terça-feira, 25 de agosto de 2009

PROFETA MALAQUIAS 2

2) Como entender e praticar Ml 1.1-14
Introdução
O livro de Malaquias foi escrito em hebraico, de modo que temos apenas uma tradução do livro para o português. Sua mensagem foi dirigida a aproximadamente 2.500 anos atrás. Logo, a compreensão exata do livro depende de certas regras que serão analisadas no decorrer do estudo.

A) Deus ama o seu povo 1.2-5
i) entenda o contexto linguístico e literário
É importante frisar que uma correta interpretação exige no mínimo um bom conhecimento de português. É preciso atentar para o significado das palavras (análise morfológica) e as idéias contidas nas frases, orações, parágrafos, seções e do livro todo (análise sintática).
As palavras, frases e orações não podem ser isoladas do texto. Caso contrário, a interpretação errônea será inevitável. Por isso, o leitor deve tomar cuidado com as divisões dos textos em capítulos, versículos e títulos, visto que tais divisões não fazem parte dos originais e nem sempre estão corretas, visto serem produto humano sem inspiração divina.
Outra questão importante é atentar para o tipo de literatura. Isso auxilia a correta interpretação. Uma poesia tem características próprias que a distingue das narrativas.
O livro de Malaquias tem uma característica própria. Classifica-se como literatura profética. Como literatura profética tem suas peculiaridades. A grosso modo, toda literatura profética tem as seguintes características básicas: exortação contra o pecado do povo diante da santidade de Deus, um anúncio acerca do futuro, e promessas de restauração.
Caso o leitor não conheça as línguas originais, e não tenha condições de aprendê-las, deverá usar outras traduções da Bíblia para cotejar as diferentes traduções e verificar o sentido do texto. Porque a tradução é humana e pode conter equívocos. Assim, o uso de outras traduções ajuda a dirimir eventuais equívocos.
Voltando para o texto em comento, podemos verificar que o profeta inicia a mensagem de Deus relembrando o amor seletivo e gracioso de Deus em favor do povo.
Para compreender o texto é necessário recorrer ao contexto histórico. Tal contexto está no próprio livro de Gênesis, especialmente o capítulo 34.19-34. Este texto denota o amor que Deus teve por Jacó antes mesmo de nascer. Deus amou e escolheu Jacó, ao invés de seu irmão Esaú. Antes que ambos nascessem e tivessem feito algo para agradar a Deus.
Os livros bíblicos possuem uma certa interdependência, de modo que o entendimento de um texto bíblico às vezes pode exigir o conhecimento de outro texto bíblico. Por isso, algumas Bíblias fornecem uma concordância nas notas de rodapé, de forma que o leitor é remetido a outro texto paralelo para entender melhor o texto lido.
Mas cuidado com o que alguns chamam de paralelomania. Nem todos os textos têm uma relação direta com outro texto. Portanto, é possível fazer paralelos forçados e até exagerados, sem qualquer relação, incorrendo, assim, num erro.

B) Deus requer um sacrifício digno de sua honra e amor
i) entenda o contexto introdutório do livro, sua cronologia e história
Antes de analisar o texto propriamente dito, é pertinente e muito proveitoso ponderar o contexto introdutório do livro. Isso lança muita luz ao texto analisado, de forma que detalhes antes despercebidos saltam aos nossos olhos, em virtude da história subjacente do livro, ou seja, o pano de fundo do livro, os acontecimentos que estão por trás do texto.
Vejamos então:
É possível datar o livro do ano de 430 a.C. Antes dessa data, o povo de Deus, a nação de Israel, havia sido levado cativo para a Babilônia por causa dos pecados. Isso aconteceu em três etapas: 605, 597 e 586 a.C., quando Jerusalém e o templo de Salomão foram totalmente destruídos pela Babilônia, que era governada por Nabucodonosor.
No ano de 515 a.C o templo foi reconstruído sob a supervisão de Esdras, o sacerdote. Seguidamente, várias reformas de ordem religiosa, política, moral foram empreendidas por Neemias e Esdras, auxiliados pelos profetas Ageu e Zacarias.
Portanto, a mensagem de Malaquias está totalmente relacionada com os acontecimentos e exortações descritos nos livros de Esdras, Neemias, Ageu e Zacarias. De sorte que uma compreensão exata do livro de Malaquias requer uma leitura cuidadosa dos livros citados.
Uma lição interessante é comparar os problemas relacionados naqueles livros com o livro de Malaquias. Haverá correspondências. Uma delas é a indiferença religiosa do povo.

ii) entenda a repreensão de Deus
Após ressaltar o amor gracioso, seletivo e incondicional de Deus, o profeta repreende o povo em virtude dos sacrifícios oferecidos com defeito.
Esses sacrifícios de animais defeituosos não eram compatíveis com a honra devida ao Senhor Deus, que se compara com um pai e senhor. Uma pessoa importante, como um governador, aceitaria essa oferta defeituosa? E Deus deve receber essa oferta?
O raciocínio é lógico. Mas, para que ninguém alegasse uma ignorância ou outra escusa, no Livro de Levítico já havia uma orientação no sentido de proibir ofertas de animais defeituosos (Lv 22.19-22). Mais uma vez usamos um texto paralelo para elucidar o texto estudado.
O pior era que os sacerdotes, que estavam incumbidos de oferecer os sacrifícios, consentiam na oferenda daqueles animais impróprios com total resignação.

iii) atente para um detalhe linguístico
Deus decreta a maldição contra aquele que oferece animal defeituoso. O verbo hebraico traduzido por amaldiçoado é rr'a; . Essa mesma palavra aparecerá em outros capítulos.

iv) verifique a mensagem do capítulo
Após análise das palavras, frases, orações, parágrafos, contexto introdutório e histórico do livro, é oportuno constatar a mensagem do capítulo.
Eis a mensagem do capítulo:
O amor especial de Deus para com o povo de Israel não era compatível com a oferta de animais defeituosos dedicadas a Deus pelo povo, com o consentimento dos sacerdotes. A maldição era inevitável.

v) cumpra a mensagem do capítulo
Antes de tudo é pertinente fazer a distinção entre o período do AT, chamado de dispensação da lei, Antiga Aliança, época da lei, e o período em que vivemos, chamado de dispensação da graça, Nova Aliança, época da graça, inaugurada com a descida do Espírito Santo em At. 2. Essa distinção ajuda a afastar confusões e distorções acerca da aplicabilidade de certos textos, principalmente do AT, que não possuem correspondência com a época em que vivemos.
Então, como cumprir a mensagem desse capítulo? Não oferecemos mais sacrifícios no templo e tampouco na igreja, obviamente, porquanto Cristo Jesus já foi sacrificado por nós como o Cordeiro de Deus. Ou seja, nossa época é distinta da época do profeta, pois os sacrifícios de animais faziam parte dos rituais sagrados e eram realizados no templo até que Cristo foi sacrificado definitivamente por nós, tratando-se de uma prática exclusivamente do AT, estabelecida pelo próprio Deus.
Logo, nesse caso o cumprimento da mensagem não é literal, isto é, ninguém levará seu melhor boi na igreja e ofertá-lo. Deveremos extrair os princípios inerentes a essa mensagem.
Assim, podemos propor a seguinte mensagem prática para nós:
Nossa oferta a Deus deve ser compatível com Seu amor especial por nós, ou seja, Deus nos amou de tal maneira que enviou seu Filho para morrer por nós, e nós devemos honrar a Deus, dando o que temos de melhor de nossa vida, bens materiais e imateriais. Caso contrário a maldição será inevitável.

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