terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Uma Ortodoxia Generosa de Brian McLaren

1) O único Jesus que conheço e quero conhecer plenamente
Os sete Jesus que conheci
O Jesus conservador salva pela morte, o pentecostal pela dádiva do Espírito Santo, o católico pela ressurreição, o ortodoxo oriental pelo nascimento, o liberal e anabatista pelo ensino ético, o dos oprimidos pela libertação social.
Essa ponderação de McLaren não é exaustiva. Quando conhecer melhor o Brasil descobrirá outros “Jesuis”, o que salva pelo carnaval, pelas sessões de descarrego, sal grosso, arruda, e por aí vai...
Lamentavelmente, sobejam experiências humanistas e sensacionalistas e falta ou não há nenhum cotejo com as Sagradas Escrituras.
A propósito, a própria nota de rodapé do livro elucida como devemos entender o capítulo e porque não o livro todo:

Eu também acrescentaria aqui que estou desqualificado para ser um porta-voz da tradição oriental, e assim, meus pensamentos sobre a ortodoxia oriental devem ser considerados observações impressionistas de um admirador do lado de fora, não pronunciamentos tecnicamente precisos de um porta-voz do lado de dentro (p. 68) (grifo nosso).

Com efeito, é o que o livro foi do início ao fim: sem técnica!
Se o autor ponderasse melhor os textos bíblicos como Dt 6.4 e At 4.12 não chegaria a esse despautério – não adianta citar o clássico texto de Jo 14.6, pois McLaren já conseguiu interpretá-lo sem o sentido exclusivista que o próprio texto de per si já tem.
O primeiro texto é conhecido como a confissão monoteísta da fé judaica, chamada shema, que significa ouve, a primeira palavra do versículo. Os judeus piedosos recitam-na diariamente todas as manhãs e tardes. Até hoje os cultos nas sinagogas são iniciados com essa recitação[1]. A expressão אֶחָד denota a unicidade de Deus, a centralidade e exclusividade que YHWH requer da nação. A nação de Israel deveria amar esse único Deus.
Esse texto se reveste de tanta relevância que os massoretas destacaram-no escrevendo em maiúsculas as letras u e d, da seguinte forma:

שְׁמַע יִשְׂרָאֵל יְהוָה אֱלֹהֵינוּ יְהוָה אֶחָד

A propósito, a nota textual da NVI admite as seguintes traduções:
O Senhor, o nosso Deus, é um só Senhor; ou
O Senhor é nosso Deus, o Senhor é um só; ou ainda
O Senhor é nosso Deus, o Senhor somente.
Esse Deus deveria ser amado, adorado, reverenciado, de forma que toda forma de culto, adoração, leis, princípios advinham de Deus, sendo devidamente registrados, formando os Escritos Sagrados. O povo de Israel não poderia se apartar desse registro sagrado, nem tampouco inovar, salvo autorização expressa pelo Senhor, como sucedeu no NT (Dt 5.32; 4.2)[2].
Em todo AT a fé em YHWH é exclusivista[3] e única. De sorte que era inadmissível conhecer YHWH conforme a tradição amonita, egípcia, moabita, etc. Destarte, qualquer forma de sincretismo era terminantemente proibida.
Esse mesmo caráter exclusivista acompanhou a fé cristã, no entanto, agora a exclusividade subjaz a pessoa do Senhor Jesus Cristo, revelado nas Escrituras denominadas NT.
Nesse diapasão reverberava a pregação de Cristo e de seus apóstolos, que exigem a mesma credibilidade dos escritos veterotestamentários (Jo 14.6; At 4.12; 2Jo 9,10).
O apóstolo Pedro, no início de seu ministério eclesiástico declara indubitavelmente que “em nenhum outro há salvação”, a não ser em Cristo. O apóstolo enfatiza, usando o advérbio de negação οὐκ e o pronome οὐδενὶ , a centralidade exclusiva de Cristo.
O último dos apóstolos também arremata (2Jo 9,10):

Todo aquele que prevarica e não persevera na doutrina de Cristo não tem a Deus; quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto o Pai como o Filho.
Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis.

João diz que quem não persevera na doutrina de Cristo não tem a Deus. O mesmo advérbio de negação usado por Pedro é usado por João. O verbo tem (ἔχει ) está no presente, asseverando o estado presente e notório da apostasia.
Não adianta se iludir, a doutrina bíblica, cristã e apostólica, não é generosa, como McLaren pensa. Se assim fosse, os apóstolos, mártires e missionários labutaram e derramaram o sangue debalde.
Escrever o que McLaren escreveu afronta e avilta a memória dos homens de Deus, profetas, apóstolos, e cristãos que lutaram e pelejaram pela fé que foi dada aos santos.
É difícil imaginar tais homens, como João, falarem: Por que sou cristão gnóstico? Por que sou cristão docético? Por que sou cristão cerintiano[4]?
Portanto, o erro McLaren está atrelado a conceitos rudimentares da Teologia Bíblica e Sistemática (revelação de Deus, inspiração das Escrituras), haja vista o desprezo completo da escorreita exegese (normas basilares da exegese atinente a qualquer escrito, como o sentido do texto pretendido por seu autor). Pelo contrário, optou pela interpretação livre e subjetiva das Escrituras, se é que se pode falar em interpretação.
Se o autor quer falar de experiências, eu também tenho no sentido contrário. Quando era ainda católico, aos 14 anos, lendo a Bíblia, me demovi do falso conceito de que todos os caminhos levam a Deus, e passei a compreender que somente Cristo é o caminho, caso contrário, sua morte era vã.
Assim sendo, se quisesse honrar o precioso sangue de Cristo, não profanando-o, teria de tomar essa posição, hostilizada por muitos colegas, amigos e professores. Conheço esse Cristo, o único, exclusivo e suficiente Salvador e Senhor de minha vida, e todo que crê, e quero conhecê-lo plenamente.

2) Jesus e Deus A
Jesus e Deus B
McLaren assevera que é um cristão porque confia em Jesus Cristo. Conquanto tal questão seja de foro íntimo, não é totalmente insuscetível de averiguação. Contudo, nosso propósito não consiste em analisar a fé de McLaren, mas suas assertivas e pressuposições, o que poderá servir para o cotejo de sua fé.
Esse capítulo é o mais “bíblico”, não pela consonância com a Bíblia, mas sim pelas citações bíblicas.
A priori, a análise perfunctória dos títulos de Cristo, filho do homem, filho de Deus, se coaduna com as Escrituras. No entanto, não deixa de suscitar questões dubitáveis e equivocadas. Por exemplo, chega a afirmar em uma nota de rodapé que a expressão filho do homem significa que Jesus é filho de todos no sentido de que Jesus pertence a toda a humanidade e não a um grupo, judaico ou cristão (p. 83).

É igualmente instrutivo e belo perceber que o termo filho do homem sugere que Jesus é o filho de todos – que ele pertence à humanidade, não apenas a uma parte dela, seja ela judaica ou cristã (p. 83).

Nem mesmo os mais liberais teólogos afirmaram isso. Não obstante, a divergência em torno do significado do termo, a expressão está muito longe de significar isso, como o sol dista da terra[5].
A expressão ὁ υἱὸς τοῦ ἀνθρώπου é um título messiânico, e denota a perfeição, divindade e poder salvador de Jesus Cristo. Era o título preferido de Jesus para se referir a si mesmo como Messias, visto que o título Messias não era bem compreendido pelos judeus de sua época, de modo que poderia causar problemas ao seu ministério terreno.
Embora o genitivo (do homem) possa indicar posse, a sugestão de McLaren não pode ser aceita, pois não tem o menor sentido contextual histórico. Jesus Cristo jamais tencionou transmitir essa idéia pueril.
Nesse mesmo capítulo afirma que procura não usar pronomes masculinos para se referir a Deus. Essa é uma nova tendência. Para minha surpresa constatei isso no prefácio da edição revisada do livro do Ladd, escrito por Donald A. Hagner.
Isso é lamentável e nauseabundo. Como se o uso de pronome masculino implicasse algum aviltamento da mulher ou do próprio Deus.
Ora, nós sabemos que Deus não é masculino e tampouco feminino. Mas em nossa linguagem não temos via de regra um terceiro tipo de pronome, e mesmo nas línguas que possuem, como o grego, os escritores inspirados usaram o pronome masculino para se referir a Deus, sem qualquer ressalva.
Não há necessidade de irmos além dos textos sagrados, salvo se os considerarmos falíveis e arcaicos. O que não é o caso.
Uma exposição sincera, reverente e humilde do texto bíblico, na direção do Espírito Santo, não necessitará de adaptações pronominais para se referir ao Deus criador e amoroso, diante do qual homem e mulher são um (Gl 3.28).
O Deus A, de muitos cristãos, criou um universo de domínio, controle, limitação, submissão, uniformidade, coerção. Ao passo que o Deus B, no qual o autor crê, criou um universo de interdependência, relacionamento, possibilidade, responsabilidade, realização, novidade, mutualidade, liberdade.
Essa descrição do deus B denota afinidade com a Teologia Relacional, doravante denominada TR. O autor flerta com a TR, pois esse é o raciocínio dessa teologia. O Amor salvador não se encaixa num universo controlado pelo Criador, sob seu domínio inexorável. A plena liberdade do homem não se coaduna com o controle soberano, onipotente e onisciente do Todo-Poderoso. Assim, a conclusão é que somente um universo livre seria coerente com o Amor salvador.
Lamentavelmente, a pressuposição filosófica humanista preponderou sobre as Escrituras.
O raciocínio da TR se baseia em textos totalmente isolados, tais como “Deus é amor” em harmonia com o “arrependimento de Deus”. Conclui que o amor de Deus permite que Ele se arrependa, caso os homens mudem. Todavia, avança – o sinal vermelho – dizendo que esse arrependimento de Deus é verdadeiro, logo, ele não sabe o futuro – batendo no poste da heresia – caso contrário tal arrependimento e liberdade humana não seriam genuínos.
Contudo, a Bíblia descreve o Deus Pai, Filho e Espírito Santo como aquele que domina sobre o universo, controla todas as coisas, responsabiliza o homem por seus pecados e ao mesmo tempo chama-o ao arrependimento, concede relativa liberdade ao homem e ao mesmo tempo predestina-o. Eis os textos:

Dn 2.20-22: Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus, de eternidade a eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder; é ele quem muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz. (grifo nosso) (página?)
Ed 6.22: Celebraram a Festa dos Pães Asmos por sete dias, com regozijo, porque o Senhor os tinha alegrado, mudando o coração do rei da Assíria a favor deles, para lhes fortalecer as mãos na obra da Casa de Deus, o Deus de Israel.

Pv 20.24; 21.1: Os passos do homem são dirigidos pelo SENHOR. O coração do rei é como um rio controlado pelo SENHOR; ele o dirige para onde quer. (NVI)

Esses textos ressaltam o controle de Deus sobre todo ser humano, incluindo as autoridades constituídas. Até a morte de Cristo foi preordenada (At 2.23). O que dizer de Judas, o filho da perdição (Jo 17.12); o coração de Faraó endurecido (Rm 9.17)?
O próprio rei Nabucodonosor entendeu que ninguém pode deter ou ao menos interpelar sobre os atos soberanos de Deus (Dn 4.35). É verdade, que ele teve de pastar com os animais, ficar insano para reconhecer isso. Oxalá, McLaren e os adeptos da TR não precisem ter essa experiência.
At 2.23 e 1Pe 1.2 utilizam o mesmo vocábulo: προγνωσις . Essa expressão é formada pela preposição προ que significa precedente, antes, e pelo substantivo νωσις que significa conhecimento. Essa expressão só é aplicada a Deus. Ele tem o conhecimento prévio, anterior, ou seja, a presciência. Isso significa seu conhecimento acerca do que acontecerá.
Portanto, Deus tem o conhecimento prévio do que acontecerá. Se isso não fosse verdade, como entender as profecias apocalípticas e messiânicas, além das centenas de profecias bíblicas? Porventura são todas condicionais? Não, isso é inadmissível. Os textos bíblicos não inferem tal condicionalidade, isto é produto da filosofia humana. A propósito, impende citar um artigo refutando a TR:

Em terceiro lugar, a reformulação teológica dos teístas abertos quanto à soberania de Deus e a responsabilidade humana abala a expectativa do cumprimento de qualquer esperança escatológica. Se Deus está sujeito a mudanças inesperadas, nada pode garantir que ele cumprirá o que prometeu[6].

O que? Predestina-o? Ah, esse termo causa ojeriza nessa turma. É como dente de alho para o vampiro. Afugenta, sem que qualquer explicação seja dada. Nesse assunto, prefere-se exercer o direito constitucional de ficar calado. Realmente é melhor. Melhor seria se usassem antes esse direito (Pv 17.28). O fato é o que o termo está na Bíblia.
Como conciliar tais textos com Ez 18, Jr 18, com os chamados ao arrependimento e conversão de Mt 11.28-30 e At 3.19? Não tenho respostas convincentes. O que posso dizer é que ambos os conceitos estão na Bíblia, e ao homem mortal e limitado não compete ir além do que lhe foi revelado, mas tão-somente crer.
O próprio João Calvino reconheceu haver mistério nas doutrinas de Deus, ao discorrer sobre a doutrina da Eleição e Reprovação no volume 3 das Institutas da Religião Cristã:

Quando, pois, se pergunta porque o Senhor agiu assim, há de responder-se: Porque o quis. Porque, se prossigas além, indagando por que ele o quis, buscas algo maior e mais elevado que a vontade de Deus, o que não se pode achar. Portanto, contenha-se a temeridade humana e não busque o que não existe, para que não venha, quem sabe, a acontecer que aquilo que existe não ache. Afirmo que, com este freio, bem se conterá quem quer que queira com reverência filosofar acerca dos mistérios de seu Deus.

Com efeito, é um perigo filosofar sobre os mistérios de Deus! Contudo, os adeptos da TR preferem limitar o conhecimento de Deus para ampliar a liberdade do homem, de forma que não se contentam com os mistério de Deus ante a limitação humana.

3) Jesus é o fundamento cristão!
Jesus seria um cristão?
Sem embargo dos deslizes teológicos corriqueiros, e da falta de exegese bíblica, a reflexão proposta pelo autor é interessante e tem algum fundamento. Com efeito, muito do que é chamado cristianismo hoje não tem qualquer relação com o fundamento do cristianismo: Jesus Cristo.
Realmente, Jesus Cristo deve ser nosso Senhor, Mestre, e não somente Salvador. Todavia a idéia de Senhor esposada por McLaren flerta mais uma vez com a TR, porquanto rejeita expressamente o conceito de um Senhor que nos controla.
O próprio clássico texto da criação expressa o controle e posse que o Criador tem sobre a criatura, pois “na antigüidade, dar nome a uma pessoa ou a um objeto implicava ter domínio ou posse (v. 17.5,15; 41.45; 2Rs 23.34; 24.17; Dn 1.7).”[7]
Vários Salmos (93.1,2; 103.19; 145.1; 145.13) também ressaltam o domínio que Deus possui sobre o universo, ao chamar Deus de rei (melek). Os “salmistas puderam cantar assim e os profetas anunciaram repetidamente que Deus era o Governador (rei) soberano e eterno sobre todo o universo, porque Deus tinha se revelado assim quando criou o cosmos[8]”.
No entanto, a base da reflexão do autor não é bíblica e fundada na exegese dos textos bíblicos. Pelo contrário, tão-somente se restringe a lançar o assunto em pauta sem aprofundar no tema.
É verdade que na introdução do livro, o próprio autor asseverou que o trabalho consiste num diálogo. Infelizmente, é um diálogo sem conteúdo bíblico.
Esse capítulo foi muito lacônico. Resta, contudo, dizer que Jesus Cristo é o alicerce do cristianismo genuíno. Sem esse alicerce não há de se falar em cristianismo, mas em mera aparência ou falsificação (1Co 3.10).
Qual Jesus Cristo é o alicerce? É o revelado nas Escrituras.

4) Jesus é o meu salvador?
Jesus: Salvador do quê?
Nesse capítulo o autor torna mais expresso o que se deduzia: sua aversão pela teologia. Pela citação que fez do sacerdote católico romano ficou claro que o autor é acintosamente pragmático, em detrimento do estudo teológico.
A regra de fé do autor não é as Sagradas Escrituras, conforme proclamou a reforma protestante por meio do Sola Scriptura. A experiência prepondera sobre as Escrituras.
Todavia, a história da Igreja já demonstrou que sem as Escrituras Sagradas como regra de fé e prática o paganismo, misticismo e toda sorte de sincretismo invadiram a igreja. A Igreja de Roma é um exemplo disso.
McLaren pondera que a salvação pessoal pode ser maléfica, e que devemos pensar na salvação de forma mais abrangente e palpável.
Contudo, reside o perigo nesse conceito proposto por McLaren. Uma salvação atrelada ao mundo material pode produzir crentes e crenças humanistas e materialistas. O movimento neopentecostal e suas vertentes estão aí.
Por certo, nós devemos tomar cuidado com a visão reducionista da salvação. Mas essa visão é corrigida muito bem pelo estudo sério das Escrituras. Por exemplo, o Teólogo Bíblico Van Groningen propôs os mandatos da criação que manifestam o propósito redentor do Criador. O mandato social, espiritual, e cultural[9]. Assim, a redenção tem um escopo mais abrangente.
Destarte, não há nenhuma necessidade de lançar mão de uma ortodoxia generosa para dirimir eventual equívoco.
Por outro vértice, conquanto a salvação bíblica seja bem abrangente. Ela possui uma conotação individual que não pode ser jamais ignorada. É um princípio bíblico. O profeta Ezequiel ressaltou a responsabilidade individual de cada um no capítulo 18, declarando que “aquele que pecar é que morrerá”.

הַנֶּפֶשׁ הַחֹטֵאת הִיא תָמוּת

O pronome feminino (הִיא) ressalva que a alma pecadora (הַחֹטֵאת , particípio do qal) morrerá. Assim, aquele famigerado ditado que havia na nação, de que os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos se embotaram, não mais prevaleceria em face da justiça e misericórdia do Senhor.
Esse ditado interpretava mal Ex 20.5 e afrontava a justiça de Deus, como se houvesse uma absoluta culpa hereditária.
Assim sendo o profeta Ezequiel salienta a conotação individual do juízo e da salvação.
Por sua vez o apóstolo Pedro[10] expressamente falou sobre o fim imediato da nossa fé: a salvação da nossa alma (1Pe 1.9).

pois vocês estão alcançando o alvo da sua fé, a salvação das suas almas (NVI)

“O fim da fé” ou “alvo da fé” é a tradução da expressão τὸ τέλος τῆς πίστεως . A palavra fé (πίστεως ) é um genitivo atributivo precedido de artigo (τῆς ) que visa definir a fé e especificar o substantivo precedente, qual seja, o fim (τὸ τέλος ). Esta palavra, o fim, também pode ser traduzida por objetivo final, o resultado.
Portanto, o resultado final, o propósito da fé é a salvação da alma. Naturalmente, Pedro está se referindo ao indivíduo, pois a palavra alma (ψυχῶν , acusativo) se refere à pessoa. E o próprio contexto indica uma “salvação guardada nos céus”, isto é, a salvação está relacionada com herança guardada nos céus.

para uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor. Herança guardada nos céus para vocês 5que, mediante a fé, são protegidos pelo poder de Deus até chegar a salvação prestes a ser revelada no último tempo. (NVI) (grifo nosso)

Pelas palavras de Pedro, infere-se que ele crê que o supremo objetivo da fé é a salvação individual, sem a qual o mundo inteiro não teria valor algum, pois fomos comprados por bom preço (1Cor 6.20).
O objetivo primário da morte vicária de Jesus Cristo consiste na salvação individual, e depois haverá os consectários universais preditos pelos profetas.
A proposta de McLaren consiste num retrocesso ao conceito judeu de salvação meramente material e política.
Enfim, o diálogo de McLaren é pertinente. Suas conclusões, contudo, não estão fundadas nas Escrituras.
Eu, contudo, creio que Jesus é o meu Senhor e Salvador pessoal, e aguardo a manifestação plena de seu reino, cujos efeitos globais e universais já estão presentes mas um dia será completo.

5) Por que não sou missional?
Por que sou missional?
A idéia desse capítulo já foi esboçada nos capítulos anteriores. Inicialmente parece interessante. Ser um cristão global, preocupado com o mundo e não apenas consigo mesmo e com sua salvação pessoal.
No entanto, a generosidade extrapola os limites entrando em terreno herético ao dizer que a fé missional não é exclusivista.
Se ser missional implica ter uma fé segundo os moldes universalistas esposado pelo autor, então não sou missional, porquanto conforme já salientado, creio que quem crê em Jesus Cristo tem a vida eterna, quem não crê já está condenado (Jo 3.15, 36; 5.24; 6.47; IJo 5.12).
A propósito, conceitos que não fazem parte da preleção de McLaren são: condenação eterna e juízo vindouro. Talvez ele também esteja flertando com a teoria do Jesus Histórico, de modo que deve rejeitar algumas palavras nos evangelhos, mormente joanino, como se não fossem palavras de Jesus.
McLaren rechaça amiúde a teologia, mas suas concepções estão imbuídas de teologia liberal.
Os textos bíblicos são tão claros que não deixam dúvida: os que estão em Cristo estão salvos, e os que estão fora de Cristo estão condenados.
Com efeito, a linguagem do autor é assaz ambígua. Foi tão generosamente inclusivista que teve de se explicar até em nota de rodapé para não transparecer universalista, se é que não seja um dos tais.
Como não sou missional, “para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não sei o que escolher! Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor; contudo, é mais necessário, por causa de vocês, que eu permaneça no corpo”. (Fp 1.21-24, NVI)
Seria Paulo ou o próprio Jesus um missional? O Jesus histórico sim. Paulo[11] jamais, pois este discordou do Jesus histórico, seguindo o Jesus bíblico.
Mais uma vez o problema é bibliológico.

6) Por que sou evangelical comedido?
Por que sou evangelical?
Segundo McLaren, evangelical significa aquela pessoa que tem ardente desejo por Deus e sua obra, uma pessoa apaixonada para com Deus e nosso semelhante.
Realmente, essa deve ser nossa atitude. A propósito, a Bíblia nos admoesta a sermos fervorosos de espírito (Rm 12.11).
No entanto, não tenho a mesma esperança que McLaren, o qual acredita que uma convergência de cristãos pós-modernos de várias tradições pode trazer nova vida e esperança ao cristianismo em geral e ao mundo.
Nesse ponto sou muito mais comedido. As Escrituras me ensinam a não dar as mãos aos que não professam as doutrinas cardeais do cristianismo (2Jo 9-11, já analisado alhures).
Embora creia nas doutrinas da graça, creio que a convergência de cristãos que creiam ao menos nas doutrinas basilares do cristianismo poderia sim dar uma guinada no cristianismo. Por doutrinas basilares não sou tão reducionista como alguns aliancistas/calvinistas, que não convivem com irmãos arminianos e dispensacionalistas, mas também não tanto generoso como McLaren, que inclui vertentes notoriamente heréticas, como o liberalismo, catolicismo, etc.

7) Por que sou protestante?
Por que sou pós-protestante?
A proposta de McLaren é plausível e até crível, se não tivesse lido os capítulos anteriores e conhecido melhor seus pressupostos. Ele propõe que os protestantes aliem discurso com práxis. E testemunhem contra o que está errado e não ataque irmãos em Cristo. Tal proposta é denominada de pró-testemunhal.
Todavia, não deixa de propugnar um ecumenismo irrestrito e uma ortodoxia generosa.
Conquanto o orgulho espiritual e as contendas fúteis devam ser extirpadas do nosso meio, não vejo a necessidade de utilizar outro nome para caracterizar o grupo cristão que se apartou das corrupções romanas.

8) Por que sou conservador?
Por que sou um liberal/conservador?
Esse capítulo relata que tanto liberais quanto conservadores tiveram erros e acertos. Por exemplo, os liberais estavam na vanguarda das questões éticas e científicas, ao passo que os conservadores na questão da conversão individual e discipulado, de modo que se deve “buscar a honra do heroísmo conservador e liberal” (p. 155).
Diferentemente de McLaren, creio que ambos os grupos são irreconciliáveis, salvo alguma concessão que implicará desfiguração do concedente.
Não há um meio termo. Ou é ou não é. Ou Cristo ressuscitou literalmente dos mortos ou não. Ou Jesus foi concebido pelo Espírito Santo, nascendo da virgem Maria ou não.
São questões basilares da fé cristã, e que fazem distinção entre ambos os grupos.
Por exemplo, a ressurreição literal de Cristo consiste numa doutrina fundamental, que não denota qualquer vislumbre de generosidade ou interpretação contrária.
Os quatro evangelistas ressaltam a ressurreição literal de Cristo. Era o tema fundamental da pregação dos apóstolos. O apóstolo Paulo chegou a dizer que se Cristo não ressuscitou dos mortos nossa fé é vã (1Cor 15.17).
Portanto, sou conservador porque minha fé não é vã. Quem não crer nisso recebe um bom e politicamente correto estigma: liberal, até chegar o dia do julgamento, em que serão condenados ao fogo do inferno. Que dureza? Não, que tratamento bíblico!
Não obstante haver interpretações discrepantes entre si, isso não pode e, por certo, não atinge a autoridade da Palavra de Deus. Se Deus é um, sua revelação é única, sua palavra é uníssona, não haverá outras fontes de autoridade, mas somente uma, e essa é a Bíblia.
Pensar de forma diferente vindicará a máxima herética: todos os caminhos levam a Deus.
A Bíblia diz que Jesus é o caminho, e não encontro outros (Jo 14.6).
O autor aderiu à tese da pós-modernidade, que prima pela inexistência de valores absolutos, mas pela relatividade dos valores. Nesse diapasão assenta suas premissas: não há certo ou errado.
A Bíblia revela totalmente o contrário. A propósito, o profeta Isaías advertiu (5.20):

Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo!

McLaren incide nessa imprecação à medida que não consegue vislumbrar maldade no liberalismo, contudo, pelo contrário, ainda reconhece valores num sistema tão herético.
Da forma como McLaren argumenta, só falta declarar: Por que sou cristão/satanista, porquanto conseguirá visualizar virtudes nos dois.

9) Por que sou místico/poético/sistemático
Por que sou místico/poético?
A proposta de McLaren nesse capítulo tem muita afinidade com a TR. McLaren propõe uma revisão da teologia sistemática, direcionando vários ataques contra ela e suas doutrinas. É isso o que a TR quer. Dialogar, rever, inovar o que já está posto e definido, como a doutrina da onisciência divina.
Portanto, preparou-se um ataque – diga-se de passagem, bem persuasivo – contra as doutrinas sistematizadas, com vistas a revê-las. Essa tese filosófica ergueu-se como um aríete contra as muralhas teológicas, a fim de invadir as mentes, exilar os conceitos tradicionais acerca de Deus, trazendo uma mistura de conceitos pagãos, à guisa do cativeiro de Samaria perpetrado por Salmaneser V no ano de 722 a.C.
É verdade que carecemos de prosa. Precisamos ser místicos. Isso faz parte do equilíbrio espiritual. Homens de Deus, como Paulo, foram realmente intelectuais e místicos/poéticos.
Mas não podemos abandonar ou simplesmente jogar na vala comum dos artefatos históricos nossa herança teológica que sistematizou preciosas doutrinas acerca de Deus e seus atributos, de Cristo e sua pessoa, do Espírito Santo e seu ministério.
Nem toda sistematização é vulgar e despicienda. O fato de não haver muita sistematização nas Escrituras não quer dizer que isso seja repudiado. Trata-se apenas de um contexto em que tal não se fazia mister.
Ainda assim, à medida que havia necessidade, as confissões eram utilizadas desde os tempos primevos da Bíblia. Dt 6.4,5 é um exemplo de um texto que se tornou uma confissão de fé para o povo se ver livre do politeísmo. Os dez mandamentos são uma forma de sistematizar de forma lógica a conduta moral do povo.
O texto de Paulo em Rm 10.9 é conhecido como a mais antiga confissão de fé da igreja primitiva, provavelmente usada nos batismos.[12]
Após o período apostólico, a Igreja formulou o famoso credo apostólico que sintetiza a fé cristã primitiva. Em seguida vieram os credos de Atanásio, até chegar, no período da reforma, nas extensas confissões, como a de Westminster no século XVII, ensinadas pelos catecismos.
Nenhum cristão defenderá a inerrância e inspiração das confissões extrabíblicas, no entanto, se bem utilizadas consistirão em poderosas muralhas contra as heresias, inclusive contra a ortodoxia generosa.

10) Por que sou Bíblico
Por que sou bíblico?
À medida que leio os capítulos, a associação com a TR salta aos olhos. Coincidentemente, o mesmo problema que Teólogos Relacionais possuem com a Bíblia, McLaren possui: sua inspiração. A coincidência não pára, de forma que a mesma dificuldade de TRs com textos do Livro de Josué em confronto com os ensinos de Jesus, McLaren possui. Coincidência? Com certeza não.
Nesse ínterim, posso dizer sem equívoco: McLaren é um propagador da TR, mas de forma velada e sutil, preferindo ser sorrateiro.
Eu me considero Bíblico com “B” maiúsculo, como o homem com “H”. Para me distinguir de McLaren. Não no sentido arrogante e pedante. Mas com muita humildade e temor do Senhor, com vistas a manter as muralhas bem firmadas contra as heresias perniciosas e ortodoxias generosas, haja vista o poder destrutivo desses inimigos.
Nesse capítulo, poderia copiar e colar artigos e exposições sobre bibliologia, sobre a inerrância e autoridade das Escrituras.
Se se não defender a integral inspiração das Escrituras, esse livro chamado Bíblia será totalmente subjetivo e perderá seu premente valor de equipar o povo de Deus com a prática das boas obras.
Começa-se questionando algumas passagens para no final não sobrar nada de útil e inspirado por Deus. Ou se declara sua inspiração integral, ou se cairá no subjetivismo e por fim no ceticismo completo.
Nenhuma exegese sadia das Escrituras, quer aliancista, quer dispensacionalista, usaria textos bíblicos para justificar massacres atuais ou passados.
O contexto do livro de Josué visou livrar o povo de Israel da maldade e opressão cananita. Israel foi ao mesmo tempo abençoado com a conquista e ao mesmo tempo usado para punir povos totalmente depravados e abomináveis, cujos cultos e sacrifícios estavam imbuídos de prostituição e sangue de crianças, de sorte que não haveria outra forma senão o extermínio.
Tanto é que o próprio Deus avisou que a iniqüidade dos cananeus se completariam, então a nação eleita poderia invadir.
Esse contexto não denota a inferência proposta pela TR e por McLaren, de que Deus é relacional e precisou lidar da forma como podia, respeitando a liberdade e capacidade do indivíduo, não havendo outra forma.
Nada disso. Deus é soberano, e assim como conduziu animais irracionais até a arca, não teria o poder de mandar um espírito migratório nos cananeus e fazê-los ir para outros lugares desocupando-os daquela terra? Não poderia ter inundado Canaã e deixá-la desabitada para Israel?
O que fez era o que quis fazer, porque isso era seu plano!
No anexo desse trabalho transcrevo uma singela reflexão de minha autoria sobre a imprescindibilidade da revelação bíblica como Palavra normativa e atemporal de Deus.

11) Por que sou carismático/contemplativo/apostólico?
Por que sou carismático/contemplativo?
Acrescentei apostólico porque a base de minha experiência carismática/contemplativa é a doutrina apostólica. A Igreja do Senhor, fundada sobre a experiência e ministério do Espírito Santo (At 2), perseverava na doutrina dos apóstolos (At 2.42). Outra tradução é: se dedicavam ( προσκαρτεροῦντες ) implicando a idéia de continuidade e constante aplicação nos ensinos apostólicos, que como já dito alhures, não eram nada generosos.
Toda experiência carismático/contemplativa deve passar pelo crivo apostólico. A propósito, o próprio apóstolo Paulo – reinterpretado equivocadamente por alguns, digamos, generosos – teve experiências singulares com Deus, e precisou narrar tais experiências para rechaçar aqueles que não interpretavam-no a contento (2 Co 11 e 12). Este apóstolo forneceu as diretrizes e regulamentos doutrinários e litúrgicos para uma salutar e ordeira manifestação carismático/contemplativo.
Não obstante a experiência do autor – até plausível, tendo em vista a aridez e frieza de outros – sua base não é apostólica. Diferentemente do movimento pentecostal clássico que tem buscado supedâneo na teologia ortodoxa e até reformada, o autor prefere católicos e teólogos não bíblicos e não ortodoxos, em detrimento de eruditos espirituais que primaram pelas experiências sem prejuízo da ortodoxia.
Infelizmente o autor não tem mais afinidade com aquela teologia que produziu homens notáveis dos quais o mundo hodierno generoso também não seja digno: Withifield, Wesley, Edwards, Moody, etc.

12) Por que sou calvinista/fundamentalista?
Por que [não][13] sou calvinista/fundamentalista?
Ambos, eu e o autor, somos calvinistas/fundamentalistas. Somos iguais! Essa semelhança surreal só existe num mundo assaz generoso. Não, não! Realmente, nosso mundo não é e nunca será tão generoso assim. Graças a Deus.
As linhas delineadas pelo autor denotam a falta de generosidade para com os calvinistas/fundamentalistas. Me refiro à generosidade bíblica. O autor ataca essa vertente de forma peculiar, diferente de todos os outros capítulos. Por quê? Essa vertente é o espinho nas ilhargas do autor. Por isso, torna premente extirpar esse incômodo e empecilho à famigerada generosidade, que quer lançar suas raízes no cristianismo.
O autor não teceu qualquer refutação bíblica ao “determinismo” calvinista. Isso apenas revela que a ortodoxia generosa não é bíblica e tampouco calvinista/fundamentalista.
Essa reação anti-calvinista é sintomática. Pelo menos, noto isso no Brasil. A ortodoxia generosa não tolera o calvinismo. Sente náuseas desse título. Pois, conforme já salientado, essa ala do cristianismo procura imunizar a igreja contra as heresias[14].
O próprio autor reconheceu que esse capítulo não foi o mais generoso, mas sim mais divertido, cuja tradução correta seria virulento. E ainda utiliza um refrão semelhante ao da Dona Marta (será que ele a conhece?): relaxa...
Esse autor é hipócrita, isso sim. Jesus, que ensinou a amarmos uns aos outros disse isso aos fariseus. O autor apenas aparenta ser uma pessoa espiritual, que ama os inimigos, vê coisa boa em tudo. Mas na verdade, age assim com aqueles que não representam perigo à sua heresia.
O problema do autor é que ele tem uma revelação “tri-sensorial”: seletiva-subjetiva-subversiva.
1) Seletiva: tem contato seletivo com textos bíblicos que satisfazem sua tese filosófica e herética.
2) Subjetiva: a interpretação dos textos se baseia em suas percepções pessoais.
3) Subversiva: sente ojeriza pelo ortodoxo e histórico, se rebelando contra tudo que tem conotação ortodoxa e histórica. No afã de querer novidade, reputa o que tem mantido a fé cristã livre do sincretismo e heresia como arcaico.

13) Por que sou cristão evangélico?
Por que sou um (ana) batista/anglicano?
Os batistas e anglicanos deveriam dar uma lição em McLaren, não como aquela lição de Gideão nos homens de Sucote, obviamente.
Pelas palavras de McLaren acerca do batismo, não se importando com o que é correto ou errado, mas ao que tem alguma virtude, McLaren não se atém ao que é certo ou errado. Isso não lhe interessa. A relatividade e o pragmatismo permeiam seu raciocínio.
O raciocínio do autor sempre conduz à tolerância e ao intermediário. Por isso frisou os anglicanos como um meio termo entre católicos e protestantes.
Com efeito, o autor quer ser tratado com generosidade. Como não quer romper com o cristianismo, quer uma atitude complacente. Como ainda quer ser cristão à guisa da generosidade, o ponto intermediário cai como uma luva.
A TR tem trilhado esse mesmo caminho da tolerância seguindo a via intermediária, pensando que está no rumo certo, de forma que ainda se diz cristã.
Aqui é bom lembrar as palavras do velho – não arcaico – provérbio de Salomão – não como provérbio chinês, pois o de Salomão é inspirado pelo Espírito Santo – que declaram (14.12):

Há caminho que parece certo ao homem, mas no final conduz à morte.

Portanto as Escrituras não são tão generosas assim e sou da Igreja Cristã Evangélica e, assim como batistas e anglicanos bíblicos, não admiro essa postura complacente para com as heresias e doutrinas que não se coadunam com a sã doutrina apostólica.

14) Por que sou cristão evangélico?
Por que sou metodista?
McLaren é um escritor persuasivo e cativante. Ele poderia usar suas qualidades em prol da sã doutrina apostólica, das Sagradas Letras.
Por exemplo, eis um belo comentário dele:

“Ele não parou (como muitos dos avivamentos contemporâneos param) na experiência emocional (seguida de um pedido de oferta).” (p. 236).
Que Deus nos livre de esquecer a mão que se estende para trás. Caso contrário, nossa ortodoxia certamente perderá a sua ortopraxia (prática correta), o que a tornará mesquinha e também, por fim heterodoxa. (p. 241).

Não divirjo de McLaren nesse capítulo. Por suas palavras, mormente finais, a esperança de que ele abandone suas premissas e pressupostos antibíblicos renasce. Se não soubesse que ele fosse generoso, eu diria que ele foi ortodoxo.

15) Por que não sou católico?
Por que sou católico?
Não obstante todas as qualidades vislumbráveis no catolicismo – reitero que esse costume de ver virtudes em tudo é perigosíssimo; só falta o autor dizer: Por que sou satanista? E lisonjear a perseverança de satanás e seus súditos, que mesmo com um decreto de derrota, ainda insistem em fazer o mal. Quem já foi católico sabe a prisão e cegueira que há nessa pseudo-igreja. Não quero dizer que não haja salvos lá. Longe de mim proferir tal julgamento. Afirmo indubitavelmente que catolicismo não é igreja cristã bíblica.
O catolicismo incide no famigerado pecado da idolatria. Não é possível vislumbrar alguma virtude nisso.
No anexo desse trabalho transcrevo um singelo estudo de minha autoria sobre os dez mandamentos que trata da idolatria.

16) Por que sou verde/ortodoxo/não-generoso?
Por que sou verde?
Com efeito, as proposições do autor são pertinentes. Apego demasiado e inconsciente a certas doutrinas pode causar problemas e distorções. A igreja de Tessalônica atravessou esse tipo de problemas, visto que a certeza da iminência da volta de Cristo levou alguns a não trabalharem (1Tess 5.14).
Todavia, a própria Escritura Sagrada é apta tanto para ensinar quanto para corrigir (1Tm 3.16).
Portanto, qualquer calvinista ou dispensacionalista comprometido com a Palavra de Deus terá condições de cuidar da natureza como dádiva de Deus para nosso sustento e louvor do Criador.

17) Por que sou encarnacional não-generoso?
Por sou encarnacional?
Advertência: esse é o mais longo e o mais herético de todos os capítulos.
Porventura minha análise esteja equivocada, e tomara que esteja, mas a generosidade de McLaren foi tão generosa que quase abarcou o relativismo pluralista, não obstante as amiúdes ressalvas contra isso.
A começar pela proposta inicial do título, que seria: Por que sou um budista/muçulmano/hindu/judeu?
A idéia generosa de McLaren pode desembocar no lago da heresia, afluente da perdição.
Esse capítulo relembra a velha heresia de Marcião de que o Deus do AT não é o mesmo do NT. A TR segue a mesma trilha. Os textos da conquista de Canaã e da destruição da cultura cananéia não retratam o mesmo Deus do NT.
Fico pensando: como seria a vinda desse “jesus generoso”?
Após ler este trecho perdi a esperança de que McLaren pudesse se retratar:

Devo acrescentar, no entanto, que não creio que fazer discípulos seja o mesmo que fazer adeptos à religião cristã. Talvez seja aconselhável em muitas (não todas!) circunstâncias ajudar as pessoas a se tornarem seguidores de Jesus e permanecer dentro do seu contexto budista, hindu ou judaico. (p.287)

O mitte da pregação apostólica não é generoso, conquanto os apóstolos tenham contemplado de forma singular a encarnação. A pregação cristã sempre teve conotação exclusivista, ou seja, não coexiste com outras religiões. Uma singela análise das comunidades cristãs denota que as igrejas eram comunidades independentes formadas por pessoas outrora pagãs, judias, idólatras, etc.

18) Por que estou deprimido com a ortodoxia generosa e esperançoso com a resposta da igreja?
Por que estou deprimido e ainda esperançoso?
Concordo com McLaren: a Igreja precisa se arrepender e pedir perdão publicamente por seus erros.
No entanto, confesso minha tristeza com a ortodoxia generosa, como se tal fosse salutar e ensejasse a ortopraxia. Vejo – com lamento e tristeza – tanto em McLaren quanto no Gondim, autor do prefácio, um apego demasiado à ortopraxia em detrimento da ortodoxia, de sorte que a ortodoxia parece não produzir a ortopraxia, pelo contrário, é um empecilho.
Reconheço, outrossim, que há o apego exagerado à ortodoxia em detrimento da ortopraxia. Entretanto, ambas devem coexistir, uma cooperando e contribuindo com a outra.
Por exemplo, sem uma compreensão exata da doutrina da justificação, a morte de Cristo se assemelha à morte de Tiradentes. Sem uma compreensão da divindade de Cristo, a pessoa de Cristo se assemelha à de Buda. Enfim, sem uma ortodoxia, nosso Senhor Jesus, o Messias, se assemelha aos messias humanos.
Assim, não estranhamos quando alguém que se diz cristão tece explicações do porquê é budista, hinduista, e judeu, etc.

19) Por que não sou emergente?
Por que sou emergente?
Os pontos de contatos do livro com a TR são muitos. Há muitas expressões que flertam com a TR. Por exemplo: “Deus não como um potentado tentando manter servos sob controle, na condição de eterna infância, mas como um pai nos convidando a crescer e amadurecer”, “negócio arriscado” (p. 311, 312).
Essas expressões são chaves para a TR. Comumente frisam que a criação e o envolvimento de Deus com a humanidade é um negócio arriscado, porquanto o futuro não está definido, de forma que nós construímos o futuro junto com Deus, num relacionamento de amor. Seria romântico se não fosse herético.
Mais uma vez McLaren sugere que a igreja deve buscar coisas novas, “novas formas de espiritualidade” (p. 314), libertando-se dos anéis inferiores do pecado, de sorte que critica a teologia sistemática como anti-emergente.
Não creio nisso, a única coisa nova que quero buscar é a novidade de vida. No mais quero ser lembrado pelo Espírito Santo das velhas e sempre atuais palavras registradas nas Escrituras Sagradas e oportunamente sistematizadas.
Nossa missão é reabrir os poços pertencentes aos nossos ascendentes apostólicos que foram tapados pelos hereges, a fim de sermos dessedentados.

20) Por que estou inacabado?
Por que estou inacabado?
Enquanto a aventura da ortodoxia generosa estiver inacabada, eu também estarei inacabado no meu papel de ensinar a Igreja a conhecer – pelo ensino e pelas obras, pela ortodoxia e pela ortopraxia – o Deus verdadeiro, o Senhor verdadeiro, e gozar a presença do Espírito verdadeiro de acordo com as Sagradas Escrituras.

ANEXO 1
1) A revelação escrita de Deus

A) O monoteísmo (Dt 6.4; Sl 19.1; Rm 1.20)
A natureza revela um único Deus. Ainda que se admita a existência de outros deuses, sempre haverá um Deus que domina os demais, por ser o criador ou superior aos demais.
Mesmo o politeísmo implica um monoteísmo sui generis (especial), à medida que um deus será criador ou dominador dos demais, ou ao menos coexistirá com os demais, formando uma unidade.
Seja o que for, hoje para se descobrir, conhecer e se relacionar com o verdadeiro Deus há a necessidade indispensável de se ter uma revelação escrita, ou um registro desse Deus; caso contrário, cada um poderá formular um conceito acerca de Deus, que não será a revelação verdadeira de Deus.
Visto que Deus, o único Criador, pode ser percebido pela sua criação, as criaturas não conseguiriam conhecê-lo profundamente, se Ele não se revelar.

B) A revelação (Hb 1.1)
O Senhor Deus, Todo-Poderoso, se revelou ao homem. Escolheu se revelar originariamente ou diretamente a algumas pessoas. Por exemplo: Adão, Noé, Abraão, Moisés, os Profetas, os Apóstolos. Esse tipo de revelação pode ser chamado de revelação originária.
Essa revelação direta foi temporária e específica, de modo que hoje não há mais esse tipo de revelação. Agora, cabe à igreja fazer discípulos anunciando o evangelho segundo a doutrina apostólica (Mt 28.19).

C) A inspiração (2Tm 3.16 e 2Pe 1.21)
Além de se revelar diretamente a algumas pessoas, o Senhor Deus dotou alguns da capacidade de falar em nome do Senhor, consistindo em verdadeiros porta-vozes do Senhor, chamado de profetas. Após a revelação direta, Deus capacitou essas pessoas a transmitirem aos outros essa revelação. Podemos chamar essa revelação de secundária ou derivada.
Assim, a revelação de Deus é transmitida por seus profetas mediante a tradição oral ou a transmissão escrita dessa revelação.
Os profetas eram inspirados por Deus, movidos pelo Espírito Santo para transmitirem a revelação. A expressão θεόπνευστος literalmente significa “respirado por Deus”. Embora não haja conotação de um ditado divino, a origem divina é claramente denotada no texto, de forma que as Escrituras advieram de Deus, que, por sua vez, dotou os homens para proceder ao devido registro. Assim, as Escrituras consistem num produto divino-humano. Divino porque Deus é o autor que capitaneou a produção das Escrituras. Humano porque os homens receberam o dom de Deus para registrarem a revelação, de sorte que as faculdades mentais e espirituais dos homens não foram suprimidas, mas cooperaram com a produção da obra.
Os demais atributos da revelação, a saber, inerrância e autoridade, são consectários da expressão inspiração, visto que, é inadmissível a coexistência de falibilidade e inexistência de autoridade com inspiração divina.

D) O registro da revelação inspirada (Is 30.8)
Se as revelações originárias não forem registradas por aqueles que receberam a inspiração de Deus para transmiti-las, a originalidade e pureza da mensagem correm sérios riscos de sofrerem diversas deturpações, distorções, interpolações, supressões, etc.. Enfim, será uma questão de tempo para que se perca o conteúdo original da mensagem.
Portanto, os escritos e registros dessas revelações divinas visam preservar a originalidade e autenticidade da mensagem.
É importante ressalvar que nem todos os escritos que haviam no meio do povo de Israel versavam sobre a mensagem revelada por Deus. Por isso, houve uma seleção de livros sagrados.

2- A seleção dos livros do AT
Não temos dúvida de que o próprio Espírito Santo orientou a seleção e preservação dos livros sagrados, ou canônicos, a fim de garantir a transmissão da genuína mensagem e conhecimento acerca de Deus.
A seleção seguiu alguns passos, ou critério.

A- Os livros sagrados possuíam autoridade: normatizavam e ensinavam o povo de modo absoluto, sem dúvidas ou equívocos. E manifestavam a revelação de Deus na história do povo escolhido por Deus.

B- Os livros sagrados eram dignos de confiança, pois suas palavras eram veradeiras.

C- Os livros sagrados foram aceitos e reconhecidos pelo povo de Deus, como revelação absoluta de Deus.

D) Os livros sagrados foram preservados, ao passo que os demais foram destruídos ou rejeitados como espúrios.

ANEXO 2
1) Primeiro mandamento
Não terás outros deuses diante de mim.
A proibição contida nos dez mandamentos é absoluta e enfática, dirigida a todos indistintamente.
Diante da presença do Senhor não poderia haver nenhum outro deus. O Senhor Deus se manifestou como o único Deus do povo.

7A) monoteísmo
Esse primeiro mandamento introduz o monoteísmo, contrapondo-se claramente contra o politeísmo, cuja prática era habitual no Egito, de forma que o povo de Israel sabia bem sobre a existência de diversas divindades no Egito.
No entanto, o Senhor deixou claro que todas as demais divindades eram estranhas a Deus, e deveriam ser banidas do meio povo, haja vista a total incompatibilidade de coexistência entre o Deus do povo e as outras divindades.
Quem sacrificasse a outros deuses era punido com a morte (Ex 22.20).
O primeiro mandamento visa banir qualquer forma de sincretismo religioso ou ecumenismo. A revelação do Senhor é taxativamente exclusivista, porquanto não admite a inclusão de outras divindades, seja qual for sua origem, natureza, caráter ou criação.
Esse escopo exclusivista decorre da pessoalidade e individualidade do Senhor. Sendo Deus um ser criador com seus próprios atributos, é obvio que haja portanto uma única revelação desse Deus. Se se admitir vários deuses e várias revelações, então não haverá um padrão e um conceito absoluto do Senhor. Logo todos os deuses serão verdadeiros e todos poderão dizer que crêem no verdadeiro Deus. Assim, à medida que as pessoas admitem a possibilidade de se crer em um Deus, contanto que se creia nele, independente de uma revelação única, absoluta e clara, ou seja bíblica, naturalmente, estão admitindo o politeísmo.
Porquanto, se se pode acreditar em um deus da maneira que conceberem-no, isso significa dizer que há vários deuses, ou ao menos que esse deus é um ser sem característica e personalidade própria, adaptando-se à mente de cada indivíduo. Isso torna, obviamente, deus em um ser igual ou inferior ao homem. Pois se nós somos uma única pessoa, tendo um nome, uma qualificação específica e absoluta, ou seja, eu me chamo Tales, sou casado, tenho dois filhos, por enquanto, etc., quanto mais o Criador terá suas características que o individualizará como pessoa.
Portanto, o Deus pessoal existe, e ele escolhe a maneira pela qual ele se revelará aos homens, de forma que compete a nós tão-somente crer.
À vista disso, depreende-se indubitavelmente que nossa sociedade está imbuída de politeísmo.
O politeísmo não consegue explicar a criação, pois qual Deus criou qual. Pois pelo princípio natural da hierarquia sempre haverá um maior que o outro, e um antecessor do outro. Assim sendo, o politeísmo desembocará logicamente no monoteísmo. Entretanto, sabe-se que a depravação humana impede tal percepção, de forma que sempre tende a se afastar do monoteísmo.
Diante da existência do único e supremo Criador, e escolhendo se revelar ao povo de maneira clara e absoluta, o Senhor convoca o povo a ter comunhão exclusiva com o Senhor.

7B) outros deuses
O Senhor Jesus disse que não haveria possibilidade de se servir dois senhores, pois ou se agradaria um e aborreceria outro, ou vice-versa (Mt 6.24).
Todo aquele que é arrancado do império das trevas tem de conhecer esse mandamento, a fim de saber que somente Cristo deve ocupar seu coração, ou seja, como proclamou a reforma protestante: "somente Cristo" (em latim solus Christos).
A vida com Cristo não admite a presença de outras divindades ou deuses. Por causa desse conceito atinente a esse mandamento, muitos cristãos do primeiro século foram queimados vivos, torturados, decapitados pelo império romano, pois rejeitavam qualquer tipo de adoração que não fosse única e exclusivamente a Cristo. Até hoje cristãos estão sendo mortos, sobretudo nos países muçulmanos por causa da adoração exclusiva a Cristo Jesus.
Nossa sociedade ocidental, embora não seja como os radicais islâmicos, acha uma loucura o conceito bíblico de que há um único e absoluto Senhor Jesus Cristo, com quem mantemos comunhão. Para essa sociedade, o importante é buscar um deus - e não o único e verdadeiro Deus - seja qual for o nome, natureza e origem desse deus.
Por isso acreditam que o deus do muçulmano, do budismo, do espiritismo, catolicismo sejam todos iguais, mesmo que um infante consiga distinguir as diferenças. Portanto essa idéia é muito pueril.
As palavras de Jesus em Mt 6.24 ensinam que certos objetos e coisas podem se divinizar, tornado-se deuses. Jesus comparou o dinheiro a um deus. O apóstolo Paulo também afirmou que a avareza era um ídolo. Além do dinheiro, hoje há outros deuses nesse mundo. Podemos citar a prostituição, fornicação e qualquer perversão sexual, os vícios, os prazeres desse mundo.
A igreja do Senhor deve estar vigilante para que estes deuses não ocupem o lugar de Cristo Jesus, nosso Senhor.
Finalizando, esse mandamento ressalta a necessidade de se ter comunhão exclusiva com o único Senhor Deus que libertou o povo da escravidão do Egito, e nos libertou da escravidão do pecado.

“Porque todos os povos andam, cada um em nome do seu deus; mas, quanto a nós, andaremos em o nome do Senhor nosso Deus, paro todo o sempre.” (Mq 4.5)

2) Segundo mandamento
Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.
Mesmo que esse mandamento seja um desdobramento do primeiro, não é pertinente considerá-lo apenas parte do primeiro, dividindo, por conseguinte, o último em dois.
Parece ser mais coerente tratá-lo como segundo mandamento, porque o primeiro fala muito sobre comunhão exclusiva com o único e verdadeiro Senhor Deus, vedando a concepção de qualquer outra divindade, de forma que o povo não poderia ter em mente qualquer outra divindade. No entanto, o segundo versa sobre a adoração a esse Deus, ou seja, o povo não poderia representar qualquer outra divindade.
Assim, o primeiro mandamento veda a idealização de outra divindade, ao passo que o segundo proíbe a representação dessa divindade. Ambos proíbem a idolatria, mas esse mandamento veda a representação de qualquer divindade, o envolvimento ritual, litúrgico ou cultual com qualquer pseudodivindade.
Primeiro, Deus proíbe a criação de qualquer forma de representação, símbolo, ícone ou figura que possa representar alguma divindade. Ademais, esse mandamento é mais abrangente que o primeiro, pois se proíbe a criação de alguma representação, símbolo, ícone ou figura do próprio Deus verdadeiro.
Segundo, o Senhor não permite o culto e adoração a essas invenções humanas.
Nossa adoração e culto advêm da vontade de Deus, ou seja, o Deus que tirou o povo da terra do Egito é que estabelecerá a maneira pela qual o povo servi-lo-á.
Toda forma de adoração ao Senhor receberia a regulamentação do Senhor, de forma que o povo estaria proibido de fazer qualquer inovação. E, de fato, isso foi feito, pois Deus projetou o modelo do tabernáculo nos mínimos detalhes, relativamente à medida do tabernáculo, os utensílios, materiais, etc. Moisés deveria ter muito cuidado para fazer segundo o modelo apresentado por Deus (Ex 26.30).
Deus procura adoradores que o adorem em Espírito e em verdade (Jo 4.23,24). Como ele não apareceu em nenhuma forma (Dt 4.12,13), o povo não poderia fazer algo que o representasse.
Devemos ter cuidado com as inovações que são criadas em nossos cultos. O Senhor deve receber toda a glória (soli Deo gloria), porque ele não a divide com ninguém (Is 42.8). Portanto, tomemos muito cuidado com alguns estilos de culto e adoração que não encontram nenhum respaldo bíblico.
Por que Deus proibiu a criação de algum objeto de culto? Naturalmente, esse objeto em vez de auxiliar o povo na adoração desviaria a atenção do povo, e concorreria com a glória do Deus vivo.
Assim sendo, em nossos cultos Cristo Jesus deve receber toda a primazia.
A fim de reforçar a absoluta proibição, o Senhor fala sobre o seu caráter. O povo haveria de lembrar que o Senhor é zeloso, e esse zelo inclui tanto o castigo quanto a misericórdia.
Zelo (@¡p¢W) significa no original hebraico ciúmes, paixão. Essa palavra é muito utilizada no relacionamento conjugal, ou seja, o zelo do marido para com a esposa. Não se trata de ciúmes doentio e pecaminoso, mas do zelo que faz o homem se dedicar exclusivamente a sua mulher, não tolerando qualquer relacionamento extraconjugal.
Dessa forma, Deus se revela ao povo como rei, senhor e marido, de modo que qualquer traição ou rebeldia seria justamente punida, ao passo que a misericórdia se manifestaria aos fiéis, leais e obedientes à aliança.
Portanto, a violação desse mandamento acarretaria o castigo do Senhor, pois se equivaleria ao adultério espiritual. Aliás, os profetas denunciaram a idolatria como adultério (Ez 16). A obediência a esse mandamento atrairia a misericórdia do Senhor.
[1] Benvi
[2] Poderia tecer vasta digressão sobre isso, mas o escopo desse trabalho não permite. Resta citar o livro de Levíticos. Esse livro traça detalhadamente a forma de culto da nação eleita, de sorte que não havia espaço e tampouco permissão para sincretismos.
[3] No segundo anexo transcrevi um estudo sobre o monoteísmo e idolatria versando sobre a exclusividade da fé. Trata-se de um trecho do singelo estudo sobre os dez mandamentos.
[4] Cerintiano, e não corinthiano, pois cristão corinthiano é admissível e recomendável.
[5] Veja: LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. ed. rev., São Paulo: Hagnos, 2003 p. 184-207
[6]http://www.mackenzie.br/fileadmin/Mantenedora/CPAJ/revista/VOLUME_XII__2007__1/resenha_filipe.pdf
[7] Benvi
[8] MEISTER, Mauro. Apostila de Teologia Bíblica. Mackenzie, 2008.
[9] Capítulo 3 do Livro Criação e Consumação, cuja resenha foi feita pelo Professor Mauro Meister na aula virtual de Teologia Bíblica do Mackenzie.
[10] É bom evitar citar o apóstolo Paulo, pois o autor já sinalizou uma possível discrepância de pensamento entre este e Jesus.
[11] Quiçá a próxima novidade será o Paulo histórico.
[12] Conferir comentário da Bíblia de Estudo Almeida e Benvi.
[13] Esse advérbio não consta no original, mas trata-se de uma glossa muito inspirada e elucidativa, que não vislumbrou outra opção senão incluí-la.
[14] Não sendo generoso para com o Professor Carlos Osvaldo Pinto, mas por convicção, reconheço que essa ala também não possui o monopólio da verdade. Portanto, devo fazer menção aqui ao plausível trabalho apologético realizado pela ala não-calvinista e até arminiana, que também é fundamentalista. E defendo uma postura generosa entre essas vertentes ortodoxas do cristianismo.

6 comentários:

Paulo Silvano disse...

Caro Tales,
Que bom que vc tambem está blogando. Pô! eu gosto tanto do Gondim (que é cristão corintiano)e do Brian McLaren (o defeito dele -pra valer, se confirmado- é que parece ser palmeirense: "Por que sou verde/ortodoxo/não-generoso? Por que sou verde?").
Do Brian McLaren lí o Ortodoxia Generosa, até a metade, e um pouco do A Mensagem Secreta de Jesus, devo retomar a leitura dos dois em breve.
Gostei do seu texto, não necessariamente por concordar majoritariamente com a sua crítica, mas, sobretudo por seu empenho na elaboração de um artigo que avalia uma obra com considerável densidade.
Eu não acho que McLaren apenas flerta com a TR (Taxa Referencial de Juros); ele está é atolado até o pecoço nela.
O que estranhei - eu que ando não estranhando muito as coisas estranhas - foi essa de que Deus se arrepende de "mentirinha".

No mais, valeu! Continue mandando bem com as suas reflexões. Continuarei passando por aqui para apreciar os seus textos.

Um abraço para vc e família
Paulo Silvano

Paulo Silvano disse...

Meu caro amigo Tales,
Talvez você já o conheça, mas acho oportuno compartilhar acerca de um articulista da CPAD chamado Silas Daniel, do blog Verba Volant (http://silasdaniel.blogspot.com/ ). Ele é fundamentalista e bastante alinhado com a cosmovisão calvinista. Recentemente escreveu um livro intitulado A Sedução das Novas Teologias, cuja arte da capa é quase um plágio da capa do Ortodoxia Generosa do McLaren .

Voltando ao interessante tema da sua postagem, penso que podemos espernear o quanto quisermos, mas a igreja emergente, sucedânea da igreja moderna (que nalgum momento também foi emergente e nos cativou) é inevitável, pois, queiramos ou não, pode ser uma expressão do Evangelho no contexto da pós-modernidade. Se nós não formos afetados por ela (o que não acredito), certamente os nossos filhos serão.
Como todo profeta, os pecadores, sujeitos às mesmas paixões que nós e os outros profetas da Bíblia sofreram, Gondim, McLaren, Dan Kimball, Rob Bell, Ed René e outros arautos do reino de Deus no mundo pós-cristão, estão à frente do seu tempo e, por isso, nem sempre será fácil entendê-los.
Se a igreja católica, mesmo considerando que a imprensa era ainda insipiente, não conseguiu calar Lutero e os outros reformadores (que inauguravam a igreja emergente de então), seria muita pretensão nossa achar que, na era da avançadíssima tecnologia da informação, vamos, ao menos, minimizar o avanço da igreja emergente. Ledo engano.

Igreja institucionalizada e teologia sempre andaram a reboque da história e não será diferente agora. Sempre que chega a “plenitude dos tempos”, a Graça salvadora de Jesus se manifesta multiformemente e abunda onde o pecado superabunda.
Inegavelmente a era da teologização preponderantemente sistematizada está dando lugar a uma leitura da Bíblia com forte ênfase na teologia bíblica. Isso está incomodand e, certamente, os crentes e teólogos tradicionais, que só conseguem assumir que a caminhada da igreja é caminhada exclusivamente escatológica, terão sérias dificuldades.

Enfatizo sempre que o mero apologismo (prefiro polemismo) nunca resolveu - e nunca vai resolver nada, absolutamente nada - no tocante ao avanço das “heresias”(haíresis, enquanto escolha) como é o caso, por exemplo, da igreja emergente. Pelo contrário, vamos com o nosso mero apologismo ajudá-las a se instalarem mais rapidamente. (A propósito, leia o recente artigo da Folha de SP sobre a chegada de uma vertente da igreja emergente ao Brasil: http://www1.folha.uol.com.br/revista/rf1101200905.htm )
Tão verdade é, que o exemplo mais claro dessa minha ênfase é o caso da Universal do Reino de Deus e da Internacional da Graça que, quanto mais combatidas, mais sedimentadas se tornaram. Veja agora essa tal de Mundial do Poder de Deus, está acontecendo o mesmo.

Penso que o foco deve ser outro. As pedras estão clamando e a igreja moderna, reformada ou não, tradicional ou pentecostal, que não consegue responder mais as necessidades espirituais do homem no mundo moderno, precisa olhar para si mesma, parar de só jogar pedra e perceber o próprio telhado de vidro. Carece descobrir onde caiu, abandonando o discurso triunfalista, mesmo que implique na revisão de algumas das “suas clausulas pétreas”.
Sei que esse assunto é pano para muita manga, mas, resumindo, se não conseguirmos fazer a leitura correta do nosso tempo, o nosso destino será o mesmo de muitas igrejas da Europa que estão esperando apenas os irmãos velhinhos morrerem para, definitivamente fecharem as portas e venderem o templo. Do jeito que estamos tratando a coisa, somente fazendo discurso apologético, inevitavelmente seremos vítimas da mesma síndrome. Aí colocaremos a culpa nos teólogos liberais e neoliberais, o que, aí sim! É um assinte a soberania de Deus.

Acho que está na hora de fazermos o que sugere o Isaías Lobão (salvo engano, um professor calvinista), no seu blog, na postagem “Disputatio Theologica” http://isaiaslobao.blogspot.com/2008/11/disputatio-theologica.html

Um abraço fraterno
Paulo Silvano

Alex Carrari disse...

Caro Tales,

Sua análise do livro do McLaren enquanto discurso apologético saudosista está absolutamente correto e polidamente apreciável.A questão é que ignorar a história numa análise como esta é um erro crasso, pois, toda teologia se faz em conexão com o seu tempo, e que toda a teologia é fruto do seu tempo. Daí o erro em não dialogar com a história que por sua vez redunda em não compreender o nosso tempo.Evocar o passado neste caso é inevitável como se o habitat seguro do labor teológico foi o da reforma, dando de ombros para as causas históricas da reforma, negando como isso que não foram somente interesses espirituais que moveram Lutero e Calvino - não desmerecendo o que eles fizeram, senão claro, provavelmente não estaríamos aqui. Sendo esta uma atitude inocente de quem se presta a ser teólogo, pois teologia se faz em liga com a vida, e não somente elaborando defesas exaustivas, a meu ver com uma dose de pendantismo, sem sequer levar em conta outros campos da reflexão que nos servem de instrumento de análise. Assim dando a impressão de que a Bíblia caiu do céu toda já corrigida, com suas divisões e auto interpretada. Sugiro meu caro, que você use as lentes do Reino e dê um descanço às da teologia sistemática. Também sugiro que você leia um pouco de poesia, começando por T.S.Eliot depois João Cabral de Melo Neto, Neruda e José Chagas. Leia um bom romance do Dickens, Dostoiévski, Victor Hugo, Hemingway,Graciliano Ramos e tantos outros que podem te ajudar a ver a vida e compreender outras cabeças, o seu tempo de uma forma menos narcisista e rígida. Ah, voltando a falar do McLaren, ele é um dos caras mais lúcidos do nosso tempo, o problema é que ele não fala de regras e isso nos incomoda, porque cumprir regras nos dá segurança e senso de exclusivismo, o que me torna melhor do que meus semelhantes. Termino perguntando: Será que se você encontrasse com Jesus hoje, você o reconheceria? Quando você o visse tendo uma mulher de vida moral questionável jogada aos seus pés, qual seria o seu julgamento? Quando você ficasse sabendo que ele foi jantar na casa do maior pilantra do seu bairro e que de quebra chamou o Tião do bar pra ir com ele, o que você acharia? Dependendo da sua resposta tenho uma última pergunta: Jesus seria cristão?

Até mais,

Alex

Anônimo disse...

Tem ter SACO para ler essas bobagens calvinistas. Eu não tenho. Por isso essa é a primeira e última vez que entro nessa porcaria!!!!!!!!

Aprenda fazer blog, seu tapado. Use textos menores, babaca!!!!!

Tales Paranahiba disse...

Alex Carrari

Obrigado pela postagem.

É verdade, faltou uma análise da história. Mas, analisando a história, minha tese será corroborada, pois a prosperidade e relevância da Igreja sempre estiveram atreladas à fidelidade às Sagradas Escrituras. Fidelidade na exposição e observância.

Preciso ler outros escritores. Mas a limitação do tempo, família, trabalho, cursos, e as prioridades de conhecer melhor as Escrituras, o texto original, seu contexto, expondo-os, não permite por ora.

Contudo, para o reino, a Lei do Senhor é perfeita e suficiente, não desprezando outras fontes do saber.

Reitero que a questão é de pressuposto: qual é a nossa regra de fé infalível acerca de Cristo e seus ensinamentos? Para mim é a Bíblia.

E McLaren não se preocupa em investigar as Escrituras.

A paz
Tales

Tales Paranahiba disse...

Pensei em excluir o comentário do Anônimo, mas acho pertinente deixar aí seus comentários para exemplo de como não fazer comentário.

Em vez de comentar - ele já disse que não tem saco - ataca-me.

Espero que possa voltar, rever seu comentário, e tecer suas divergências.

É mais bonito, sensato, e, sobretudo, cristão. O que o anônimo parece não ser.

A paz
TAles