naquela época conhecer o nome de alguém não consistia saber apenas a alcunha, cognome ou patronímico pelo qual alguém é chamado e conhecido perante a sociedade. Significava conhecer o caráter, o mister, o contexto familiar, social ou religioso de alguém. Ou seja, o nome revelava algo sobre a pessoa, e não era usado apenas para se referir a alguém. Prova disso era que frequentemente alguém mudava de nome em função da mudança de alguma situação relevante. Poderia citar inúmeros exemplos agora para serem posteriormente analisados: Abrão e Abraão, Jacó e Israel, Moisés, Gideão e Jerubaal, Jesus Cristo e Emanuel, etc.

Dessa forma, a resposta de Deus é: “Eu sou o que sou”. E Depois acrescenta: “Assim dirás aos filhos de Israel: Eu sou me enviou a vós”. A primeira parte da resposta de Deus em hebraico é אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה , cuja transliteração é ‘eheye asher ‘eheye. Essa assertiva pode ser traduzida assim: Eu sou o que sou; Eu serei o que serei; Eu estou presente é o que eu sou. O hebraico é semelhante ao inglês em que a expressão I am tanto pode ser traduzida como Eu sou ou Eu estou. Nessa primeira parte Deus mostra sua auto-suficiência, independência plena, auto-existência, com também revela sua presença n meio de seu povo. Uma resposta conclusiva acerca da eternidade, divindade, e imutabilidade de Deus, bem como de sua imanência e envolvimento com seu povo. Antes dele ser adorado por alguém ou associado a alguém, ele declara sua existência independente de qualquer pessoa. Ele declara sua origem eterna. Ele não é de ninguém, como os deuses egípcios e pagãos eram possuídos. Ele não nasceu de ninguém, como os deuses pagãos nasciam. Ele não está ausente ou distante do povo. Ele não abandonou o povo. Enfim, Ele É o que É, ou Ele é e está! A segunda parte da resposta de Deus a Moisés afirma que esse Deus, revelado de forma original e exclusiva a Moisés, o Eu Sou, enviou a Moisés, e que ele deveria dizer somente isto: O Eu Sou me enviou a vós. Era o suficiente, e bastava. Essa nova revelação acerca de Deus realmente qualificou Moisés para transmitir um conhecimento maior acerca do caráter desse Deus. Moisés recebeu a Lei do Senhor, que mostrava toda santidade, pureza, justiça, e retidão desse Deus.

Com vistas a relembrar todo esse peso revelacional, esse conhecimento novo e glorioso acerca do Senhor, Deus inclui uma nova forma de se referir a Ele. Surge então a expressão: אֶהְיֶה , que é traduzido por Eu sou. Observe que essa expressão ainda está associada com os patriarcas. De modo que YHWH era o mesmo Deus dos pais de Moisés, Abraão, Isaque e Jacó. De modo que, mesmo não havendo conhecimento do conteúdo revelacional inerente a esse nome, já havia menção desse nome na era patriarcal. Portanto, constatamos que esse nome do Senhor tem um vínculo estreito com as alianças estabelecidas com os patriarcas e com Moisés. No tocante à pronúncia desse novo nome, não é possível determinar com precisão qual é. É consabido que o hebraico possuía somente consoantes, e que a vocalização fazia parte da tradição. O povo de Israel perdeu a pronúncia correta, por excessivo temor de pronunciar o sagrado nome do Senhor em vão. No entanto, os judeus sempre primaram pela leitura pública e em voz alta das Escrituras. E agora, como ler e pronunciar o nome do Senhor? À medida que a pronúncia se perdia, o nome do Senhor era substituído pelo hebraico Adonai, que significa Senhor. Por sua vez, os massoretas, um grupo de escribas judeus, objetivando preservar a leitura da Bíblia Hebraica, resolveram criar vogais em forma de pontinhos e tracinhos sobrescritos e subscritos entre as consoantes a fim de que a leitura não fosse afetada, porquanto havia o risco de se esquecer a maneira de pronunciar as palavras hebraicas, o que obliteraria a leitura pública e em voz alta do texto hebraico. Ao lerem o nome de Deus, os judeus falavam em voz alta a palavra Adonai. Assim, os massoretas incluíram as vogais da palavra hebraica Adonai no nome de Deus, de modo que o leitor lembrasse que deveria pronunciar Adonai. Os tradutores das Escrituras Sagradas Hebraicas seguiram essa tradição, de sorte que traduziam o tetragrama por Senhor (e.g. LXX usou Kyrious, e a Vulgata Dominus). Entretanto, tradutores desavisados não seguiram as regras dos massoretas e leram as vogais junto com as consoantes do nome do Senhor, o que culminou na pronúncia equivocada do YHWH como Jeová.

Essa pronúncia, por conseguinte, decorreu de um equívoco de tradução. Aparece pela primeira vez em 1901 na ASV (american standar version). Antes disso não havia essa pronúncia equivocada. Jerônimo, o tradutor da Vulgata, não inclui a transliteração do nome em sua tradução, mas menciona-o em um de seus escritos, sem, contudo, a vocalização do nome. Apenas menciona que o nome do Senhor é Jah, e o tetragrama é JHVH.

Outro fator que corrobora isso é a inexistência absoluta da palavra Jeová no NT. A propósito, o NT não menciona uma única vez o nome de Deus. Não é crível, plausível e admissível que tenha havido corrupção nos manuscritos, uma vez que são mais de 5000! E nenhunzinho traz a expressão, quer transliterada, quer vocalizada! Pelo contrário, o texto grego substituiu o nome hebraico de Deus pela expressão grega Senhor equivalente ao Adonai em hebraico. A tese de que houve corrupção nos manuscritos gregos é infundada, pueril, e ainda abre um perigosíssimo precedente, qual seja, se houve corrupção nesse item, quem garantirá que não houve em outro? Se abrir a porteira, a boiada passará...

Por que Deus permitiu isso?

O Senhor Deus de Abraão, Isaque e Jacó, agora se revelou de uma maneira especialíssima, inigualável, singular: Pai, o Pai de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. O Senhor Jesus Cristo ensinou-nos a chamar a Deus de Pai e não de YHWH. As cartas apostólicas, principalmente as introduções paulinas, introduzem essa nova revelação de Deus como Pai. Portanto, agora chamamos a Deus de Pai. Como infantes que não sabem o nome completo de seu pai, mas sabem clamar papai, nós clamamos Aba Pai. O Espírito Santo que habita em nós ensina-nos a chamá-lo Aba Pai. Na nova aliança há uma maneira mais íntima e próxima de se referir a Deus. Quando Jesus Cristo voltar saberemos como era pronunciado esse nome, e Ap 3.12 e 19.12 podem aludir a isso. Como Deus ocultou a arca da Aliança para trazê-la novamente, o nome de Deus será redescoberto na próxima vinda de Cristo. Hoje basta-nos chamar-lhe de Pai nosso que está nos céus...


Saudações.


Tales Alves Paranahiba

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