quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Divindade de Jesus Cristo

A TRADUÇÃO DE Jo 1.1

Texto grego

Ἐν ἀρχῇ ἦν λόγος, καὶ λόγος ἦν πρὸς τὸν θεόν, καὶ θεὸς ἦν λόγος.

Transliteração
En archei en hó lógos, kai hó lógos en prós tón theón, kaí theos en hó logos

Possibilidades de tradução segundo as regras gramaticais gregas
No princípio era o verbo, e o verbo era com o Deus, e o verbo era Deus.

No princípio era o verbo, e o verbo era com o Deus, e o verbo era divino.

Explicação
A primeira possibilidade de tradução declara que o verbo era Deus, ou seja, o sujeito da frase, o verbo, recebe uma predicação, de forma que Deus tem função predicativa, denotanto a qualidade ou característica do verbo.

A ausência do artigo definido, que no caso seria hó (gr. ), é proposital. Pois se João colocasse o artigo, então a palavra seria o próprio Deus. Isso seria o mesmo que admitir que Deus é um e se manifesta em três pessoas. A propósito, essa foi uma heresia acerca de Deus, cujo nome era Modalismo ou Sabelianismo, datada do século três da era cristã.

Portanto, a presença do artigo não distinguiria o verbo de Deus, mas o confundiria com o próprio Deus. Por isso, João não colocou o artigo definido.

Essa tradução, conta com o testemunho dos mais proeminentes pais da Igreja Cristã dos primeiros séculos, logo após a morte dos apóstolos. Vejamos os pais da Igreja que mencionaram o texto de João de acordo com a primeira possibilidade: Clemente de Alexandria, Cipriano, Hipollitus, Irineu, Orígenes, Tertuliano. Tais citações podem ser conferidas no site www.laparola.net/greco. Segue em anexo a tradução em inglês das respectivas citações.

Destarte, não há razões gramaticais e históricas para rechaçar a primeira possibilidade de tradução. Se os pais da Igreja traduziram o texto segundo a primeira possibilidade, sim, eles que viveram bem próximos do período apostólico, isto é, no séc. II e III d.C, e eram familiarizados com o grego, pois liam, falavam e traduziam a língua, quem somos nós, oriundos de uma geração bem distante desses ilustres homens, para discordar da tradução deles? Caso houvesse razões plausíveis para se discordar faríamos sem hesito. Mas como não há, haja vista a clareza da regra gramatical grega, fiquemos com essa primeira possibilidade.

Ainda assim, a segunda possibilidade é bastante plausível e se coaduna com a primeira. Porquanto, a segunda tradução afirma que o verbo era divino. Possuindo características e natureza divina, mas sendo distinto do próprio Deus; assim manteria a personalidade distinta do próprio Deus, embora também fosse divino, ou fosse Deus.

Todavia, essa segunda possibilidade, conquanto esteja de acordo com as regras da gramática grega, não possuem testemunho dos proeminentes pais da Igreja. Assim, ainda é melhor permanecer com a primeira possibilidade de tradução, lançando mão somente da idéia transmitida pela segunda possibilidade, ou seja, o verbo tem natureza, personalidade e característica divina.

Sobre a tradução da Torre de Vigia
A tradução das testemunhas de Jeová traduzem a parte final do texto de Jo 1.1 assim: “e a palvra era um Deus.”

Primeiramente, vale lembrar que se desconhece na história da Igreja alguém que tenha traduzido dessa maneira o texto. Nenhum gramático grego, por mais liberal que seja, mesmo não sendo cristão, traduziria o texto dessa maneira. A torre de vigia fez uma interpretação do texto, e não tradução. Por isso não podemos chamar isso de tradução. Vejamos o por quê:

É verdade que na gramática grega não existe o artigo indefinido “um”. De forma que, a ausência do artigo definido, no caso hó, permitiria a inserção do pronome indefinido.

Assim, a ausência do artigo definido não implica inexoravelmente inclusão do artigo indefinido. Em certos casos, dado que haja várias possibilidades de tradução do grego, só será possível identificar o sentido do texto apenas pelo seu contexto. O contexto afastará certas formas de tradução espúrias e sem respaldo técnico.

Não se pode substituir automaticamente a ausência do artigo definido por um artigo indefinido. Isso viola as regras gramaticais. Se toda vez que a palavra Deus não fosse precedida pelo artigo definido, teríamos um panteão não identificável de deuses na Bíblia.

A propósito, a interpretação dada ao texto de Jo 1.1 pelas TJ’s cria um problema inexplicável e inimaginável na mente dos apóstolos: a existência de dois deuses. Um maior e um menor. Isso está mais parecido com politeísmo grego e paganismo. Por conseguinte, haveria sim um henoteísmo, isto é, a crença em um único Deus, admitindo a existência de outros. A Bíblia jamais afirmou a existência de um deus criando outro. Nas Escrituras do VT e do NT há um só Deus. Assim, tem-se de harmonizar esse princípio da unidade de Deus, com a divindade eterna de Cristo. Ao passo que a melhor maneira de harmonizar essa aparente contradição não é criando deuses menores, como fez as TJ’s. Então, entra em cena a conhecida doutrina da trindade que tenta explicar a tri-unidade de Deus, posto que seja impossível aos homens explicar o Deus infinito, entretanto, até hoje essa doutrina foi a que conseguiu se aproximar mais dos textos bíblicos.

Portanto, tal interpretação espúria do texto não merece nem ser cogitada como possibilidade de tradução. Aliás, gostaríamos de conhecer algumas autoridades em grego que defendesse tal possibilidade, e quais são os argumentos.
Se João quisesse realmente dizer que o verbo era mais um deus, poderia muito bem ter utilizado o numeral cardinal um , eivs, miva, en . Como foi feito em outros textos: 1Tm 2.5; Ef 4.4; Rm 3.30.

É oportuno citar que quando João discorreu acerca do verbo, ele estava usando um conceito de Filo de Alexandria, um filósofo judeu. Filo fez alusão ao verbo, a palavra, sem ao menos conhecer o Messias. Segundo Filo, Deus se relacionava com a humanidade por meio do verbo, que estava nele. Note que em nenhum momento Filo dissocia a natureza do verbo, como tendo uma qualidade divina derivada ou de segunda categoria.

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